SOLITÁRIA III, The Walking Dead

10) Autodefesa ou assassinato

No outro dia já havíamos decidido, íamos partir, não tinha o que dizer se fosse o certo a se fazer pelo bem da nossa família então deveríamos ir... estava deitada em minha cama descansando uma última vez e Carl estava na cama de baixo, coloquei a cabeça para fora deixando que minhas tranças feitas por Maggie caíssem.

- É uma foto bonita - disse, Carl a segurava chateado.

Carl a escondeu debaixo do travesseiro e levantou sério.

- É sim...

- Estou pronta, vamos. - pulei da cama tentando animar ele.

Carl saiu da cela e eu o segui Carl levava um saco com roupas e eu mal tinha o que usar, carregava apenas minha pistola, uma faca, arco e aljava, parte de mim invejava o que ele tinha, eu queria poder ter o que me lembrar de minha família... a família que perdi. Ele deixou o saco de roupas com as coisas da Judith que por ser bebê tinha muito mais coisas, estávamos nos preparando para partir, de novo, sei que Carl estava irritado por termos que deixar o que conquistamos aqui para trás... eu estava triste e só de pensar em ter que partir me deixava cansada.

Sentei-me no banco de trás do carro e Carl entrou logo depois, ele não conseguia me encarar, olhava pela janela e eu por outra, estendi minhas mãos e respirei fundo quando senti a de Carl sob a minha soltei o ar aliviada. Sorri, triste, mesmo que fôssemos embora nada ia mudar o que tínhamos e senti alívio em saber que ele não estava irritado comigo.

Não estávamos realmente deixando à penitenciária, apenas indo para longe o bastante para ficarmos seguros. Conseguia ver e ouvir qualquer coisa que acontecesse ainda que estivesse distante, Rick mandou que Carl e eu fôssemos com Hershel, Beth e Judith. O resto do grupo foi para a guerra, lutar por nosso lar ou o que fizemos dele, Carl estava mais irritado que tudo, quase insuportável.

Tivemos que sair do carro e caminhar, mas parei quando ouvi os tiros, temia por meus amigos, senti o coração acelerar e a minha boca seca.

- Eu devia estar lá. - Carl praguejou.

- Não. Não devia - retruquei.

- Aqui sou inútil.

- Aqui pode nos ajudar a proteger a Judith - Beth disse.

- Vocês têm Triny. - apontou com o queixo.

- Cale a boca, não somos adultos para tomar essas decisões - retruquei perdendo o que me restará de paciência.

Ficamos quase duas horas fora, cada tiro era um aperto em meu peito aquilo poderia significar a morte de um dos meus amigos... após o governador ir embora com o pessoal dele nós decidimos voltar, afinal já devia ser seguro. Acabamos encontrando um garoto no meio da floresta, um adolescente devia ter a idade de Beth e seus olhos eram menos azuis que is de Carl, num tom escuro, os do pequeno xerife eram únicos na terra...

- O que está fazendo? - perguntei ao ver Carl tirar a arma do coldre.

- Abaixa isso garoto, - Hershel pediu - não é necessário...

- Ele pode ser perigoso.

- Ele está desarmado - Beth notou.

O garoto tinha suas mãos em rendição e provavelmente o coração tão acelerado quanto o meu, estava assustada mas ele não parecia ser perigoso. Estava indefeso.

- Carl abaixa...

Antes que pudesse completar a frase ele acertou um tiro bem no meio da testa do garoto, retorci os ombros surpresa e recuei, o garoto não ia nos machucar, como ele pôde fazer isso? Hershel pediu para que não dissesse nada ao Rick, ele mesmo conversaria. A penitenciária estava segura, por hora então voltamos ao bloco de celas e Hershel não esperou para discutir com Rick o que aconteceu, não tive coragem de encarar ele, Carl achou que estava nos protegendo, talvez alguém devesse explicar à ele a diferença entre autodefesa e assassinato... coisas que ainda me lembro de James, por ser policial não hesitou em me ensinar esta lição.

As vozes do idoso e o xerife ecoavam pelo cômodo, preocupados, Rick tentava defender o filho mas sabia que ele havia errado. Sentei-me na escadaria e Carl fez o mesmo, talvez soubesse que estava errado, meu medo era que não sentisse nenhuma culpa pelo que fez.

- Eu tive que fazer isso - disse, soou mais como uma desculpa.

Abracei minhas pernas e me mantive em silêncio, se ele ao menos tivesse tentado machucar...

- Fala comigo.

- E-eu não sei o que dizer. - dei de ombros e tomei coragem para encará-lo - não sei dizer se foi certo Carl, ele não parecia uma ameaça.

- Ele ia nos machucar.

- Talvez.

Dei de ombros uma última vez e continuei calada, Rick decidiu que iria para Woodbury, a cidade do governador com Michonne, Daryl, Maggie e Glenn, Carl queria muito ir com eles e eu não poderia deixar ele se arriscar desse jeito.

- Se você vai para Woodbury, eu também vou - disse decidida.

- É perigoso, não quero que se machuque.

- Sabe que preciso. Quero olhar na cara daquele monstro e matá-lo de uma forma dolorosa, é o que ele merece - insisti.

Eu não era assassina, queria vingança e o governador era um monstro merecia algo pior que a morte, estava sendo misericordiosa. Levantei e caminhei até Michonne deixando que Rick se entendesse com Carl.

- Desculpe ter deixado Merle te levar. Eu não queria...

- Não é sua culpa, aquele homem é doente. Fico feliz que tenha tentado.

Assenti e estendi a mão para um cumprimento, ela sorriu e a apertou.

- Espero que fique, e que possamos ser boas amigas.

Avistei Daryl e a deixei organizando suas armas, ele estava concentrado verificando a besta.

- Sinto muito pelo seu irmão. Mesmo que ele seja complicado as vezes.

Ele concordou, o abracei forte sentindo alívio imediato, Daryl sorriu e bagunçou meus cabelos.

- Obrigado pirralha. Não posso me acostumar com isso. - se referiu aos abraços.

- Que pena - sorri e abracei ainda mais antes de solta-lo.

- Vê se fica bem.

- E você fique vivo - respondi de imediato.

Quando virei-me avistei Rick me chamando, ele fez questão de se ajoelhar para não ter que falar de cima.

- Quero que fique aqui com o Carl, é mais seguro.

- E o governador?

- Prometo que vamos acabar com ele.

Concordei, vi quase todos se nosso grupo partindo, pensei que Maggie e Glenn partiriam também mas decidiram ficar para ajudar a proteger a prisão.

Fui até Judith verificar ela já que Beth não estava por perto, a garotinha estava calma, eu deixei um beijo em sua testa e a peguei, fomos até as escadas onde sentei-me e encarando cada detalhe de seu rostinho.

- Quer ouvir uma música? Eu não canto tão bem quanto Beth... então vou cantar apenas para você - sussurrei.

Pensei na letra de uma música que minha mãe costumava cantarolar quando ainda estava viva, sobre um pássaro que aprendera a voar mesmo com as asas quebradas.

- Blackbird singing in the dead of night... Take these broken wings and learn to fly.