17. Guerras nunca acabam

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O sol já iluminava as planícies de Gondor quando Haënya finalmente decidiu voltar para o próprio quarto e tomar um banho gelado. Rhienam a acompanhava, embora não ousasse dizer sequer uma palavra ao segui-la pelo minúsculo corredor, a porta dela ficava a apenas alguns metros de distância.

Durante a madrugada, Navin chegara, sem ninguém saber realmente como ele soubera que todos estavam ali, mas o rapaz continuou lá mesmo assim. Ficara o tempo todo ao lado de Selene, apesar de todos estarem tão concentrados na fala de Galadriel que mal notaram. O casal saiu pouco antes de Haënya, a criada primeiro e logo em seguida o noivo. Galadriel os observou por mais tempo do que o necessário, mas nada disse ao vê-los fechar a porta.

Lewis permaneceu lá, sentado imóvel como estivera a noite inteira, mal parecia estar respirando conforme a Senhora de Lórien explicava tudo à rainha de Gondor, com todos os detalhes possíveis. Quando algo faltava em seu relato, Selene se prontificava a completar.

Haënya ouvira, tomara seu tempo para refletir e ficara tanto tempo calada que Rhienam chegou mais perto dela a fim de tocar em seu braço, mas o aviso nos olhos de Galadriel foi claro: deixe que ela pense sobre tudo isso. É muita coisa para processar.

O elfo, ainda assim, sentiu a necessidade de estar perto dela. Especialmente agora, que outra coisa ruim estava prestes a acontecer. Haënya também sentira isso, pois estava pálida novamente, como se ainda estivesse doente. Ela parecia ter perdido a habilidade de falar.

- Majestade, não precisa dizer nada por ora - Celeborn interveio. Quase uma hora havia se passado desde que Galadriel terminara de falar, e Haënya ainda não dissera uma palavra. - Sugiro que... tente descansar. Faremos uma rápida reunião no horário do almoço, se for de sua vontade.

Haënya olhou-o pela primeira vez, como se não tivesse percebido sua presença ali. No entanto, ela assentiu devagar, Rhienam logo se prontificou a acompanhá-la.

A rainha chegou ao seu quarto, as paredes azuis pareciam querer sufocá-la. O próprio ar que respirava fazia seus pulmões doerem, a dor se alastrava por cada célula. Não conseguia acreditar em tudo aquilo. A voz da elfa ainda reverberava em sua mente, palavras separadas surgiam sem serem convidadas: noivado, veneno, Heleth, Elian, sequestro, deusa. A última fora a mais assustadora, a que ainda provocava arrepios mesmo quando Haënya saiu do banho e se deitou sob várias cobertas grossas. Uma Valier, um ser poderosíssimo do ínicio dos tempos, invadira seu corpo, mesmo que por poucos segundos.

Ela não sabia o que realmente sentia em relação a isso: gratidão por ter transmitido o aviso sobre Heleth, ou medo de se tornar refém de tal poder novamente. Mas era isso que precisava acontecer, de acordo com Galadriel. Agora, ela precisaria tomar o veneno de novo e permitir que a deusa a possuísse uma última vez, a fim de descobrirem o paradeiro de Heleth e sua família. Uma vida para salvar várias. Era um pedido minimamente justo, mas a rainha de Gondor não estava preparada para isso, muito menos a garota por baixo do título.

Haënya mal tivera dias inteiros para aproveitar ao lado de seu futuro marido, mas ainda assim tudo seria arrancado dela caso aquele plano desse errado. Caso o veneno tivesse um efeito permanente, ou mesmo se não tivesse, havia o grande risco dela permanecer num estado vegetativo por sabe-se lá quanto tempo.

- Separei roupas para quando sair do banho - disse Rhienam após um tempo. A noiva estivera fitando a janela desde que entrara no quarto, acompanhando o nascer do sol se espalhar pela cidade de Minas Tirith e os campos além. O elfo teve tempo suficiente para escolher uma roupa decente, além de encher a banheira de água e adicionar sais perfumantes ali.

Haënya olhou para baixo, como se não soubesse o que dizer. Não queria que ele visse a dor estampada em seus olhos, apesar de ter certeza de que a mesma dor morava nos dele.

A RAINHA DE GONDOR - Contos da Terra Média (Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora