Capítulo 22

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Mesmo que sempre tenha estudado em colégios caros e com uma ótima infraestrutura, Gabriela ainda se perdia um pouco pelos corredores dos três andares do colégio JF. Contudo, é claro que ela já tinha se habituado ao espaço, mesmo que nunca tivesse desejado estudar em um semi-internato.

— Professor — ela diz após abrir a porta de uma das salas dos professores. — Uma das inspetoras avisou que você queria falar comigo.

— Queria, sim. Por favor, entre — pede Tadeu, professor de português.

Aquela sala dos professores era grande e algumas mesas redondas estavam espalhadas pelo centro do espaço. Fora Tadeu, apenas mais duas professoras estavam no local e elas pareciam concentrada em suas leituras.

Gabriela acompanhou o professor até os armários que estavam no canto direito da sala e após ele abrir o armário que estava com seu nome, pegou uma pasta.

— Precisamos conversar sobre seu trabalho — Tadeu comenta enquanto pega outra pasta. — Está nesta aqui, até guardei-o separadamente.

— Fiz algo muito errado? — Gabriela pergunta sem entender, já que realmente tinha se dedicado para o trabalho. — Eu posso refazê-lo, é só me dizer onde eu errei. Prometo que irei melhorá-lo...

— Gabriela, calma — ele interrompe. — Não chamo alunos separadamente para falar de trabalhos ruins, isso são assuntos da sala de aula.

Gabriela respira calmamente. Nunca recebia reclamações em relação a suas atividades escolares e não queria começar agora, ainda mais em uma área que gostava tanto. No entanto, não entendia porque tinha sido chamada se não tinha feito nada errado.

— Já conversei com você antes sobre um conto mais simples que você tinha escrito para mim e já fiquei surpreso com a sua escrita — ele conta folheando algumas folhas que estava em mãos, agora que já tinha guardado as pastas. — Mas, agora que passei um trabalho mesmo, valendo uma boa parte da nota, eu, sinceramente, esperava algo interessante de você, mas, isso? Faz um bom tempo que não tenho uma aluna como você, que se dedica de verdade a literatura.

— É... bem, obrigada — agradece.

— Posso estar parecendo louco, Gabriela, mas vejo potencial nisso. Você desenvolve cada pedacinho das suas histórias e percebo que escreve com verdade. Isso é o mais fascinante.

Gabriela já tinha recebido elogios de alguns professores, mas nunca tinha sido algo assim. Era bom, mas ao mesmo tempo estranho. Ela não sabia como reagir.

Tinha levado mais de uma semana escrevendo o conto ao qual o professor se referia e no momento em que o entregou, não o achava bom o bastante, pois se tivesse mais tempo, teria revisado tudo novamente. Não achava que o professor fosse gostar tanto.

— Vem, vamos nos sentar — Tadeu a chama, indo até uma das mesas. — O que você pretende fazer com isso?

— Isso o que? Com o conto?

— Não, não. O que você pretende fazer com a sua escrita? Há alguns dias você me falou que não sabia se conseguiria escrever um livro todo, que não sabia se suas ideias seriam boas o bastante. Mas, se você não sabe, eu sei. Você tem algo importante e especial aqui. Se você se dedicar, vai conseguir e vai ser boa o bastante.

Era uma quarta-feira comum e Gabriela que estava entediada não imaginava que teria uma conversa como aquela. Não imaginava que ouviria aquelas palavras. Mais uma vez, era bom, era maravilho, mas era estranho.

— Bom, vai ser legal se der certo um dia. Agradeço pelo incentivo.

— Não, Gabriela. Não é se der certo um dia, é se você tentar. É isso que importa. Eu enxergo potencial em você e vou te ajudar se quiser fazer da sua capacidade algo maior.

TENTANDO SABER QUEM SOMOS - Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora