15 - Adquirindo coragem!

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O sinal do primeiro horário já tinha soado e eu corri à sala. Cheguei um pouco atrasado, propositalmente dessa vez, para evitar ter que conversar com todos (e quando digo todos quero realmente dizer todos. Não sinto vontade de falar com ninguém, de novo, e isso começa a me preocupar).

Era quarta-feira, 20 de agosto. Na segunda e na terça-feira eu evitei falar com Elise e com David, na verdade com ele sequer troquei palavras além de oi e tchau e por pura cortesia.

Estando bravo com Elise, mesmo sem motivos e sem ter peito o bastante para enfrentar a situação com David, eu me aproximei mais de Pedro, Dido e Guilherme (veja bem, não sei se possuo coragem para falar com David, mas tenho medo de, ao fazê-lo, acabar bancando o francês e me rendendo).

Na terça-feira pouco antes de eu ir dormir recebi a mensagem de David pedindo sinceras desculpas; "Eu meio que gosto de você, foi burrice, desculpas. Pensei que valia a pena arriscar a sorte e tentar, mas devia ter sabido, se não pudermos continuar como amigos, poderíamos ao menos não ignorar um ao outro assim? Entretanto, eu gostaria de continuar sendo seu amigo". Apaguei sem responder, mas fiquei surpreso que tudo estava escrito corretamente.

Quando as primeiras aulas passaram e o intervalo chegou, David continuou sentado na minha frente, então decidi que iria dar uma volta pela escola, provavelmente ir atrás de Pedro na cantina, além disso tinha que falar com Dionísio.

Antes de chegar na porta, porém, Elise surgiu como se tivesse corrido do nada até mim.

— Lucas, a gente pode conversar...

— Acho que agora não. — Felizmente Dido estava ali na porta também, e juntando o útil ao agradável completei; — preciso falar com Dido. Pode ser depois? — Perguntei para ela de forma casual, e Elise me olhou, sabendo que aquela era uma desculpa boa o bastante eu me livrar sem precisar explicar nada.

— Está bem. — Ela anuiu meio contrariada, se virou e sem mais nos deixou, foi para a mesa de Bianca.

— Você não devia tratar ela assim, sabe. — Dido disse e nós dois saímos andando pelo corredor.

— Elise mereceu. Ela faz as coisas sem pensar duas vezes, só estou fazendo o mesmo com ela. — Disse para ele, mas não era sobre Elise que queria falar com Dido e ele não é o tipo do amigo com quem eu conto as coisas, embora ele tenha boas dicas sempre e seja um bom sujeito, acho que só não temos essa intimidade e agora eu tenho medo de tentar ser íntimo com qualquer um. — Descobriu alguma coisa?

Dido era o mais perto de um "vida louca" que eu tinha no círculo de amizades. Então havia pedido, na segunda-feira, que ele conseguisse alguma informação sobre como andava minha imagem na escola, o que diziam os rumores a meu respeito, essas coisas.

— Eu falei com o pessoal do terceiro, e o menino que apanhou volta às aulas na semana que vem. Thomas...

— Thomas? — Perguntei.

— O fornecedor aqui na escola, aluno do terceiro. Thomas. — Dido falou mais baixo essa parte. — Ele acha que você e o menino lá trocaram umas ideia, não naquela hora da treta, mas... tipo, como se vocês fossem amigos e você soubesse demais. E o menino não tinha pagado, por isso apanhou, ele foi avisado... eu tentei limpar sua barra, não sei se adiantou, cara.

— Vamos voltando pra sala. — Nós viramos e começamos o caminho de volta para a sala sem sequer sair do corredor, Miles estava mais a frente e eu não queria ter que falar com ele também, envergonhado demais pelo que aconteceu na casa dele tempo atrás. — Pensei que você comprasse daquele cara no Ibirapuera. — Questionei tentando parecer normal, mas sentia uma vontade de encarar Miles e ver se ele me encarava de volta, se ele tinha um olhar de deboche do menino estranho que fugiu.

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