SOLITÁRIA III, The Walking Dead

02) O parto sangrento

   Estava deitada em minha cama dura feito pedra me perguntando se essa seria a pior parte de estar preso e pagando por seus crimes, ter que dormir em um lugar tão frio quanto o chão, se ao menos tivesse um travesseiro macio e uma coberta quente como na fazenda...

— Ajuda! É o Hershel! — Rick gritou desesperado.

Pulei de onde estava e corri até onde vinham os gritos, uma cela cercada por todos, fiquei boquiaberta quando vi Hershel sem parte de sua perna espirrando sangue no lugar, meu estômago revirou.

— Oh não... — sussurrei para mim, Hershel não, ele não podia morrer também.

Senti algo subir pela minha garganta mas segurei, acho que nunca em minha vida tinha visto tanto sangue mesmo tendo que enfrentar os mortos, deixei que o ajudassem pois não podia fazer nada a respeito e fui me sentar nas escadas, ouvi vozes vindo de fora e Carl trancou o bloco que estávamos por segurança e sentou-se ao meu lado. Depois de um tempo as vozes se acalmaram, Rick chegou com T-dog ambos carregando comida.

— Acha que vai funcionar? — perguntei ao Carl.

— O que?

— Esta prisão, para nós...

— Faremos funcionar. — respondeu e eu concordei — As coisas não tendem a dar certo conosco né?

Ambos rimos.

— Porque estamos rindo? Isso não é certo — perguntei mas isso só fortaleceu nossas risadas.

Parei e percebi que estava o encarando nos olhos, desviei o olhar rapidamente nossas bochechas coraram em sincronia, Carl levantou.

— Pode organizar a comida para mim? — perguntou, assenti.

— Aonde você vai? — perguntei e levantei-me.

— Alguém precisa pegar bandagens para o Hershel.

Carl saiu pela porta que antes estava trancada de nosso bloco e então sumiu por algum tempo, depois voltou com uma bolsa cheia de bandagens e medicamentos. Aonde conseguiu tudo isso? Lori ficou brava por ele ter nos deixado, era perigoso ir sozinho, mesmo que ter arrumado as coisas fosse ajudar Hershel.

Maggie e Beth estavam de olhos no pai por ter perdido muito sangue e agora estar deitado se recuperando, Carl e eu fomos ficar de olho também e ele parou de respirar de repente, Beth entrou em pânico e começou a chorar, ela foi atrás de Lori para ajudá-la a trazer ele de volta, senti dor de barriga ao ver a cena e segurei a manga da camiseta de Carl que viu isso como sinal para puxar sua pistola do coldre e apontar para Hershel.

Se ele virasse, não podia deixar que machucasse sua mãe grávida ou qualquer outra pessoa naquela cela. Felizmente o velho voltou a respirar e nós nos acalmamos novamente, Rick chegou bem a ponto de ver Hershel abrir os olhos levemente, sorri sentindo um pequeno lampejo de esperança, era Hershel quem devia fazer o parto do bebê de Lori e ele era uma pessoa muito boa para morrer, foi a primeira noite em que dormi sem reclamar da cama, estava feliz demais para notar qualquer incômodo.

Assim que o Sol iluminou as janelas do bloco vi Rick sair com Glenn, Maggie, Carol, T-dog e Daryl

Levantei-me e tive que presenciar Carl novamente se jogando para Beth como se tivesse a sua idade, senti meu estômago queimar e saí pisando forte no chão sem nem perceber.

— Eu vi isso — Lori disse e soltou uma risada, parei.

— O que você viu? — perguntei, talvez tivesse notado Carl e Beth.

Ela riu novamente fazendo-me corar e foi buscar muletas para Hershel, ele já havia se recuperado e estava tentando andar novamente mas agora sem uma das pernas, fomos para fora pegar um pouco de Sol, o calor que a luz fazia sobre minha pele era confortável.

— Mortos! — Carl os avistou atrás de nós.

Puxei minha arma e ambos começamos a atirar, Carl subiu em uma mesa de refeitório bem atrás de mim, Beth tirou Hershel do caminho estava concentrada para notar aonde haviam ido, acabaram as balas de minha arma e puxei outro pente para recarrega-la mas acabou caindo de minha mão, abaixei-me para pegar.

— Trinity não! — ouvi Carl gritar atrás de mim.

Ele correu em minha direção e atirou no morto que já estava tão perto que eu não havia percebido, meu coração acelerou mas pude respirar aliviada por Carl ter me salvado. Os mortos estavam invadindo nosso bloco que devia estar limpo e seguro, ouvi Maggie chamar por mim, Lori me puxou e Carl a seguiu para outro bloco e corremos pelos corredores escuros tentando despista-los. Haviam buzinas vindo de fora para provavelmente atrair os mortos, Lori parou segurando a barriga, ela gemeu.

— O que foi? — perguntei preocupada.

— Acho que vou ter o bebê! — avisou e gemeu novamente.

Recuei, isso não podia estar acontecendo agora, os mortos nos alcançaram e então tivemos que continuar a correr, Carl encontrou uma sala de encanamento aonde entramos e Maggie fechou a porta para que os mortos seguissem pelo corredor sem notar nossa presença ali. Lori não podia mais esperar, o bebê ia nascer e Maggie era a única que poderia fazer isso agora, ela tirou as calças da grávida e Lori começou a gritar. Devia doer assim? Nunca havia presenciado um parto, será que foi da mesma forma quando nasci? Olhava para Carl boquiaberta, meu estômago doía mais que em todas as outras vezes, ele também parecia muito confuso.

Cada grito mais agudo que outro fazia minhas pernas tremerem, cerrei os punhos e coloquei as mãos em meus ouvidos ofegante tentando não assustar-me. Começara a sair sangue de Lori, o que deixou Maggie assustada, não devia acontecer... Lori exigiu que Maggie tirasse logo o bebê dela e recuei, fui até a porta aonde sentei-me e ainda com as mãos em meus ouvidos senti lágrimas molharem meu rosto, só parei quando ouvi o choro do bebê.

— E-ela... — Lori estava no chão, seus olhos fechados.

Maggie segurava o bebê como se fosse tudo que importasse agora, havia muito sangue no chão Lori não sobrevivera ao parto. Presumi.

— Ela morreu — Maggie disse hesitante.

— Não.

Maggie puxou a arma do coldre, não podia deixar que Lori virasse, não ali com o bebê recém-nascido.

— Ela é minha mãe. — Carl protestou.

— Não Carl.

— Eu tenho que fazer — exigiu.

Maggie guardou sua arma e saiu da sala, pisei firme no chão, não queria deixa-lo e ele não merecia ter que fazer isso.

— Me espera lá fora — disse, seu olhar estava distante.

— Carl...

— Vai, por favor.

Engoli em seco e assenti, fui com Maggie até a porta e pulei com o som do tiro ecoando pela sala, Carl passou por nós sem nem olhar. Quando saímos para o ar livre não havia mais mortos, Rick e os outros haviam acabado com todos, limpei o rosto úmido com meu braço tentando não pensar que agora Lori estava morta e o pior é que Carl havia feito isso. Ele a matou.