31 - Ruindo

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A pior parte é quando você finalmente percebe que está completamente sozinho no mundo.

Minto.

A pior parte é quando você percebe que a culpa de estar sozinho é sua.

Essa é a pior parte.

Amargo. Esse era o gosto na minha boca enquanto caminhava até a casa de Giovane. O sol ia dormir trazendo uma noite de vento fresco e céu nublado. Enquanto caminhava pelas ruas que se esvaziavam cada vez mais só conseguia pensar em quando um bandido ia surgir e me roubar e me matar. Por favor, surge logo.

Quando isso acontecesse eu não precisaria fazê-lo.

Padre Silviano havia me dito (na época da depressão) que Deus não perdoava aqueles que se matavam porque ia contra a lei de Deus. Eu admito que isso segurou minha mão algumas vezes. Mas desde quando deixei de querer agradar a Deus, parei de me importar. Hoje, no entanto, queria que alguém me matasse. Queria que alguém o fizesse para que eu pudesse descansar no céu. Você é viado. Você vai pro inferno. Uma voz vinha na minha mente me levando de volta a negação como se nunca tivesse melhorado, como se ainda fosse aquele menino fraco.

Jamais entraria nos reinos de Deus. Com pesar continuei. Elise precisa de você.

O que aconteceu foi que antes eu negligenciava a mim mesmo para satisfazer David, agora eu o fiz para ajudar Elise. Eu sempre negligencio minhas necessidades, mesmo quando elas são prioridades. Assim como Elise negligenciou o próprio pai durante anos.

Acho que é mais fácil cuidarmos dos problemas alheios do que dos nossos próprios. Essa é a verdade. Mas quando não cuidamos dos nossos problemas, bem, então a bola de neve finalmente acerta a cabana. E não tem nem um porão onde eu possa me esconder e esperar o resgate.

Ri com esse pensamento.

Que resgate? Você espantou todos. Não vai vir ninguém te ajudar dessa vez, e a culpa é sua também.

Quando cheguei na casa de Giovane ele estava na rua, sentado em seu carro ouvindo Justin Timberlake, tristonho.

Sua rua era iluminada pelas lâmpadas alaranjadas dos postes e duas estavam queimadas. Cheguei pelo lado de trás do carro. Me aproximei até a porta.

— Giovane. — Chamei. Ele olhou para trás, pernas foram para fora do carro, pareceu se assustar como se estivesse pronto para partir pra porrada.

— Lucas. Cara, você demoro... o que aconteceu? Te roubaram? — Ele perguntou assim que viu meu estado.

— Cai do ônibus. — Respondi sério e seco. — Eles levaram ela, machucaram ela?

Minha voz parecia aérea e causar pouco impacto, eu parecia cansado e fraco.

— Não, eu... ela foi tranquila. Eu tentei impedir, mas, eles tinham o papel então... ainda fiz eles esperarem um tempo para você chegar e dizer tchau, mas você demorou e eles foram mesmo assim.

— Eu sei, as coisas não saíram como eu planejei. — Balancei a cabeça. Nada saiu como eu planejei. — Então acabou, né.

Virei, pronto para sair, mas então Giovane agarrou meu braço.

— Cara, aconteceu alguma coisa... você tá... triste.

— Não queria que ela fosse...

— Não é só isso. Elise me contou que você estava com uns problemas... pode falar comigo, eu sei que é difícil o lance das drogas...

— Isso já era. — Eu respondi para ele. — Eu tinha uma dívida, não tenho mais. Problema resolvido, certo? — Tentei emular aquele sorriso de quem fingi estar tudo bem, para meu azar Giovane não é estúpido ou apático.

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⏰ Última atualização: Feb 25, 2019 ⏰

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