10 - A tal festa.

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A semana inteira havia passado, ontem só que Pedro – o cara de pau – havia me chamado e avisado sobre a festa da Bianca, a qual já tínhamos até arranhado o assunto, mas nunca realmente conversado sobre (em grande parte porque ele evitava o assunto).

Não sabia quem era pior, Pedro ou Bianca. Duas cobras com mais veneno que Elise, muito provavelmente. Pedro cheio de interesses na festa de Bianca, e Bianca cheia de interesses em David e no irmão, Miles. Como David era nosso amigo e apenas, ela convidou Pedro (o mais bonito do grupo) na esperança que ele levasse David. E como entre Dido, eu, Pedro e Gui, David é mais meu amigo que deles (ainda mais depois dessa semana discutindo avidamente sobre história do Brasil), Pedro, para não decepcionar Bianca e, provavelmente, não ser desconvidado, me chamou para que eu chamasse David. Ou seja, quem estava sendo convidado para a festa de aniversário de Bianca é David, não eu ou o Pedro... ganha respeito quem levar ele até lá. Simples assim! É como se fosse comissão. Se David aparecer por lá, arrastado por mim, por Guilherme ou por Dido, Pedro ainda sai ganhando por ter sido o responsável em nos convidar a convidar David. Então nós ganhamos um pouco de fama, e por fim David ganha toda a fama, afinal, ele é o prêmio máximo da nossa turma. É como se todas as garotas quisessem ficar com ele agora. Não só ele como todos os outros gringos também.

Infelizmente para Pedro, depois de tanta explicação e tanta insistência, eu informei que no dia da festa em questão estaríamos fazendo a primeira parte do trabalho de história e por isso não poderíamos ir, nem eu, nem Elise, nem David. Não saberia dizer se Pedro ficou bravo comigo, não esperei respostas.

Logo cedo no dia seguinte tinha uma mensagem dele: "Maior vacilo você não ir nessa festa! ". Apenas. Então achei que seria melhor sequer responder.

Era 9 de agosto, sábado.

Eu arrumei minhas coisas logo cedo, organizei o guarda-roupa, peguei minha mochila e coloquei nela um caderno, estojo, livro de história, notebook, carregador, comprimido para dor de cabeça e um saco de bolacha, no caso de americanos não terem comida que eu goste (o que pelos filmes é algo impossível de acontecer, além do que eles morando aqui não têm muita escolha além de comprar comida brasileira)!

Liguei pelo whatsapp para Elise e ela confirmou que iria sim na casa de David, faríamos o trabalho e com isso teríamos adiantado boa parte da pesquisa para a próxima aula. Nem citei nada sobre a festa, se ela não souber – e não souber que eu sei –, e não souber que eu estou convidado para ir, não corre o risco de querer ir também! E se ela souber e não me falar nada é porque está disposta a não ir só para estudar conosco, o que é muito carinhoso da parte dela!

Almocei em casa junto da minha mãe (a Dona Marta), e meu pai (o Diácono Rogério). Aproveitei o almoço para contar que ia na casa de um amigo fazer o trabalho, eu, David e Elise.

— E ela está bem? — Meu pai perguntou subitamente enquanto cortava o frango. — Nem conversamos sobre ela depois da semana passada.

— Está. É só... coisa dela. — Eu respondi enquanto comia meu pedaço de carne assada com batatas, na verdade ocupei a boca para poder pensar no que falar já que "Agora tá, as feridas que o pai abusivo dela causou já sumiram" não era bem uma opção. — Não surgiu nenhuma fofoca pela igreja? — Perguntei com um sorrisinho, era uma boa vereda para seguir conversa.

— Deveria ter surgido? — Minha mãe perguntou como se insinuasse algo, aquele olhar que só mãe tem.

Você nem faz ideia. Eu pensei enquanto escolhia o que realmente responder novamente. Só não são rumores do tipo que vocês estão esperando ouvir.

— O que foi que aconteceu com a Elise? — Minha mãe questionou após eu não ter respondido nada.

— O pai não te falou? — Rebati comendo mais uma garfada.

Primavera de RulimOnde histórias criam vida. Descubra agora