13. Vida e morte

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Navin Yiegar havia acabado de terminar uma xícara quente de café e saído para uma fria manhã de inverno. Já era 17 de dezembro, e a Cidadela nunca presenciara um clima tão agradável: os ventos não eram tão frios, o céu permanecia constantemente nublado. O capitão dos guardas estava nos jardins, no último "andar" do palácio, fazendo a ronda matutina com seus subordinados. Todos os dias, o rapaz reunia aproximadamente cinco guardas para que andassem em basicamente todo o palácio, verificando se algo estava fora do comum, em especial após os acontecimentos recentes. Navin não se cansava daquela atividade, pois lhe permitia conversar com várias pessoas, a maioria desconhecidas, já que se tornara capitão da Guarda há pouco tempo.

No entanto, a tensão instalada após a noite do noivado era quase palpável, uma nuvem negra que pairava sobre os corações de cada um que morava em Minas Tirith. Para todo lugar que olhava, o capitão via apenas olhares desolados, expressões carrancudas e pessoas sem esperança nenhuma. Ninguém de fato sabia tudo que acontecia, exceto o círculo íntimo da rainha, por isso a sensação de medo era constante e terrível. Dois dias após o noivado, Lewis fizera um pronunciamento em público, dizendo que avisaria caso houvesse alguma melhora no caso de Haënya. Porém, esse aviso nunca chegou.

Com um aceno de mão, Navin jogou o copo de café numa lata de lixo e olhou para seus cinco guardas. Estes também não pareciam mais animados que a população, mas ao menos eram obrigados a fingir imparcialidade diante de toda aquela turbulência.

- Maethril, vá com Henn para as cozinhas. Não precisam entrar, apenas permaneçam na porta. Ling, Medron e Thine, venham comigo. Não se esqueçam de voltar para a formação na hora do almoço.

Os guardas logo obedeceram, cada um tomando seu caminho. Navin mantinha uma distância mínima entre seus subordinados, o suficiente para que eles não decidissem conversar com ele; o rapaz já estava com problemas demais.

Ao passar pela Árvore Branca, Navin notou uma idosa andando bem devagar, carregando várias sacolas em direção às Casas de Cura. O capitão acenou, os três guardas se aproximando da senhora no mesmo instante.

- Com licença, minha senhora - disse Navin, prontamente oferecendo-se para ajudá-la.

A mulher exibiu um mínimo sorriso, embora seu rosto não demonstrasse um pingo de alegria.

- Obrigada, meu senhor. - disse ela. - Quase não o vejo mais, a não ser em missões de perigo ou quando está correndo para ajudar a rainha.

O capitão se obrigou a forçar uma risada.

- As coisas têm andando bem complicadas. Suponho que tenha percebido também.

A velha o fitou com olhos incrivelmente sábios, carregados de uma tristeza refletida em seu próprio rosto.

- Todos nós percebemos, Navin. Nada tem sido o mesmo desde que vossa Majestade assumiu o trono de Gondor, e nós nunca pensamos que seríamos tão felizes. Talvez tenhamos comemorado cedo demais.

Navin não soube bem o que responder. Apenas disse, com a voz tão melancólica quanto a dela:

- Ou talvez tivéssemos querido desesperadamente algo para comemorar.

+

Sete dias após o envenenamento de Haënya, Lewis, como sempre fazia, bateu na porta do quarto da rainha e esperou Rhienam. Era noite, o relógio já indicava 22 horas quando o elfo abriu a porta, a mesma expressão de fadiga que exibira durante a semana inteira.

- Rezo a Eru para que tenha trazido notícias boas - disse ele, a própria voz do elfo demonstrava um tom de cansaço e sono.

Lewis entrou no quarto, sentindo a sensação de familiaridade e desconforto. Antes de Haënya sequer começar a se envolver com Rhienam, era ali que eles costumavam passar horas e horas conversando e discutindo sobre o governo, além de ser um lugar agradável para se lembrarem de Rohan quando olhavam pela janela. Agora, Lewis sentia uma atmosfera tão pesada que chegava a ser difícil ficar por muito tempo naquele cômodo, encarando a rainha desfalecida na cama.

A RAINHA DE GONDOR - Contos da Terra Média (Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora