PRISIONEIROS

Os invasores

O corredor era longo e não muito iluminado, o que trazia a claridade eram as portas abertas dos quartos vazios, os outros quartos estavam fechados. Será que tinham outras pessoas lá? Pessoas que perderam sua família? Que também foram enganadas e sequestradas?

Ela sentiu medo, daria tudo para estar em casa, mesmo que não recebesse a atenção necessária, mesmo que seu irmão fizesse brincadeiras idiotas, mesmo que... Brigasse com seus melhores amigos.

Então ela se lembrou, Bea e Jordan, eles tinham avisado à ela, mas ela não quis escutar, eles a alertaram e ela não ouviu. Por que ela não ouviu?
Seus olhos se encheram de lágrimas, mas ela não queria chorar, pelo menos não ali.

Sentiu um ímpeto de correr e encontrar uma saída, de gritar por socorro, e ao mesmo tempo de se jogar naquele chão frio de madeira e chorar desesperadamente. Mas se conteve.

Então ela viu uma escada não muito larga, e com poucos degraus também de madeira. Eles começaram a descer, os seus sapatos faziam altos barulhos. Quando estava no último degrau dois homens a puxaram com força pelo braço, fazendo ela dar um leve gritinho e tropeçar. Jogaram ela em uma poltrona velha em frente à uma outra em que o homem de preto se sentou.

- Olha, como você é novata aqui, -sua voz despertava um sarcasmo, mas ao mesmo tempo grande seriedade - acho que tem o direito de ouvir algumas instruções.  Para que depois não nos culpe de sua morte. - O homem de preto, que não se apresentara pelo nome, disse friamente.

- Mi-minha morte? - a garota falou assustada.

- Sim, a sua morte, que vai acontecer sem dó e nem piedade se não seguir a linha. - Ele começou. - Já observou o lugar? Fique à vontade. - Lizzy olhou em volta e viu que em cada canto tinham caras estranhos e armados, provavelmente de guarda, na grande sala. E continuou - Acho que já deu pra notar que aqui não é brincadeira, você parece ser inteligente para saber que não há possibilidades de "fuga" aqui. Quer dizer, até tem mas para um plano melhor, ou... pior. Se você tentar fugir daqui, os meus capangas não vão ter dó de te matar. E pode ter certeza de que você não fará falta aqui.

"Então por que estou aqui? Então por que me sequestraram se não tenho importancia?" Lizzy pensou. 

- Mas você não terá muitas oportunidades de tentar fugir. - Ele prosseguiu. - Isso é claro, se todos forem competentes a ponto de só te tirar do quarto para situações de estrema importância, - ele disse direcionando o seu olhar para Shawn - você sabe, necessidades.

Lizzy estava com tanto medo, que não foi capaz de dizer uma palavra.

- E então, não vai falar nada? Você entendeu como funciona as coisas aqui? - a voz dele era rude e levantou parte de seu paletó mostrando uma arma.

Ela balançou a cabeça em forma afirmativa, tremendo.

- Você está com medo? - ele disse com sarcasmo. - É assim que eu gosto, o medo deixa as pessoas na linha.

A conversa foi interrompida por um barulho estrondoso vindo lá de fora, como alguém querendo arrombar a porta. O homem de preto e seus capangas, assim como Shawn, se levantaram sacando suas armas.

- Leva ela pro quarto agora, garoto!!!!

Shawn abaixou a arma e foi em direção à Lizzy, puxando-a.
Quando estavam no corredor ouviram tiros, quem quer que seja tinha conseguido invadir.

- Vamos logo! Corre.

- Você vai me trancar? É muito perigoso. Vai me deixar presa enquanto acontece um tiroteio aqui? - ela disse apavorada.

- Não é hora pra surtos Lizzy, entra no quarto e fica lá. De preferência abaixada. Não grite, não faça nada.

Agora eles já estavam em frente ao quarto que Lizzy ficava. Shawn à empurrou para dentro. Trancando a porta.

- Mas Shawn, por favor, não me deixe aqui. - os olhos dela se encheram de lágrimas,  seu coração de pânico. - E se eles vierem para cá? Quem são eles?
Ao menos fique comigo.

Ele já havia corrido pelo corredor. Mais barulhos de tiros. Agora, alguns gritos roucos. Será que era de Shawn?

Lizzy se ajoelhou no chão, aos prantos. Que rumo a vida dela tinha levado? Quando tudo voltaria ao normal? Que horas acordaria daquele pesadelo?
Ela pensou na sua família, em seus amigos. Será que já haviam sentido sua falta? Que horas era aquela? Eles estavam a procurando?

Por um segundo chegou a pensar se não seria a polícia que veio a socorrer, mas descartou a possibilidade sabendo que a ajuda nunca era tão rápida assim.

Depois de um tempo, Lizzy ouviu tiros, mas não tiros comuns como outros, eles estavam próximos. Estavam na parte de cima. Ela se levantou do chão sem saber o que fazer, andando de costas em direção à parede que a impedia de sair daquele lugar. Mais tiros no piso de cima, e finalmente, eles pararam, a garota sentiu um alívio. Mas... se dois estavam brigando e uma pessoa conseguiu matar a outra, não era pra ter sobrado um?
O desespero tomou conta de Lizzy novamente quando ela começou a ouvir passos em direção ao seu quarto. Ela se abaixou no chão, encolhida, escondeu seu rosto sobre as pernas. E tapou os ouvidos, estava tão desesperada que nem ouviu o barulho da porta ser aberta. Só sentiu mãos em seu ombro. Ela gritou e deu cotoveladas.

- Ei, calma, sou eu. - a voz a acalmou, mesmo sendo de Shawn.

- Você... Não morreu.

- Não, eu ainda não morri.

- Achei que eles poderiam ter te matado, onde eles foram?

- Relaxa, eu sou um bom atirador. - Shawn que estava agachado no chão em frente à Lizzy, se levantou,  fechou a porta que havia deixado aberta, e se sentou na cama, passando um olhar para que ela fizesse o mesmo. Porém ela não fez.

- Eles já foram embora. - ele prosseguiu. - Não se preocupe, ninguém vai machucar você. 

- Embora, Shawn? Eu não sou criança,  eu sei que eles não foram embora em meio à tantos tiros. Eles morreram, não foi?

Shawn a encarou e não disse nada.

- Quem eram eles?

- Não se preocupe com isso, Lizzy.

- Por que fez isso comigo? Por que arruinou minha vida? - em vez de brava a voz dela soava desapontada.

- Não fui eu, Lizzy. Mas eu te devo desculpas.

- Quem é você? De onde veio? A verdade dessa vez.

- Você precisa descansar. Eu vou sair. - Ele fugiu do assunto. - E minhas desculpas são sinceras.

- Então me solte.

Como se ele não houvesse escutado ele simplesmente se foi, trancando a porta.
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