07- Protestantes precisam de salvação.

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Era domingo, dia 3 de agosto de 2014. E eu não tinha conseguido escapar de ir à igreja.

Minha mãe veio me acordar e falar "Lucas, vamos, é dia de igreja", como se por alguma razão eu não soubesse, ou se por alguma razão eu precisasse ser acordado.

Tinha falado com Elise no sábado pelo Skype, ela estava com febre, com blusa e touca, falei que isso só aumentava a febre, mas ela não me ouviu.

Discutimos também sobre David e os outros gringos todos, mas também não chegamos a lugar nenhum além de discussões banais.

Então fomos à casa de Deus e lá me sentei e fiz todos os passos aos quais esperavam que bons cristãos fizessem.

Depois de todas as formalidades na igreja eu já estava com a famosa cara de bunda. Meu pai, sendo funcionário, chegava mais cedo (três horas mais cedo), e dessa vez minha mãe havia decidido ir junto e me fazer ir junto também... de certa forma eu poderia ter dito não, alegado estar depressivo, mas não consegui mentir, tinha passado tanto tempo naquele estado que não queria dizer continuar nele agora que estava começando a me sentir melhor que antes, não tinha um motivo forte o bastante para mentir.

Mas quando pensei que tudo estava acabado e poderíamos enfim voltar para casa, minha mãe retornou do confessionário com o padre Silviano. O nome dele era Carlos Silviano, mas era comum chamarmos padres apenas pelo sobrenome e o título, não só padres como bispos, freiras, etc.

— Jorge, querido, o Padre Silviano quer dar uma palavrinha com você.

— Já disse que não vou me confessar hoje mãe. — Eu falei baixinho ao lado dela enquanto o padre fechava a porta do confessionário e vinha se juntar a nós. — O pai vi ficar, ou vamos para casa?

Nisso um grupo de três senhoras interpelaram o Padre Silviano.

— Vamos aproveitar e ir. — Eu olhei para minha mãe como quem só tinha isso para pedir.

— Não seja rude, Jorge. — Ela respondeu séria e seca. — Espere pelo padre. Eu vou ir ver se encontro seu pai.

Eu fiquei em pé no corredor entre os bancos da esquerda e direita olhando o padre segurar a mão de uma das velhinhas, as veias verdes pulsantes enquanto ela falava, pareciam prestes a explodir.

— Amém, irmãs, que Deus as acompanhe!

— Fique com Deus, Padre, muita bondade sua, ó, se é!

Com isso elas se foram.

— Jorge, meu jovem, por favor. — Apontou o caminho rumo ao altar e eu fui a contragosto, mas bem-educado como sou não fiz careta nem nada.

O Padre Silviano era um homem de meia idade com cabelo só nos lados da cabeça, um rosto delicado e calmo que transmitia paz e serenidade.

— Padre, não sei o que minha mãe falou, mas está tudo bem.

— Eu creio que esteja mesmo. Ela só falou coisas boas. — O padre disse abrindo a porta para o jardim da igreja. — Disse que está mais feliz nos últimos dias, digo, você está.

Deixamos o confessionário de lado, então eu deveria tomar cuidado com o que dizia, afinal, não estando sob os votos do confessionário o Padre Silviano poderia reproduzir toda a conversa para minha mãe. Ao mesmo tempo me alegrava não estar me confessando, pois no confessionário eu não poderia mentir!

Mesmo assim, não queria falar sobre aquilo.

— É... — Limitei a dizer isso, mas vi que ele não pararia.

Primavera de RulimOnde histórias criam vida. Descubra agora