Só não aprendi a te amar

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   Aperto a campainha pela terceira vez e vejo a porta ser aberta, finalmente. Encaro o Fernando e ele me encara também.

- Pensei que tinha morrido aí dentro.

- ‎Olá, Dulce. Veio encher a minha paciência?

- ‎Nao, claro que não. Vim te ver, viu? Não sou tão má.

- ‎Fala logo, o que quer?

- ‎Como está? —Entro e vou para sala, ele vem atrás.

- ‎Dulce, sei que não importa como estou.

- ‎Eu estou ótima, tirando a parte que estou meio enjoada.

- ‎Por que você não se cuida?

- ‎Sei lá, não é preciso. Mas então, sentiu falta de mim?

- ‎Não, pode ir embora.

- ‎Quero ficar aqui, calma. Eu fui na casa da Any hoje, conversamos muito.

- ‎Legal, Dulce. Só isso?

- ‎Você realmente ser arrepende?

- ‎Está querendo dizer o que com isso? Não enrola!

- ‎Fernando, me explica algumas coisas. Você passou quase a vida toda me evitando, isso adiantou algo? Fez você ser feliz ou sentir melhor? Você conseguiu mesmo me odiar? Se sentia bem quando brigava comigo? Você...

- ‎Dulce María, para! Você não sabe o motivo disso...

- ‎Eu sei o motivo sim, Fernando. Você é um otário. —Levanto. — Como é capaz de violentar a esposa? Se estava querendo sexo era só esperar ela querer também. Você não podia obrigar ela a ficar contigo, caramba!

- ‎Como soube disso? —Ele pergunta confuso.

- ‎Tenho uma bola de cristal, papai.

- ‎Odeio seu sarcasmo, agora diga quem te disse isso.

- ‎O Peter pan. Mas sério agora. Teve graça em ter abusado a Blanca? Você agiu como problemático.

- ‎Quer saber de tudo mesmo?! Ok, você vai escutar tudo caladinha.

        Sento no sofá e cruzo minhas pernas.

- ‎Pode dizer, prestarei atenção.

- ‎Sim, me arrependi e a Blanca sabia disso mas mesmo assim não me desculpou.

- ‎Isso não têm perdão mesmo não.

- ‎Dulce, fica calada.

- ‎Mas eu quero dar minha opinião, pa.. Fernando! —Ele me ignorou.

- Eu fiquei feliz quando soube da gravidez mas a Blanca não ficou nenhum pouco feliz...

- ‎Claro né, até eu não iria gostar de saber que estou grávida. Nem acredito que sou fruto de um abuso.

- ‎Olha, depois você crítica, ok?

- ‎Não vou criticar nada, só quero que essa guerra entre nós dois acabe, se você ficou feliz então por que me odeia? Por que me trata diferente?

- ‎Eu não te odeio.

- ‎Não? Ah, que fofo. Você me odiou desde que nasci, me tratou mau como se eu fosse uma estranha aí você vêm dizer que não me odeia. Que droga.

- ‎Eu só não aprendi a te amar, Dulce.

- ‎Você nem tentou me amar, Fernando! Lembra o meu primeiro dia de aula? Você só me deixou lá e foi embora, eu estava com medo, nem conhecia ninguém, todas crianças estava com seu pai ou mãe, e eu?  Sozinha como sempre! Lembra meu aniversário de cinco ano? Você nem me desejou parabéns, só a Any ficou comigo brincando e você? Ah, você tinha saído, Fernando. Ò, e aquela vez que você jogou meu ursinho favorito fora, lembra? Chorei tanto, aquele ursinho me protegia dos pesadelos, só não entendi o porquê fez isso. Me explica, você amava me ver chorando né?

- ‎Dulce, eu queria te machucar sim para me sentir melhor mais nunca adiantou, eu iria mudar meu jeito mas não conseguir. Você parece com a Blanca e eu machuquei ela e machuquei você...

- ‎Espera, você tentou me matar né, tentou livrar de mim quando era pequena, apenas um bebê.

- ‎Não, matar não! Nunca iria matar você apesar de tudo você é... minha filha.

- ‎Fernando...

- ‎Blanca sempre foi feliz e teve tudo o que queria, nós dois e Any eram uma família alegre, mas quando você nasceu tudo mudou e ela foi embora por sua causa, meu mundo acabou naquele instante, Dul. Entende? A Blanca deveria ter abortado mas ela não quis e o pior foi que ela foi embora. Era só ter tido abortado que nós iríamos ser felizes...

- ‎Sem mim, iriam ser uma família feliz sem mim. É, a culpa disso tudo é minha, mesmo não existindo a porcaria da culpa é minha. Você não cansa de me culpar por algo que nem fiz? Você pensa que eu pedi para nascer? Fernando, A culpa é completamente sua! A Blanca não te denunciou foi porque ela é uma cachorra e gostou. Eu sinto nojo daquela mulher.

- ‎Não fala assim dela, ela é a sua mãe.

- ‎Eu não tenho mãe! Você é um monstro, acabou com minha vida no mesmo dia que nasci. Por que não se arrepende disso também? Quando você olhava aquele bebê frágil você sentia o que? E a minha irmã, você deu tudo para ela e a mimou muito, você foi ótimo pai para a Any, que legal pelo menos a minha irmã sempre foi feliz! Tenho pouco de inveja dela, você acredita que eu já sentir raiva dela só por ela ser tão amada, como eu sou boba.

- Dulce, calma! Me escuta. Olha, quando peguei você pela primeira vez eu quis te proteger de tudo e todos mas eu não fiz isso, eu sei. Você foi crescendo e eu cuidando de você, cuidei com toda paciência e atenção, pode ter certeza que cuidei de você muito bem e quando você chorava a noite eu te acalmava, nunca reclamei por isso, quando estava doente cuidei de você, quando você tirou seu primeiro dente eu estava ao seu lado, Você...

- Mas você mudou, você não deveria ter mudado.

- E você nunca deveria ter perguntado sobre a Blanca.

- Que? É isso? Sério? Eu era uma criança quando perguntei pela a primeira vez dela, Fernando! Não iria saber que você não iria gostar daquela minha pergunta. Me entenda por favor, eu só queria o seu amor, Fernando! Isso não é pedir muito.

      Suspiro e levanto. Será que é tão difícil fazer ele entender? Era obrigação dele ter cuidado de mim quando era pequena, claro que era! E o pior é saber que ele têm raiva só pelo simples fato de uma criança ter perguntado sobre a mãe.

- Dulce, eu não conseguia amar você, só sentia raiva. Tentei me apegar com você mas não tinha como. Mas perdão, eu não quero mais saber dessas coisas e nem lembrar do passado. Perdão de verdade, sei que é difícil perdoar depois de tudo e eu te entendo, mas cansei disso. Você sempre será minha filha e isso nunca vai mud....

    Antes dele terminar a frase eu me jogo nos seus braços e o abraço forte e sem querer uma lágrima escapa mas não dou importância. O Fernando retribui, ele está tenso. Ficamos abraçados por alguns segundos e eu me afasto um pouco dele. Estava tanto precisando desse abraço. O homem que ganhou o apelido de monstro têm um abraço bom, um abraço que sempre esperei receber. Esse monstro é o meu pai e apesar de tudo nunca conseguir o odiar completamente.

- Você faz parte do meu recomeço, Fernando!

        Ele me olha confuso e eu simplesmente o abraço de novo.

O Recomeço [1° Temporada/Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora