Um deles

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- Mendes. Meu sobrenome é Mendes. Por que a pergunta?

- Você nunca me falou. - Disse Lizzy. - Fiquei curiosa.

- É, eu sei, você gosta de fazer perguntas.

- Posso fazer só mais uma? - Ela perguntou, mas não esperou a resposta. - Naquela noite em que saímos, você usou meu celular. No dia seguinte quando vocês me pegaram, o horário dele estava adiantado. Foi você quem adiantou?

Fez-se silêncio. Shawn a encarava. Depois disse,  mudando o assunto,  como sempre fazia.

- Vou levar o seu prato. Já acabou?

Ela balançou a cabeça. Tinha acabado de tomar seu café da manhã.

Ele pegou o prato e se virou para sair.

- Shawn?!

- Oi.

- Preciso usar o banheiro.

- Agora? Está muito apertada?

Ela balançou a cabeça dizendo que sim.

- Tudo bem, vamos.

Ele colocou o prato na cama e segurou os braços dela, puxando-a.

- Para caso você tente fugir. Mesmo que você não consiga sair daqui sem morrer.

- Como você sabe? Eu posso ter feito aulas de judô e Muay e Thai.

- Você não fez, eu tenho certeza. - Ele falou. - E mesmo que tivesse feito, as armas são um meio mais atualizado de morte.

- Então pra que me segurou? Se elas são tão eficientes assim, eu não vou conseguir fugir. - Ela falou. - Como você mesmo disse.

- Por isso mesmo, evitar que você morra.

Eles já tinham andado metade do corredor e pararam em frente à uma porta escrito "necessidades", Lizzy preferia simplesmente o termo "banheiro".

- Olha, um sequestrador que se preocupa com a vítima. - Ela continuou. - Que interessante.

- Você fala demais. Para de falar um pouco e usa logo esse banheiro.

Ela suspirou com raiva e entrou fechando a porta. Era pequeno e fedido, o único lugar aonde eles não prezavam "conforto". Quando saiu, Shawn estava encostado na parede, do lado da porta. Um homem loiro estava vindo na direção deles.

- Está na hora!

Mas ele não falava com Lizzy e sim com Shawn, que olhou pra ela e disse.

- Fica calma, ninguém vai fazer nada com você.

O homem pegou um pano branco do bolso e veio para frente segurando a cabeça de Lizzy e sufocando-a com ele. Ela gritou e viu Shawn em sua frente olhar para ela, sem fazer nada. Foi a última visão.

                           *******

Lizzy abriu os olhos, uma escuridão os cobriu e ela estava ficando quase sem ar. Tinha um saco em sua cabeça, ela logo tirou gritando. Estava deitada no banco de trás de um carro, conseguiu avistar uma casa de madeira à frente e um rio ao lado da casa. Ela gritou mais uma vez, dois homens estavam pegando coisas no porta malas. Um deles correu e abriu a porta do carro aonde ela estava.

- CALA A BOCA GAROTA! - Ele pegou mais uma vez aquele pano branco, e veio em direção à Lizzy, que se contorceu para o lado, não querendo deixar que ele a fizesse cheirar aquilo.

- Vocês vão me matar? NÃO!!! - ela gritou. - Shawn!

Ele foi mais rápido e veroz.

Quando ela acordou, estava jogada em um chão. Lizzy olhou ao redor, tudo era madeira, estava dentro daquela casa em que havia visto. Só tinha uma cama ao lado dela, será que aquilo podia ser chamado de quarto? Ela se levantou assustada. As coisas estavam totalmente estranhas, será que à levaram pra mais longe? Era como se aquele fosse o primeiro dia em que havia sido sequestrada. Na primeira vez, ela acordou deitada em uma aconchegante cama, e agora em um chão duro, não era para ser ao contrário? 

E Shawn aonde estava? Ela não conseguiu ver se ele veio junto para essa nova "casa". Por um segundo ela torceu para que ele estivesse lá. Ele era diferente dos outros homens, ela não tinha medo dele. Teria que ter?

A porta se abriu à frente dela, fazendo um estranho barulho, Lizzy se lembrou dos filmes de terror, mas agora dava muito mais medo do que nos filmes. Um homem moreno entrou, ela nunca havia o visto, sentiu suas mãos suarem.

- Você deve ser a Lizzy Price, né?

- Tyan!

- Ah claro, me desculpe. - Ele disse. - É aqui que você vai ficar agora, Lizzy. Espero que se acostume com o local.

- O que. Vocês. Querem?

- Não é da sua conta, apenas pare de drama e fique quieta. Tem muito sobre você que nem você mesma sabe.

- Como assim? - Ela disse sem entender.

- Nada, já falei demais. - Ele se virou e foi sair, mas antes parou na porta e virou a cabeça. - Se você gritar, vou ter que te amordaçar, e não é isso que você quer. Ou é?

Agora ele fechou a porta e saiu, trancando-a. Lizzy se ajoelhou chorando, não aguentava mais aquela situação, só queria ir para casa e alguém para dizer que tudo não passou de um sonho, que aquilo tudo não era real.  

- Eu quero ver ela, abre a porta! - Ela ouviu alguém dizer do lado de fora do quarto.

- Ela precisa de um tempo sozinha, não se esqueça que você não tem que ter proximidades com a garota. 

- Não importa, abre essa porta!

A porta abriu em um estalo, Lizzy levantou o olhar e viu Shawn parado olhando para ela, quase com pena. Ele já era alto, mas agora parecia muito mais, para ela que estava ainda ajoelhada. Shawn fechou a porta atrás de si e se virou para frente.
Lizzy se levantou correndo e não segurou seus impulsos de abraçar Shawn, por um segundo ele hesitou, mas logo depois a abraçou também.

- Eu achei que você tivesse ficado lá. - Ela disse. - Shawn, está tudo demorando desde que te conheci. Eu deveria te odiar. - ela parou por um segundo. - Mas eu não consigo.

- Eu não te deixaria aqui, eles não me deixaram vir na mesma hora que você, mas eu tive que vir. - Ele a afastou para trás, examinando seu rosto. - Você está bem? Alguém te machucou? Fizeram alguma coisa com você?

- Eles não te deixaram? Como assim? Eles quem? Eu achei que você podia tomar suas decisões sozinho. - Ela falou. - E eu estou bem sim, só um pouco zonza, talvez por causa do "desmaio".

Ele olhou para ela com alívio.

- Shawn, o homem que entrou aqui, ele disse que tem muita coisa sobre mim que nem eu mesma sei. - Ela continuou. - Como assim? O que ele quis dizer? O que vocês querem?

- Lizzy, eu não sei. - Ele hesitou, pensando se realmente diria aquilo. - Eu não sou um deles.

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PRISIONEIROSOnde histórias criam vida. Descubra agora