Capítulo 15

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Noah

Esconder algo de todos sempre foi algo que considero fácil, principalmente a respeito da minha doença. Embora no início achava que era impossível guardar um segredo tão grande como um tumor no cérebro, mas com o tempo fui achando menos complicado.

As únicas pessoas que realmente sabem disso é a minha mãe, meu pai e as pessoas encarregadas sobre me curar. Acredito que a cada momento que passa, todas as chances vão sumindo uma por uma, até que não sobre mais nenhuma e a única solução que me resta seja morrer.

Fico pensando em todas essas idéias que meus pais pensam por todo o trajeto até a casa da árvore, mas tiro esse pensamento da cabeça e tento achar uma maneira de iniciar uma conversa com o Taylor sem ter que bater nele em todas elas.

Tiro a escada do tronco oco da árvore e coloco no ponto certo, subo e bato na porta por alguns segundos até que vejo Taylor sem camisa com um short jeans preto até o joelho. Seu olhar ficou mais calmo assim que me viu e me dá um abraço.

- Parece que não era eu que estava com saudades. - Digo e rio.

- Eu estava com saudades mesmo.

- Você não mudou nada - falo. - Parece que foi ontem que eu e você nos conhecemos.

- Eu sei. E você também não mudou nada.

- Não acredite em tudo que você vê. Mudei muito.

- Entra, espero que me conte tudo.

- Foi um dos motivos que me levou a vir aqui.

- Acredito que o outro seja a minha volta. - Ele fala olhando para o lado.

- Quero que volte. Não existe mais sentido nenhum em ficar aqui se culpando pelo que houve.

- Não quero falar disso. Quero saber o que houve.

- Melhor entrarmos.

Ele sai da porta, deixando a entrada livre para eu passar. A casa ainda estava do mesmo jeito, como se ninguém tivesse entrado. Não vou mentir, Taylor seria um ótimo espião.

Sento na cadeira ao lado da mesa e Taylor senta na que está a minha frente, me olhando esperando que eu começasse a falar.

- Bem... - digo sem jeito. - Eu tenho um tumor no cérebro.

- Como é? - ele pergunta assustado.

- E eu vou morrer em menos de um ano. Tecnicamente em poucos meses. Dez para ser mais específico. Não a mais nada que se possa fazer, e já aceitei o fato.

- E você fala isso naturalmente.

- É. Não existe outro jeito de falar sem ser assim. Não queria soar triste, muito menos assustado pensando no que você possivelmente iria me falar.

- O que você tem?

- Glioblastoma Multiforme, estágio IV. Nem sei como ainda estou andando ou falando normalmente, como se não existisse nada fora do comum no meu corpo. E meus pais estão loucos procurando uma cura, ou cirurgias que deram sucesso.

- Tumor cerebral. Que saco.

- Eu sei.

Não imaginava outro modo de contar para ele, eu nem contei para o Yoda, nem para o Hunter, muito menos para a Louise. Considero o modo como ele está aceitável e concordo com ele sobre contar isso de um outro jeito sem achar que um tumor no cérebro não fosse estranho.

- Tenho desde os meus catorze anos. Ainda frequento a escola, não queria sair, isso resultaria em mais perguntas, que também resultaria em respostas que eu não queria dar para pessoas que eu não queria falar. As pessoas dizem que se importam, mas na verdade é bem o contrário.

- Só irão se importar até os posts do Facebook acabar. - Taylor sussurra.

- Exato. Deve-se deixar claro pelo meu ver, que, só acredito que poucas pessoas iriam se importar. E acho que seja só você, o Yoda, o Hunter e meus pais. A Louise tá quase entrando nessa lista. Ela demonstra interesse em ações pequenas das pessoas que ela gosta.

- Isso é que eu acho adorável nela. Ela sempre vai se importar. Creio que ela possa mudar seu ponto de vista e te deixar otimista mais uma vez, e se você contar isso para ela, talvez ela seja que nem seus pais e comece a procurar que nem louca um modo de te salvar.

- Não quero que mais ninguém fique preocupado. Não a mais nada a ser feito.

- Talvez exista.

- Vamos dizer que tenha, e depois? Você fica com a Louise, Yoda e Hunter acham alguém para passar suas vidas felizes, meus pais ficarão alegres. E eu? Onde eu fico nisso? Serei o menino que sobreviveu à um tumor cerebral. Só isso, serei rotulado como isso. E não é isso que quero. Quero que todos sejam felizes, e acredito que não é preciso a minha existência.

- E se não for? Se todos quisessem que você viva para que esse final feliz existisse? E se sua presença fosse essencial nesses momentos? Kurt não consegue nem falar com uma garota se você não ajudasse ele. Hunter muito menos, iria ficar calado como se não soubesse falar. Eu não iria mais tocar violino sem você.

- Você não sabe o que eu estou sentindo.

- E você não sabe o que eu irei sentir quando você se for. Eu preciso de você Noah, você é meio que meu mundo todo. Se você não tivesse me dado apoio nas aulas de violino, eu não teria aprendido nunca a tocar, e talvez a Louise, a garota que eu amo, não teria aceitado sair comigo e no final ter aceitado namorar comigo.

- Você é um cara bonito, joga no time da escola, é inteligente e gosta de animais. Até eu teria namorado contigo.

- Sério? Não seria nada mal.

- Não força a barra - digo e sorrio.

- Você tem que deixar as pessoas te ajudarem, talvez você sobreviva. E viva. Comigo, Louise, Yoda, Hunter e seus pais.

- Eu quero. Mas parece que o destino simplesmente desistiu de tentar me salvar.

- Eu não. Nem seus pais, nem qualquer pessoa que está cuidando do seu caso.

- Você me dá conselhos para sobreviver e quer que eu aceite eles. Mas quando eu te dou conselhos sobre ir embora, você nem pensa duas vezes antes de dizer não.

- Eu não disse não. Só não queria ir no momento.

- Taylor. Você tem que ir embora. Sai desse mato, você fala pra mim sobre aceitar viver, mas quer sobreviver a base de salgados e todo o resto que te trago nessa maldita bolsa.

Aponto para mochila na mesa e jogo ela na direção do Taylor.

- Tem comida aí. - Digo. - Pode pegar.

Ele abre o zíper da bolsa e pega um saco de batatas fritas e abre o pacote, mas não come nada.

- Você tem razão.

- Tenho?

- Tem. Mas não vou sair agora. Não hoje.

- E quando vai ser?

- Não sei.

Me levanto e vou para a porta, paro na entrada e olho para Taylor que pega uma batatinha colocando ela na boca e ri para mim.

- Melhor ir logo. Tanto seus pais quanto seus amigos estão preocupados com você.

- Até mais Noah.

- Tchau Taylor.

Saio da casa na árvore fechando a porta atrás de mim, desço a escada e a guardo no lugar onde ela estava e vou para a minha casa deitar. Nunca pensei que conversar com o Taylor me fizesse pensar muito sobre minha doença.

Antes Que Tudo AcabeOnde histórias criam vida. Descubra agora