12 - Volto a falar com Pedro e os garotos!

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Eu não vou tentar explicar em que estado me encontrava ao deixar a casa de David.

Não vou explicar por um motivo simples: Eu não saberia como fazê-lo!

Não é como se fosse culpa minha, eu acredito fortemente que fiz o certo. Tudo foi muito rápido e no final eu só queria não estar ali, para assim poder pensar. Eu gostei?

Talvez pareça ridículo me fazer essa pergunta, mas durante todo o caminho para casa foi essa a pergunta que me fiz! O que me assustou porque só quando já no portão de casa que fui me lembrar que deveria ter pensado no que dizer aos meus pais e não em me preocupar se gostei ou não.

Por fim, parei na frente do portão sem saber se deveria entrar ou não. Se entrar, o que vou dizer? Sequer considerei que eles não sabiam de nada além de que estive em uma festa e ainda não tinha dormido, talvez bebido um pouco (isso levando-me a crer que eles usariam do bom senso de acreditar que eu tive bom senso em não me embriagar, o que não é verdade).

Abri o portão e com cada passo pesando uma tonelada me dirigi para o caos.

Quando cheguei na entrada da casa a primeira coisa que ouvi foi o suspiro de alívio da minha mãe. Congelei por um segundo temendo que fosse me tornar impotente ali, e despejar a verdade toda sobre eles. Preciso mentir. Pensei, sem me orgulhar disto.

— Como você faz isso conosco? — Ela bradou entrando em fúria em seguida.

Eu abaixei a cabeça e esperei. Não era só isso, claro que não, como poderia ser apenas isso!?

Tinha muito para ouvir! E ouvi... ou ignorei. Ela falou muito enquanto eu, de cabeça baixa, escutava, mas sem realmente prestar atenção (acredito que você me entenda, todo mundo já fez isso alguma vez, ouvir, mas sem realmente escutar) ela falou sobre a festa, sobre o trabalho que usei como desculpa, me acusou de ter planejado ir fazer o trabalho só para escapar e ir à festa, coisas que eu esperava que ela dissesse na verdade.

Quando finalmente acabou eu percebi que deveria falar alguma coisa, mas estava inseguro demais, com medo demais, me sentindo errado demais para justificar aquele incorrigível pecado e com medo demais de falar e acabar falando demais devido a culpa que se assomava cada vez mais dentro de mim.

— Desculpa. — Levantei a cabeça e olhei-a nos olhos. Por um curto momento pensei que ela fosse chorar, mas quem chorou fui eu!

Minha mãe era tão sensível quanto eu, meu pai era o mais resistente e frio, talvez por isso ele não falasse muito sobre essas coisas (e eu sou grato por isso), então quando eu comecei a chorar ela mudou as feições duras para feições de preocupação, e correu para me abraçar, o que logo terminou, não retribui o abraço, me sentia fedendo demais, e sujo demais, não de sujeira, mas sujo de uma forma que só uma mentira para encobrir um pecado pode te sujar.

— Jorge, você disse que ia estudar, e vai em uma festa, não pode fazer isso, mandou uma mensagem e sumiu! Eu te liguei dezenas de vezes. — Me segurando pelos ombros ela me analisou de cima abaixo, e depois me soltou.

— Vinte e oito vezes. — Respondi.

— E quantas você me atendeu? — Ela inqueriu.

Minha mãe é o tipo de mulher que quando faz uma pergunta exige uma resposta, mesmo já sabendo o que responderei!

— Nenhuma, mãe. — Abaixei a cabeça de novo, limpando as lágrimas.

— Exatamente. Nenhuma. E agora aparece de manhã, feito... feito um vagabundo de rua que passa a noite na gandaia. Você não é isso, filho meu não é assim! Te criei melhor que isso, Jorge!

Primavera de RulimOnde histórias criam vida. Descubra agora