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"Se a princípio a ideia não parece absurda, não há esperanças para ela."
Ou seja, se não lhe parecer impossível, é provável que não aconteça.
Albert Einstein disse essa frase.
Ele, o que foi taxado de louco.
Um dos maiores gênios do mundo.
Se a ideia não é louca, não perca seu tempo.
Eu nunca fui do tipo que fazia coisas impossíveis.
Tenho medo de tudo, sempre tive.
Margareth não.
Ela era corajosa.
Tudo parecia ser pouco pra ela.
Mas quando ela voltou, não falou para pularmos no rio, viajarmos ou até irmos acampar no lago.
Ela estava diferente.
Como se estivesse ferida.
Margareth parecia medrosa.
Seu riso era mais fraco.
Ela só queria ficar ali.
Tudo bem pra mim.
Mas eu me preocupei.
Mesmo assim, passamos horas naquela ponte.
Ela sequer pegou no celular.
Ela só olhou pra mim.
Sabe quando dizem que quando se está perto do fim de algo, a gente sente? Sem querer nós tentamos retratar aquelas coisas?
Eu senti como se ela estivesse fazendo isso.
Como se me olhasse pra tentar guardar pra ela.
Meg parecia, pela primeira vez, com medo.
Parecia que não íamos nos ver mais.
Ela se deitou em meu colo, mantendo os olhos nos meus e eu podia sentir meus dedos sob os fios do seu cabelo, seu corpo inspirando e expirando abaixo de mim, a brisa do fim da tarde às árvores se balançando ao norte.
Tudo estava bom.
Estava calmo.
Me fazia pensar que algo iria acontecer.
Meg sorriu, fechou os olhos e ficou ali.
Como se me protegendo.
Ou então, me deixando protegê-la.
Quando começou a escurecer, pedi para irmos indo embora.
Ela conhecia meus pais.
Ela me perguntou se eu queria que ela ligasse pra eles e inventasse alguma coisa.
- Não sei.
- Então você quer ir dormir lá?
- Eu sou uma pessoa indecisa, é um dos meus charmes.
Eu sempre brincava assim com ela, mas ela me pareceu seria quando respondeu:
- Eu sei, adoro isso.
- A minha indecisão ou os meus charmes?
- Os dois.
E tudo estava resolvido denovo.
E era muito boa a sensação de voltar a se sentir bem.
Realmente bem.
Em paz.

Duas semanas depois

"Margareth e eu fomos ao lago.
Naquele onde nos encontramos depois de tanto tempo.
Em meio a goles de vinho, beijos e a água sobre nós, não precisávamos de palavras.
Margareth parecia intensa.
Mais do que o normal.
Ela queria que tudo fosse bom.
Ela realmente queria, sabe?
Ela me via roendo as unhas, o que normalmente era motivo para um sermão e apenas sorria, ela não desviava os olhos.
Estava dizendo que me amava o tempo todo e eu precisava daquilo.
Eu percebi o quanto queria ela realmente perto.
Nós pulamos naquela água fria juntos, nós nos embebedamos juntos e quando saímos daquela cabana, ainda estávamos juntos.
E não havia sensação melhor do que segurar a sua mão e a levar comigo, aonde eu fosse"

Um mês depois

Um mês se passou, todos os dias acordando com ela ao lado.
Estava tudo tão bom que era até óbvio que algo iria aparecer.
E algo apareceu.
Margareth acordou.
- Me conta algo bom.
- Como assim?
- Qualquer coisa.
Eu senti no seu tom.
Senti que não importava o que eu dissesse, nada a faria bem.
Margareth não esperou eu responder, ela apenas começou a gaguejar.
Seus olhos já não eram os brilhantes olhos que eu conhecia.
Aquela sensação de que ela estava se despedindo de mim se manteve o mês todo e, de uma vez, ela resolveu falar.
- Sabe, Alison... As vezes as pessoas vão embora, tá? As vezes não é escolha nossa... Eu senti muito sua falta e foi muito bom ter passado esse tempo com você... Me ensinou a amar denovo mas agora eu tenho... Eu tenho que...
- Agora você tem que estragar tudo denovo não é? Isso é bom pra você? Essa droga de que não pode estar próxima demais? Toda vez que você gosta de alguém você foge! Você foge, Margareth... É só uma covarde.
Eu já havia cansado.
Cansado de tudo.
Ela sempre ia embora.
Margareth não aguentava precisar de alguém, acostumar com alguém, querer alguém.
Ela precisava da saudade, precisava ir embora.
Eu esperava que ela ficasse e gritasse comigo.
Do jeito que ela sempre fazia.
Eu estava esperando ela jogar na minha cara o quanto eu era sem graça e não conseguia manter a gente interessante, que ela se cansava e precisava da saudade pra querer voltar.
Eu estava esperando um sermão.
Mas não foi o que eu tive.
Margareth ergueu a cabeça e, com os olhos na altura dos meus, a cinco centímetros de mim, eu vi aquele olhar.
Como se percorresse cada milímetro do meu rosto, tentando guardar na memória.
Não era como das outras vezes que ela foi embora.
Dessa vez, ela não queria brigar.
Ela só queria guardar aquilo.
Dessa vez, ela não pretendia voltar.
E eu só fui perceber isso quando ela já havia virado para a porta.
Em dois segundos, no desespero de alguém que percebeu que era o último momento, puxei sua mão contra mim uma última vez.
Puxei-a pela cintura uma última vez.
Uma última vez eu a amei.
E nós fomos nós.
Eu tentei retratar cada pedaço do seu corpo e o gosto daquilo.
O seu cheiro.
Os seus olhares.
Eu tentei guardar cada sorriso e manter meu corpo quente com o calor dela mesmo quando ela já estivesse indo embora.
Eu tentei, mesmo.
Acordei no outro dia sabendo que não a veria do meu lado.
E, apesar de eu ter tentado guardar comigo toda a lembrança das minhas mãos nela, quando eu acordei, eu sequer lembrava como era o calor do seu abraço.
Quando eu acordei, estava frio.

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