03) Conflitos na cidade

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   Carl pegou o bebê no colo, era quase parecido com meu irmão Theo quando bebê, não tinha coragem de sequer pensar se ele estava vivo... Daryl levou Maggie para buscar suprimentos na cidade que não ficava muito longe da prisão, para o bebê na cidade já que em uma penitenciária era meio difícil encontrar coisas que geralmente um bebê precisa, e Rick entrou no bloco aonde deixamos Lori para procurar por ela cego pela dor da perda, eu o entendo, sempre tive vontade de procurar por meus pais mas a diferença é que Rick é adulto e eu apenas uma criança. Voltei para nosso bloco com o resto do grupo, Carl sentou-se nos degraus enquanto balançava calmamente o pequeno.

— Quer segurar? — perguntou.

— Eu não sei como. — respondi sem hesitar.

— É fácil vem cá — Beth disse indo em direção ao Carl.

Ela pegou o bebê em mãos e me ajudou a segura-lo, era uma sensação boa mas só porque estava calmo, era leve como um travesseiro e seus olhos agora estavam fechados, temia por ele ter que nascer em meio a todo este caos e por isso ali mesmo jurei a mim mesma que o protegeria. Para sempre.

— Você é muito... — parei, ainda não sabia se era menino ou menina, acho que não saberia diferenciar somente pelo rosto — e ele ou ela?

— Ela. — Carl respondeu ao meu lado.

— Então é muito linda. — disse voltando a olhar para seu pequeno rosto, vê-la dormir me trazia conforto, sorri.

Nunca senti Carl tão concentrado em nos encarar, quando olhei para ele sentia borboletas no estômago e entreguei o bebê, voltei a sentar-me ao seu lado sem tirar os olhos da pequena. Quando o Sol se pôs Daryl e Maggie retornaram, mesmo tarde a bebê chorava sem parar para recuperar o fôlego, estava faminta, felizmente na busca por suprimentos Maggie havia encontrado os itens certos para ela então Beth fez rapidamente uma mamadeira e entregou para Daryl que agora segurava o bebê.

— Ela tem nome? — Daryl perguntou para Carl.

— Eu não sei, pensei em vários como Sophia, Andrea, Amy ou... Lori.

Senti um aperto no peito, se pudesse bater em Carl agora eu faria, dar à pequena o nome de alguém que perdemos? Bela criatividade.

— Que tal bravinha? Você gosta de bravinha? — Daryl perguntou ao bebê e sorriu como todos nós no cômodo.

 Ele continuou a amamentar a bebê, pela manhã Rick ainda não havia voltado, nem dado nenhum sinal de vida o que com certeza preocupava Carl, nos reunimos em uma mesa para tomar café-da-manhã quando ele decidiu aparecer.

— Vim ver se vocês estavam bem — disse sério.

Depois disso simplesmente nos deixou novamente, voltou para o outro bloco, era compreensível não teve nem chance de se despedir da mulher que amava, nós literalmente cruzamos a cidade infestada de mortos para encontrá-la e agora ela estava morta, saí da mesa e caminhei até minha cela mas Maggie me chamou antes que pudesse chegar até ela.

— Trinity, vem aqui por favor — chamou de outra cela.

Fui até ela e com um pequeno salto sentei-me ao seu lado na cama curiosa, ela sorriu e tirou um caderno de trás e me entregou, sua capa era de couro num tom azul brilhante.

— Devo voltar a estudar? — perguntei entediada.

Ela riu e negou.

— É um presente, encontrei em uma loja durante a busca por suprimentos... — explicou — olha, quando eu tinha a sua idade o meu pai me deu um caderno parecido com esse, um diário, para que pudesse escrever o que quisesse nele, lembranças, sentimentos, pode até desenhar.

Sorri e aceitei o presente, talvez o único que tivesse ganhado desde tudo.

— Obrigada.

— Se precisar conversar sobre qualquer coisa, eu estou aqui.

Concordei. Gostava de como Maggie se preocupava em cuidar de mim, como cuidava da Beth mas talvez até mais. Carl e Daryl foram tentar limpar mais celas e Glenn decidiu ir com Maggie até a cidade, eu teria que escolher entre não fazer nada ou aproveitar a oportunidade, então corri até os portões antes que eles pudessem ir.

— Espera! Espera! Eu quero ir com vocês! — sugeri recuperando o fôlego.

— É perigoso demais, — Maggie negou — mal consegue correr, e o que vai fazer na cidade?

— Eu posso correr bem rápido — respondi — quero procurar suprimentos com vocês. Eu posso ajudar!

Não tirei os pés de onde estava sem convencê-los, afinal Glenn acreditava em mim e em minhas promessas, só precisava convencer Maggie.

— Vamos — a mais velha abriu a porta de trás para que eu entrasse.

🔫

  Como disse a cidade não era muito longe, levaram só alguns minutos para chegar.

— Vou dar uma volta — os avisei saindo do carro.

— Não vá muito longe e depois volte aqui para o carro, e se acontecer algo grite. — Maggie alertou preocupada.

Concordei com cada palavra e os deixei, as ruas eram silenciosas e empoeiradas, sem mortos à vista, se estavam escondidos eu não podia vê-los, avistei um manequim através da vitrine de uma loja, ele utilizava um chapéu de xerife como de Rick mas diferente, quando entrei fiquei boquiaberta.

— Glenn! Maggie! Achei uma coisa! — gritei sem me preocupar se haviam me ouvido.

Era uma loja de caça e ninguém havia à encontrado, estava cheia de suprimentos que poderíamos usar, encontrei munição para minha pistola e um novo cinto que devia ficar na perna para guardar meu canivete, antes de sair avistei um posto de tiros provavelmente para quem quisesse testar sua mira antes de comprar uma arma, meus olhos se iluminaram quando avistei um arco composto e ao lado uma aljava com muitas flechas, cinquenta ou mais.

— Legal! — disse o olhando, era um pouco grande para mim mas eu sabia que se crescesse só mais um pouco seria perfeito.

Era um arco de caça por isso não era tão pesado, já a aljava tinha um certo desconforto, voltei para o carro como Maggie pedira mas ele não estava mais lá, talvez Maggie e Glenn tivesse o estacionado em outro lugar mas juro que estava no lugar certo, eles haviam me deixado? Não. Maggie nunca faria isso.

— Glenn! Maggie! — chamei olhando em volta — Onde estão..?

Avistei uma cesta cheia de suprimentos para o bebê no chão, aproximei-me dela pronta para pegar e foi quando Merle surgiu de trás de um carro segurando uma arma. Ele a apontava para minha cabeça.

— Olha só quem está viva — brincou, tentei pegar minha pistola mas ele destravou a sua — nem mais um músculo.

Ele se aproximou apreciando meu rosto raivoso e pegou minhas armas, incluindo o meu novo arco e guiou-me até um carro com uma arma em minhas costas aonde podia sentir o cano frio me empurrando, estava tão vermelha que sentia meu rosto queimar de raiva, Maggie e Glenn estavam lá também, presos.

— Entra. Agora.

Nem precisou pedir duas vezes, Maggie me puxou para dentro e abraçou-me aliviada.

— Graças à deus você está bem — disse.

Merle entrou ali mesmo e sentou-se do nosso lado, ele ainda mantinha a arma apontando para nós.

— Dirige ou eu mato as duas aqui sem hesitar — disse para Glenn que estava no banco da frente com as mãos no volante.

Ele o fez dirigir até o local que perdira enquanto apontava a arma para nós duas. Quando chegamos no local haviam mais pessoas que colocaram sacos em nossas cabeças e nos prenderam em salas separadas, Merle amarrou-me em uma cadeira, na sala ao lado da que Glenn estava, pude ouvir o som dele apanhando e gemendo de dor, estava sendo interrogado.

— Você não vai falar? Quer ouvir os gritos delas? Porque eu vou fazê-las gritar! — ouvi, sua voz me fez estremecer.

SOLITÁRIA III, The Walking DeadOnde histórias criam vida. Descubra agora