Será ?

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O mês de fevereiro passou rápido, era sempre assim por ter poucos dias e por voltarmos das férias no meio da segunda semana do mês.

Pensei nisso pois estou na casa de Camila fazendo um trabalho em dupla para o fechamento do bimestre.  Estamos quase terminando, olha que começamos uma hora depois que chegamos da escola. 

- Vamos parar um pouco. Só falta o gráfico, faço depois.

Com a convivência frequente na escola, Camila e eu acabamos tendo mais afinidade uma com a outra, talvez ela ainda não me considere sua amiga mas acho que está quase. Se fosse como uns dias atrás e se fosse eu que tivesse pedido para dar uma pausa ela me chamaria de folgada e ainda me deixaria fazendo o trabalho sozinha.

- Vem aqui.

Camila foi até a sacada, sai do sofá onde estava sentada e foi até lá. 

- Daqui a pouco o sol vai se por. - comentou. 

- Apreciadora dos shows naturais? 

- Sim. - sorriu- aplaudo o por do sol, assobio para lua, agradeço a chuva e admiro o arco íris quando surgi um.

- A vista daqui é realmente bonita. - olhei para o sol que se abaixava longe atrás das montanhas. - Mas me apaixonei pelos pinheiros.  Essa árvore e tão forte, sombria, obscura.  Mas ao mesmo tempo é reconfortante. Quando a luz alaranjada cai sobre ela como agora, traz uma sensação de carinho como nos filmes que tem fogueira acessa e pessoas cantando em volta dela.

Camila me olhou de uma forma diferente assim que falei aquilo,  quando conversávamos era sempre papos aleatórios e dessa vez foi um pensamento meu. Pela primeira vez disse algo que guardava na minha cabeça. 

- Gostei do que disse. - disse sorrindo.

Fiquei em silêncio e retribui o gesto.  Quando voltamos para sala comecei a rir.

- Do que está rindo?

- Dá pergunta que ia te fazer.

- E o que é ?

- Se você morava sozinha.

- Claro que não. - riu - moro com a minha mãe, ela trabalha em uma floricultura no centro por isso não está aqui.

- Que legal !

- É, sempre que volta para casa traz um pouco das flores que não foram vendidas. Por isso que aqui vive perfumado, uma pena que não dura muito.

- E seu pai?

Camila engoliu em seco antes de responder.

- Ele morreu em um acidente de carro quando tinha dez anos. 

- Me desculpe. - Estava totalmente sem graça.  - Não queria ser invasiva. 

- Tudo bem, você não sabia. Mas é você, mora com seus pais?

- Também moro com a minha mãe.  Meu pai ficou na Itália onde morávamos cuidando dos seus negócios, minha mãe fica em casa tomando conta de mim, somos sustentadas pelo dinheiro que meu pai manda toda semana já que ele não queria que minha mãe trabalhasse e me deixasse sozinha.

- Depois eu que sou chique por morar no último andar. A senhorita Lauren Jauregui morava na Itália. 

- Pois é. Bom, a conversa está boa mas está ficando tarde. Melhor eu ir.

- É antes que leve uma bengalada da sua mãe. - disse ao me acompanhar até a porta.

- Você? Fazendo piadinhas?

- Aprendi com você. Tchau e até amanhã. - se despediu sorrindo. 

- Até! - devolvi o sorriso. 

Hoje foi um dia muito agradável,  falei coisas que escondia e descubri coisas que não sabia. Talvez a maneira direta e reta de Camila seja por causa de seu pai, seu jeito de demonstrar que superou.  E o olhar sobre a natureza,  gentil, amável e respeitoso. Da mesma maneira que tratava as pessoas. Pode parecer loucura da minha parte, mas foi do mesmo modo que Camila me olhou hoje.

Um amor para se guardarOnde histórias criam vida. Descubra agora