18. Laelin e Galadhil

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Morta.

Galadriel não precisou analisar o pescoço da rainha de Gondor para saber que ela se fora, o corpo drenado pela força sobrenatural de ser possuída por uma Valier. Haënya estava suada quando a elfa se aproximou dela, muito tempo antes, as mãos a viraram com cuidado ao puxá-la para seus braços.

A Senhora de Lórien não se lembrava da última vez que chorara, mas ali estava, lágrimas brilhantes caíam no rosto inexpressivo de Haënya. Poderia dar a impressão de que morrera dormindo. As gotas de suor em cada lado do rosto já haviam secado.

A jovem tentou lutar, mas fora inútil. Galadriel sequer conseguia imaginar o que ela deveria ter sentido ao perceber que outra pessoa tomava seu corpo, pela terceira vez e da forma mais absoluta possível.

Celeborn aproximou-se dela por trás, ajoelhou-se para observar o corpo estendido sobre os braços de Galadriel.

- Tão jovem - murmurou ele. Usou uma mão para limpar as lágrimas da esposa, e a outra para fechar os olhos de Haënya, que ainda estavam abertos. Azuis. Vítreos.

- Precisamos avisar aos outros - disse Celeborn. - Faltam menos de quatro horas para o meio dia.

Galadriel olhou pela janela. O sol já havia nascido, mas ela não se lembrava disso.

- Ainda era madrugada quando Elbereth chegou - sussurrou ela, a voz rouca.

Celeborn assentiu.

- Você já está segurando Haënya desde as 2 da manhã - explicou ele, deixando a elfa ainda mais surpresa. - Seis horas atrás.

A Senhora de Lórien quase pulou ao ouvir isso, mas permaneceu segurando a rainha de Gondor ao responder:

- Por que não me avisou logo? O prazo já está acabando.

- Todos precisarão de um tempo para o luto. E você é quem precisará manter todos unidos agora. Rhienam não conseguirá, sabemos disso. E Lewis... ele precisa estar firme ao menos no resgate da esposa. Antes disso, seremos nós.

A Senhora de Lórien enxugou o restante das lágrimas.

- Selene irá nos ajudar. Ela é forte, saberá como lidar com os outros.

Celeborn assentiu. Se realmente faltavam apenas quatro horas para o prazo estipulado por Elian, precisavam se apressar. Contar aos outros o que acontecera naquela noite e planejar o próximo passo, embora o primeiro fosse o mais difícil de todos.

- Irei chamar os outros até aqui - o elfo sugeriu, já que mover Haënya seria bem mais dificultoso àquela hora da manhã. O quarto era próximo ao Salão Principal, visível o bastante para qualquer pessoa que passasse por ali.

Galadriel não disse nada. Tentaria trocar a roupa de Haënya, passar um pano molhado em seu rosto antes que os outros chegassem.

- Celeborn - chamou ela quando ele estava prestes a abrir a porta. O elfo a olhou com nada além de cansaço. - Não diga nada até que cheguem aqui.

O elfo saiu para o corredor num passo firme, deixando Galadriel para trás com a rainha morta nos braços.

+


Um vestido branco e longo fora colocado na rainha de Gondor, as mãos dela juntas sobre o peito não mais se mexiam. Os cabelos haviam sido limpos e penteados, a face serena de Haënya revelava calmaria e paz.

Ao lado dela, Rhienam de Lothlórien chorava. Uma cortina de lágrimas cobria o seu rosto, afundado nos lençóis da cama, uma das mãos segurava a mão fria da esposa. Galadriel permitira que ele ficasse quinze minutos a sós com a jovem, pois só faltavam duas horas para o meio dia, e ela sabia que o elfo não conseguiria sair dali sem ter um momento com Haënya; o que sobrou de Haënya.

A RAINHA DE GONDOR - Contos da Terra Média (Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora