A RAINHA DE GONDOR - Contos da Terra Média (Livro 3)

1. Haël Greenleaf

Conta-se a história de que, antes dos acontecimentos que culminaram na Batalha dos Cinco Exércitos e na posterior Guerra do Anel, outra batalha de igual importância foi travada na fortaleza de Utumno, durante o segundo milênio da Terceira Era de Arda. Um grande exército de homens, anões e elfos se uniram para liquidar a ameaça de reviver o poderoso Ainur, Morgoth Bauglir, derrotado durante a Primeira Era. Ao final dessa batalha (descrita com mais detalhes no livro 2 de Contos da Terra Média, A filha de Valfenda), um evento de singular importância ocorreu no palácio de Meduseld, em Edoras, a Terra dos Rohirrim. Durante uma noite calma e sem nuvens, a futura herdeira do trono de Gondor e Rohan veio ao mundo, trazendo consigo a esperança de um futuro de paz e harmonia entre as raças.

A árvore genealógica da princesa de Gondor é confusa, por isso poucos realmente entendem ou conhecem o porquê da jovem moça ser herdeira de dois grandes reinos da Terra-Média. A verdadeira história é: sua mãe, Haël Greenleaf, é natural do reino de Gondor, descendente dos antigos reis por parte de pai, e por isso ela é a legítima herdeira do trono. A mãe de Haël, no entanto, pertencia à Casa de Eorl, e por este motivo, Haël também era herdeira de Rohan, caso decidisse seguir o legado de sua mãe, que abandonara a terra natal para se casar com o pai de Haël.

Ao crescer, a jovem Haël não quis assumir seu lugar de direito, e por isso ela tomou a decisão de deixar Gondor nas mãos dos regentes. Logo após a abrupta decisão, a moça foi passar uma temporada com os elfos, em Valfenda, e lá ela conheceu Lenwë, filho de Legolas Greenleaf, filho de Thranduil, rei da Floresta das Trevas. Os dois se casaram em poucos meses, e após o matrimônio, o casal se aventurou pelas terras de Rohan, a fim de conhecerem a terra da mãe de Haël, já que a moça não queria mais voltar para Gondor. Assim que chegaram à Terra dos Senhores dos Cavalos, os homens dali reconheceram imediatamente a filha de sua antiga senhora, e em menos de um ano, Lenwë e Haël já eram os governantes oficiais de Edoras e de todo o reino. O casal reinou por quase quatro anos, antes da fatídica Batalha de Utumno, na qual o elfo Lenwë foi assassinado pelos orcs. Quando o exército de Edoras se preparava para retornar à sua cidade, os homens foram surpreendidos pela notícia de que Haël esperava um filho de Lenwë, o que nos traz de volta aos acontecimentos atuais.

Cerca de oito meses após a Batalha, no meio de uma noite abafada, Haël Greenleaf sentiu pontadas de dor na barriga, e no mesmo instante ela soube que estava na hora de seu filho nascer. Ela gritou pelas criadas, e em menos de cinco minutos ela já se encontrava deitada na cama, o rosto pingando de suor, os cabelos grudando à pele. As dores ficavam piores a cada segundo, e era difícil não gritar. As idosas que cuidavam de Haël diziam para ela respirar fundo, mas cada movimento doía, a criança parecia estar rasgando seu corpo para sair. E o pior de tudo era a sensação de que estava sozinha, mesmo que várias mulheres estivessem ao seu redor.

Haël sempre imaginara aquele momento quando estava com Lenwë. Os dois costumavam conversar durante horas, divagando sobre o dia em que teriam seu primeiro filho. Lenwë dizia que seria uma menina, e que ao ouvir o primeiro choro, ele provavelmente iria chorar junto. Haël ria, dizendo que ele era mais sensível que ela, e os dois prosseguiam ainda mais imaginando os mínimos detalhes do sonhado nascimento.

Haël não esperava que fosse ser apenas gritos, dores e inúmeras toalhas ensopadas de sangue; não esperava que fosse enfrentar tudo aquilo sem Lenwë.

- AHHH! – gritou Haël, sem conseguir mais suportar. Lágrimas chegaram sem ser convidadas, uma mistura da dor do parto e da dor de perder seu marido, tudo de uma vez só.

- Está saindo – disse uma das mulheres, se aproximando das pernas de Haël. A moça não conseguia mais manter a cabeça levantada; recostou-se nos travesseiros, a dor aumentando, uma pressão insuportável na parte inferior do seu corpo. Gritou de novo, tinha a impressão de que uma faca estava cortando o meio de suas pernas.