12 de fevereiro de 2018

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12 de fevereiro de 2018

Eu falava com Penny todos os dias.
Apesar de ela morar a 15 minutos da minha casa, não nos víamos.
Penny era mais velha, uns 3 anos mas meio que tudo bem.
Penny sempre me disse que ela gostava da liberdade, do gosto de não ter que dar satisfação, Penny dizia que uma bebida tem o gosto dez vezes melhor quando você sai para toma-la sem ter de se explicar para ninguém.
Penny esbanjava amor.
Por tudo, por todos.
Penny dizia que ela tinha amor demais para uma pessoa só.
E tudo bem pra mim.
Ela me fazia bem e meio que isso que importa.
Não ligo pra onde ela tá ou com quem, só ligo pra quando ela vai voltar pra mim.
Ou foi o que eu pensava.
Penny me disse que iria ir numa exposição de algo que não me lembro bem.
Jane havia me chamado para a mesma exposição e eu decidi ir.
Antes de sair de casa, tropecei em uma caixa em que costumava guardar coisas pra lembrar, ela se abriu e caiu apenas uma folha amassada, Jane gritou no portão, sem tempo, coloquei a folha no bolso e fui.
Mal cheguei e já vi os tais cabelos castanhos de Penny ao longe, ao seu lado, fios loiros a acompanhavam.
Penny ria como eu nunca vi antes, mesmo que não a tivesse visto muito, me pareceu algo incomum.
Penny e a garota desconhecida que, mentalmente, chamei de "A primeira" pelo fato de que, obviamente sabíamos quem Penny queria mais por perto ali, enfim, as duas ficaram ao longe até a exposição começar e depois, vieram até que perto de Jane e eu.
Me levantei para chegar mais perto e ouvir melhor o que os palestrantes diziam e Jane me alertou que algo caira do meu bolso.
O tal papel amassado mal foi aberto e eu já sabia bem o que era.
"Neoqeav" estava escrito por cima, bem grande.
E, ao canto, estava então uma lista de números.
15.03.15 15.05.15 15.08.15 15.10.15 15.02.16 15.03.17 05.04.17 02.07.17
Eram datas.
As datas importantes para nós.
Logo abaixo, havia outra.
13.02.18
Amanhã.
Em letras grafais, ao lado da data, estava:
"Akai Ito, afinal, a gente sempre se acha"
Caso você não conheça, Akai Ito é uma lenda que diz que quando alguém é destinado a outro alguém, nascem interligados por um fio vermelho, que nunca se quebra e nem se parte, apesar de se enlaçar.
Ou seja, dizia que independente do que aconteça, vão terminar juntos.
É, a gente se acha.
Mal terminei de pensar a respeito daquilo e de como, então, Margareth achava que ia me ver amanhã e, pelo que já deve ter visto, Margareth não costuma estar errada, e reparei no fundo do salão, a tal Senhorita Primeira indo embora.
Mal se passaram cinco minutos em que eu, já com as energias negativas, a aura repleta de indignação e saudade, vi Penny vindo em minha direção, com o mesmo sorriso do ano novo, como se ela nem tivesse ignorado minha existência em prol da Primeira hoje, apesar de que, ela sempre me disse que era muito boa com as pessoas, sempre no plural.
Penny se sentou ao meu lado e me perguntou se eu estava bem.
Eu não queria estar com raiva dela.
Tudo bem ela falar com quantas pessoas quiser, mas não consigo aceitar o fato de que ela tenha que fingir que não me conheça quando está com uma delas.
E eu estava com raiva.
E não pude olhar pra ela.
Queria olhar.
Faziam semanas que eu não a via e ela era incrível mas se eu olhasse, ia perder meus princípios, eu não podia.
E não olhei.
Penny estava muito perto de mim, Penny sorria e puxava assunto, ela fez tudo o que eu queria que tivesse feito.
Mas fez na hora errada.
E eu a deixei ir.
Simplesmente pelo fato de que eu entendia que se aconteceu uma vez, aconteceria muitas outras vezes e eu não conseguiria, sabe?
E ela foi.
Droga, ela foi.
Naquele momento eu me senti como Meg deve ter se sentido nas vezes em que me mandou ir e eu fui.
Porque eu fui?
Meu Deus.
Muitas vezes mandamos pessoas saírem, pedimos isso, tratamos elas como se fosse aquilo que queríamos.
Muitas dessas vezes, o que mais queríamos era que elas ficassem.

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