TENTANDO SABER QUEM SOMOS - Livro I

Capítulo 20

Quando ele perguntou se ela não preferia conversar no quarto dele, Sophia negou, não sabia bem o porquê, mas a sala lhe parecia mais confortável, talvez por estar mais perto da porta. Depois de tanto pensar, por dias, a loira sabia que parecia estar tendo uma atitude imatura, mas era complicado para ela entender que seu namorado já tinha sido noivo.

Estar noivo de alguém era tão importante. Era sério. Era a idealização de um futuro. E saber que Micael já tinha vivido algo tão intenso com certeza a machucou. O relacionamento secreto deles não podia chegar perto de algo assim e isso a frustrava demais.

Micael demorou a começar a falar, parecia relutante e isso a irritava ainda mais. Se a ex não era importante, então não deveria se importar em contar ou não. Porém, quando Sophia disse que se ele realmente não fosse falar, iria embora, Micael começou a lhe contar. Desde o início.

Micael conheceu Júlia quando tinha dezessete anos e ela, vinte e um. Como não frequentava a empresa dos pais, ele não sabia que ela era a estagiária promissora de sua mãe e assim que a viu, se encantou, literalmente. A partir daquele dia, ele começou a frequentar a empresa da mãe e de Carlos, até o dia em que teve coragem de chamá-la para sair. Ela recusou. Júlia recusou, por quatro vezes, o convite dele porque dizia que não era apropriado, afinal, ela era mais velha e funcionária da empresa da família dele, mas, Micael não desistiu e até contou para sua mãe que estava gostando da estagiária e mesmo que no início tenha relutado, acabou concordando em não se intrometer. Quando, pela quinta vez, a chamou para jantar, ela rapidamente aceitou. E aquele foi o primeiro jantar deles.

— Começamos a namorar logo em seguida – continuou Micael sem realmente olhar para Sophia que estava sentada ao seu lado, no sofá. — Era tudo muito intenso entre a gente e eu era totalmente apaixonado. Júlia foi a primeira mulher que amei e sem dúvida alguma, desejei ter um futuro com ela, por isso, ela se tornou a minha noiva.

Mesmo que não gostasse nem um pouco de ouvir tudo o que Micael estava lhe contando, Sophia não demonstrou emoção alguma enquanto ele lhe contava tudo, mesmo que ouvir que ele a amava era absurdamente doloroso, ela continuou, silenciosamente, escutando tudo.

Quando estava chegando a época de escolher qual curso cursaria na faculdade, Micael já sabia que seria literatura, o que começou a causar discussões entre Júlia e ele, já que ela achava que ele tinha que seguir algo que permitisse a ele trabalhar nas empresas da família. Mesmo que Micael achasse que ela estava querendo ajudá-lo, ele afirmou que iria fazer literatura, ainda mais quando conseguiu passar para literatura inglesa em Harvard, nos Estados Unidos. Mesmo não concordando, Júlia, quando viu que ele não iria desistir, aceitou o convite para ir com ele para lá, afinal, ela já tinha terminado a faculdade e tinha se tornado efetiva na Albert e Carlos tinha permitido que ela representasse a empresa em Cambridge, a mesma cidade em que Micael iria morar.

Com um ano de relacionamento, eles já estavam morando juntos. Como sabia que ela não gostava do que ele fazia, Micael não comentava nada com ela sobre a faculdade, mas, mesmo assim, o relacionamento deles era maravilhoso. Se passaram dois anos, e em comemoração aos três anos de namoro, em uma viagem a Paris, ele a pediu em noivado, com planos já para o casamento.

— Só que alguns meses depois do pedido, ela começou a ficar estranha. Estava se afastando. Sempre tinha algo para fazer, uma viagem para a empresa e muitas outras coisas. Comecei a achar estranho, mas talvez ela só estivesse se sentindo pressionada, com medo por estar fazendo planos para um casamento. Bom, pelo menos foi o que eu pensei — afirmou Micael que parecia frustrado lembrando-se desta época. — Numa quinta-feira, me lembro bem deste dia, resolvi faltar a faculdade e fazer uma surpresa para ela. Iriamos passar o dia no Iate da minha família, já que ela amava fazer isto. Eu já tinha organizado tudo, sem ela saber. Porém, quando fui para casa, à tarde, buscá-la para o nosso passeio, quem teve a surpresa foi eu...