09 - Vou virar um arco-íris?

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Na segunda-feira eu me tranquei no quarto, minha mãe veio me acordar para a escola, mas eu disse não sentir vontade. A depressão tinha essa utilidade, mesmo livre dela eu ainda podia usar como desculpa e embora até pouco tempo atrás eu não tivesse tal coragem, hoje tinha. Talvez porque um segredo mais pesado havia surgido e eu tivesse vergonha de olhar minha mãe ou meu pai pensando sobre o que eles poderiam pensar de mim.

Elise mandou mensagens, chamou no Skype, mas não atendi ela, não na primeira ligação. Quando finalmente aceitei as ligações, me arrependi!

— David é um gato mesmo. — Foi a primeira coisa que ela disse.

E continuou com as insinuações... normalmente eu teria ignorado, ou até participado, eu mesmo fazia essas insinuações sem perceber, ou sem me importar. Mas então depois daquela afirmação... depois daquilo, como continuar com aquelas brincadeiras sabendo que Elise não levava mais elas como simples brincadeiras? E pior, eu não levava mais como simples brincadeiras!

Acho que esse foi o pior erro, porque eu comecei a realmente considerar aquilo como uma possibilidade.

— Você tá incomodado. Precisa descobrir porque está incomodado. Eu estou certa?

— Eu vou desligar agora. — Elise sempre se achou a dona da razão.

Fiquei no quarto por boa parte do dia e ignorei tudo tentando encontrar meu centro de novo. Dessa vez, porém eu não tive nenhuma vontade absurda de chorar ou me cortar ou qualquer coisa parecida. Só fiquei pensando, usei aquele dia para pensar.

Elise normalmente me ajuda, mas na segunda-feira ela foi a causa desse desequilíbrio todo, talvez fosse só tentando ajudar, mas ela sempre passava dos limites, era o estilo Elise de fazer as coisas e embora desse certo, vez ou outra, não era a melhor forma de lidar com todos os problemas. Levar tudo ao extremo e fazer explodir não é a melhor solução e ela tem que aprender isso.

Eu mesmo havia ajudado ela com o problema dela sem levar tudo ao extremo..., mas isso é um problema? Outro problema é que eu não conseguia descobrir o que isso é! A meu Deus, quantos problemas!

Então na terça, 5 de agosto, eu decidi que não seria saudável continuar trancado no quarto. Foi esse tipo de comportamento que me colocou em tal situação em primeiro lugar, então acordei de manhã antes do meu pai ou da minha mãe.

Como não tinha tomado banho na segunda-feira (resquício da vontade de não fazer nada, ou da falta de vontade de fazer qualquer coisa), eu tomei banho, voltei para o meu quarto para me trocar e me arrumar. Achei incrível que um dia de volta naquele estado de completa inércia e eu tinha caído de novo nos braços da depressão, ao menos desta vez tive força o bastante para pôr um basta ainda nas primeiras horas.

O dia estava frio, do tipo que choveria mais tarde. Joguei a toalha na cama e foi quando encarei o meu terço pendurado na cabeceira desta, presente da minha tia. Na minha família temos essa coisa de não existir "comprar bíblia" ou "comprar terço", essas coisas têm que ser dadas não compradas para si mesmo. Então eu tinha presenteado ela e ela me presenteado com os mesmos presentes... Era como se eu tivesse comprado no final das contas.

— Com homem não te deitarás como se fosse mulher; é abominação! — Repeti aquilo que já tinha lido tempos atrás na Sagrada Bíblia. Eu não podia ser isso e ainda ser amado.

Nem mesmo olhei para minha bíblia na parte de baixo do criado-mudo, só ia me sentir mais culpado.

Coloquei o jeans, a camisa da escola e fui para a cozinha, mas percebi que o tempo era curto, então peguei mais um pacote de bolacha para ir comendo no caminho e fui para o ponto de ônibus pulando o café da manhã, mesmo tendo planos de fazer ovos batidos com pão e um copão de Ovomaltine.

Primavera de RulimOnde histórias criam vida. Descubra agora