22 de janeiro de 2018, 7:56 AM.
22 dias depois.O novo ano tem se passado exatamente como o passado.
Eu acordo, eu almoço, eu assisto filme e saio passear com o Bobbie, eu janto e eu durmo.
Mas hoje não foi o mesmo.
Sempre há esses momentos.
Os momentos anti clichê.
Pegam aquilo com que está acostumado e mudam.
E nada mais fica como antes.
Acordei sem me lembrar de nada, nem de Margareth, nem da estranha bela moça do ano novo, cujo nome eu sequer sei.
Não me lembrava dos meus pais, não me lembrava de nada.
Mas lembrei.
Mal acordei e a namoradeira batia no portão.
A namoradeira é a minha vizinha da frente.
Faz tanto tempo que a chamo assim que não sei bem seu nome.
Desde que me conheço por gente ela fica na janela, cada dia com um olhar mais sonhador que o outro.
A namoradeira deveria ter seus 30 anos, e ela ainda esbanjava sua juventude.
Os olhos verdes em contraste com a pele morena dela a faziam linda e, apesar do nome, era muito feliz sozinha.
Era só tomar uma xícara de café com ela que se entendia.
Ela gostava das pessoas.
Todas as vezes que eu falava com ela, ela dizia isso.
Dizia que sempre gostou de conhecer as pessoas, ver seus defeitos e qualidades.
Ela gostava de sorrisos.
Sempre me disse que todos tinham algo de belo e peculiar.
Ela gostava de olhos.
Sempre encarava quem passava por ela e amava quando a olhavam de volta, a namoradeira dizia que não havia nada que não pudesse ser visto num olhar.
Eu sempre ia até sua casa para conversar.
Mulher sábia ela.
Mas, de um tempo para cá, acabei não indo.
E, pela primeira vez lá estava ela, com o mesmo olhar brilhante e cheio de vida, o sorriso mais estonteante que se pode pensar e a energia que fazia qualquer um ficar bem, frente a frente comigo, ainda entoando, calmamente, o seu bom dia.
Depois de certas conversas, a namoradeira já estava atualizada de todas as coisas que haviam acontecido.
Ela, com as pernas cruzadas e as mãos sobre a mesa, começou a falar:
- Você já ouviu "Se o amor é cego, nunca acerta o alvo" de William Shakespeare?
Não.
Nunca.
Mas deveria.
- Não.
- Você acha que está certo?
- Bom, acredito que sim. Nunca gostamos de quem deveríamos.
- Eu costumo acreditar em outra filosofia. Acredito que tudo o que acontece tinha que acontecer.
- E qual é a filosofia?
- Amor ainda é amor quando se fecha os olhos.
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Nós Entre Aspas
Romance"Al, por que você continua comigo?" "Porque você tem mania de mexer no cabelo quando tá nervosa... porque você acredita que as músicas soam melhores quando são ditas em voz alta e sem ritmo, por isso, todas as suas músicas são primeiramente escritas...