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Mal havia aberto o bilhete, lendo apenas a primeira palavra, alguém bateu na porta.
-Ei.
Seus cabelos estavam para trás, os olhos fincados nos meus e um sorriso que sequer posso achar outro pra compara-lo e, até mesmo acho que seria um crime.
A única pessoa da festa que estava vestida de azul, nem uma peça sequer branca.
Ano novo, quem não estava de branco?
Em seu rosto, carregava encrenca e, claro, era o meu tipo de pessoa.
-Ola?
Sorriu.
-O que tem na mão?
Se aproximou e leu.
-Brega.
Eu mal pude dizer que não era o significado que se pensava, continuou:
-Escreve coisa melhor, vai.
-Não foi eu quem... Deixa quieto... É... Então... Não quer paz pro próximo ano?
-Paz é sem graça, entra, bagunça, faz barulho, eu gosto assim.
-E chamou neoqeav de brega?
Eu ri, pela primeira vez, realmente gostando de uma conversa que não fosse com Margareth.
-"colore minha vida com o caos do problema"

A meia noite, com corpos em brilho branco das roupas e olhares apaixonados, carregando uma taça na mão, eu não me lembrava dela.
Vi no sorriso da pessoa ao meu lado semelhanças com o dela.
Vi o seu olhar brincalhão e sua mania de citar músicas e livros.
Vi muito de Margareth ali mas finalmente eu estava totalmente completa com aquilo, sem precisar tê-la por inteiro.
A meia noite, os fogos soaram e partiram em direção ao escuro céu.
Suas cores pintaram de aquarela a noite apagada.
A meia noite, casais se beijaram e famílias se abraçaram.
Cada qual estava com quem queria para o próximo ano.
A meia noite, eu estava bem.
A meia noite, eu estava feliz.
A meia noite, tudo bem estar com quem estava e tudo bem não estar com quem não estava.
A meia noite, eu podia sentir as vibrações do chão e o som "om" da energia das pessoas, cada molécula se chacoalhando.
A meia noite, pessoas realmente acreditavam na promessa de um novo ano.
A meia noite, eu também acreditei.

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