22 - O inferno sem ti

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— Tomou a suboxone? — Acordei com olhos preocupados me encarando e cabelos úmidos despenteados balançando com a luz clara da manhã sobre a pele dele. Não podia ter acordado de forma melhor.

David estava cima de mim de novo, os braços sustentando o peso do corpo, as mãos afundadas no edredom branco, a clavícula em destaque, estava ainda só de cueca, mas era outra cueca, e o volume era chamativo mesmo sem excitação. Sorri olhando para ele sem saber como explicar minha felicidade naquele momento.

Percebi, também, que ele havia tomado um banho, pois suas sobrancelhas, barba e cabelo estavam brilhando com pequenos pingos de água e seu corpo estava com um frescor sem igual, também podia sentir o cheiro de desodorante.

Normalmente teria dormido em um colchão inflável no chão ao lado da cama dele, ou ao menos era assim que o mundo fora daquelas paredes imaginava (a não ser a família de David, acho), mas mesmo assim o colchão inflável estava ali, guardado, mas ali.

— Tomei. — Sorri para ele e David se abaixou em uma flexão, nossos corpos se encostaram e ele veio para me beijar, então subiu um pouco e beijou o canto da minha boca quase na bochecha.

— Ótimo. Vai escovar esses dentes que você tá com bafo de pau! — Sorriu maliciosamente deslizando a língua pelos próprios dentes no interior da boca entre aberta.

David pulou ao chão ajeitando a boxer, olhei para aquela bunda e pensei em dar um tapa, mas só sorri com os pensamentos, me virei e peguei minha mochila, de lá peguei minha escova de dentes. No chão peguei a calça e minha camiseta.

— Tem alguém... no corredor? — Perguntei enquanto me vestia.

— Meu pai já foi trabalhar, digo, só ver umas coisas no trabalho e já volta. Só minha mãe tá aqui, o Miles foi na casa da Mariah ver se ela vai ir ou não com a gente mais tarde. — David disse enquanto se vestia também. — Aliás, minha mãe viu a gente... juntos.

— O quê? — Virei com um olhar de desespero. David pareceu se divertir com aquilo, então apontou para uma pilha de roupas em cima da mesa.

— Ela passa roupa de manhã no sábado, veio trazer as minhas, entrou no quarto, deixou-as ali e saiu. A gente ainda dormia.

— O que ela vai pensar...

— Que a gente dormiu, o que mais pensaria? — David se aproximou de mim e me puxou para a cama, sentamos os dois na beirada. Os acontecimentos da noite ainda estavam bagunçados devido a morfina, mas aos poucos tudo se encaixava. Não esqueceria nada, só a dor de cabeça que me impedia de lembrar em detalhes no momento. — Ela sabe que eu sou bi, não se importa nem um pouco com isso. É o lance das drogas que ela não aprova. Só que eu e Miles temos nossas mesadas, desde que eu não fique enchendo o saco dela ou meu pai por causa disso ela não se importa, não interfere... quer dizer, ela reclama, mas não muito, entende?

— Coisa de mãe. — Eu disse.

— Coisa de mãe! — David concordou com um aceno de cabeça. — E a sua, já se tocou?

— Ainda não, mas eu to tão preocupado com isso. — Disse, sincero. — Acho que ela já desconfia por causa da maconha semana passada, lembra? Eu não tirei o cheiro, acho que ela notou.

— Já pensou em tentar conversar com ela? — David se abaixou pegando um par de tênis de baixo da cama. — Tipo, fala a verdade e avisar que é a sua vida, não dela...

— Foi isso que você fez?

— Não. — David se levantou de novo e levou os tênis ao guarda-roupa. — Foi isso que minha mãe fez comigo! — Ele apontou para fora. — Escova os dentes, eu te espero aqui enquanto dou uma arrumada, aí depois a gente vai tomar café!

Primavera de RulimOnde histórias criam vida. Descubra agora