13) Em quarentena

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Quando acordei percebi que havia apagado de cansaço, levantei sentindo uma imensa dor nas costas como se uma faca me impedisse de continuar de pé, droga, havia dormido de mal jeito. Fui até os banheiros e lavei meu rosto tirando o salgado das lágrimas secas do dia anterior, quando voltei hesitei um pouco antes de sentar na cama de Carl, aonde ele costumava ficar, sua ausência me preocupava, puxei um gibi escondido em baixo do travesseiro e me encolhi para ler, seu chapéu estava ao lado como se ele já tivesse ido embora e o deixado para trás. Uma lembrança.

- Eu não posso ficar uma noite fora que você rouba minha cama e minhas coisas - a voz masculina veio da porta.

Não pude conter um enorme sorriso, Carl estava de braços cruzados bem na minha frente, pulei de onde estava e o abracei aliviada, quase caímos para trás com o peso do meu corpo.

- Você voltou! - disse animada - Carl eu... não consigo ficar longe! É meu melhor amigo.

Desfiz o abraço e ele desceu as mãos para minha cintura.

- Eu sei. Meu pai disse que está tudo bem ficarmos juntos, mas temos que ir para a quarentena.

- Quarentena? Pensei que aqui fosse seguro... - me afastei, Carl passou por mim e seguiu em direção às suas coisas.

- É, mas meu pai acha que é mais seguro lá - respondeu - pode ir, eu te encontro lá.

Assenti e fui para onde Rick pedira com Beth, Carl e Judith, estávamos caminhando pelos corredores quando o empurrei.

- Por que isso? - perguntou e sorriu.

- Você me assustou. Pensei que não fosse mais voltar, não faça mais isso.

- O quê?

- Não me afaste de você. Não de novo.

Ele corou mas nossa conversa cessou assim que avistamos Hershel saindo de onde devíamos estar.

- Vai com a Beth, vou falar com ele.

Assenti e nós entramos, Beth balançava Judith mas a pequena estava agitada então Beth me entregou ela.

- Ela está com fome, vou fazer algo. - Assenti e sorri para a pequena, não havia como não sorrir ao ver aquele rostinho angelical.

- Seu irmão é um cabeça dura sabia? - Sussurrei para Beth não ouvir - Espero que seja muito melhor que ele.

Ela abriu um sorriso e eu deixei um beijo em sua testa cheirosa, era incrível como mesmo em um apocalipse Judith conseguia cheirar bem.

- Você é muito importante Judith, é nossa esperança... e eu vou te proteger com a minha vida - ela colocou suas pequenas mãozinhas em meu rosto e resmungou algo - Isso deveria significar algo?

Beth trouxe a mamadeira quente para a pequena e me ofereceu.

- Quer alimentar ela? - Hesitei por alguns segundos mas aceitei, não era sempre que tinha essa oportunidade - quanto tempo acha que vamos ficar aqui?

Ela sentou-se ao meu lado sem tirar os olhos da bebê.

- Até que todos melhores. Não vai demorar, Daryl trará remédios.

Judith comeu num piscar de olhos e logo abriu a boca num bocejo de sono, a balancei levemente.

- Por que não canta algo? - Beth sugeriu.

- E-eu não canto muito bem...

- Eu ouvi você cantar para ela uma vez. - Corei com suas palavras.

- É que... não me sinto confortável.

- Entendo, então posso fazer isso pra você - ela sorriu.

Mantive-me em silêncio enquanto Beth cantarolava a letra de alguma música, Judith fechava lentamente seus pequenos olhos lutando para não dormir até que finalmente se rendeu ao sono. Sorri.

- Ela é tão calma e... normal - Eu disse e Beth esticou os lábios - acho que é a coisa mais humana e pura que já vi desde que tudo começou.

- Não é? - Disse retoricamente.

Sorri uma última vez antes de entrega-la para Beth e deitar em um dos sofás na sala, quando acordei Carl estava encostado na parede na minha frente com um sorriso no rosto, levantei-me procurando Judith e Beth.

- Aonde elas foram?

- Beth está cuidando da Judith, aparentemente você roncava muito alto - brincou.

Carl aproveitou que levantei para sentar ao meu lado, nossas mãos estavam tão próximas que por um segundo desejei segura-la para para que ele não nos deixasse de novo.

- Vai nos deixar de novo? - Perguntei.

Carl teve mais coragem que eu e alcançou minha mão, hesitei surpresa mas logo segurei firme.

- Sabe que preciso ir...

Larguei a mão e encarei o vazio diante de meus olhos.

- Não precisa... não queria que fosse.

Sabia que ele estava apenas tentando agir como adulto, Rick talvez não gostasse disso mas Carl sempre foi assim, desde que Lori morreu algo nele mudou.

- Eu preciso, quero proteger vocês.

Engoli em seco e soltei os ombros que não percebera que estavam contraídos, deixei um beijo em sua bochecha e o vi levantar e sair.

🔫

Beth provavelmente já estava entediada ao ouvir minhas botas batendo no piso enquanto eu caminhava de um lado para o outro, ela sentou-se com Judith no sofá.

- Sabe do que sinto falta? - Puxei assunto, ela me encarou como se esperasse uma resposta - sorvete, principalmente de chocolate, gostava de comer até dar dor de cabeça.

- Por quê? - Ela sorriu.

- A melhor e a pior sensação do mundo juntas. É você? Do que sente falta?

- Tortas de maçã, assadas no fim de tarde quando chegava da escola e podia sentir seu cheiro de longe. - Droga, minha boca salivava ao pensar na comida.

E então voltamos ao silêncio, era deprimente, agonizante, nunca pensei que gostaria de estar lá fora com os outros.

- Espero que todos melhorem...

De repente tiros começaram a ecoar de fora do cômodo, Beth segurou Judith firme.

- Tudo bem, nada nem ninguém vai entrar aqui - disse para mim.

Assenti e sentei-me, os tiros ficaram mais altos então corri para a porta sem hesitar, tirei a arma do coldre pronta para girar a maçaneta.

- Não pode ir! Trinity! Vai se infectar também! - Avisou.

Congelei. Pensando no que Carl dissera, e na promessa que fiz de proteger Judith a todo custo, soltei a maçaneta e guardei a pistola soltando o ar que não percebi que estava prendendo. Não posso fazer isso. Não posso arriscar a vida delas.

SOLITÁRIA III, The Walking DeadOnde histórias criam vida. Descubra agora