Dália
Levei-o para uma sala vazia, pela ausência de móveis, nossa voz ecoava naquele lugar. Cada passo, cada suspiro.
Eu precisava de coragem para isso. Eu sabia o que Jack ia fazer, pois, eu quis fazer isso há muito tempo.
Paramos frente a frente.
– Dália. — Seu tom de voz estava baixo, mas recheado de dor. — Você sabe porque estamos aqui.
– Eu sei… Está na hora de pôr um fim nisso. — afirmei. — Nós nos amamos pra valer, Jack. Mas nós realmente precisamos pôr uma pedra no que tivemos.
— Eu te chamei exatamente por isso. Tenho conhecimento de que nós ainda não tínhamos tido essa conversa antes talvez por falta de coragem de ficar cara a cara sozinhos um com o outro, depois de tudo. E eu confesso que ainda te amo, mas nem todos os casais foram feitos para ficar juntos, apenas para se amarem, e acho que esse é o nosso caso. — Ele se segurou para não permitir que a lágrima rolasse entre seus olhos, mas foi em vão. — Nós fizemos história. Demos vida a uma menina de luz, e apesar do que todos diziam, ela não é um monstro. E só por isso, tudo valeu a pena.
Jack é um homem nobre. E talvez tenha sido isso que tanto me atraiu nele.
— Vince é um bom homem. E há dezoito anos eu não pensei nos sentimentos dele, antes de fazer o que fiz. Mas hoje em dia não, eu sei o homem que tenho ao meu lado, e eu o amo. O que me dói, é que eu também amo você. Mas nós realmente não podemos estar juntos. — confessei. — Não me arrependo do que houve entre a gente, e nem tentarei te apagar da minha memória. Mas nós iremos ter que conviver próximos, por conta de Elena, e aquele clima estranho no ar não pode mais existir. Há muitas complicações entre nós, e isso tudo vai além de nossa compreensão. Eu quero continuar sendo sua amiga.
Estar tendo essa conversa é mais difícil do que imaginei que seria.
— Posso te abraçar? — perguntou Jack, abrindo seus braços.
— Sim. – Fui de encontro com seus braços, e mergulhei em seu ombro.
Tenho certeza que sentirei saudades disso.
— Você foi, e sempre será, a mulher da minha vida. — disse ele, já se afastando de meu abraço, e indo em direção a porta.
Nos encaramos, e ele enfim saiu.
Sentei-me no chão, e uma série de memórias me bombardearam, mas uma que fez meu coração bater mais forte, foi a do dia em que nos beijamos pela primeira vez, meses depois da morte de minha mãe, Cassi Swale.
Estávamos sentados num campo de girassóis azuis, flores exclusivas de Northmoss. Perdíamos-nos diante a imensidão dos tons de azuis, que tinham um contraste perfeito com a luz do sol.
Éramos invisíveis a qualquer um que olhasse, as flores nos cobriam totalmente.
Peguei uma das flores, e brinquei de bem me quer, mal me quer.
— Você sabe que bem te quero. Não precisa de uma brincadeira com pétalas de girassol para saber disso. — afirmou Jack.
— Não seja estraga prazeres. — falei, sorrindo.
Arranquei a última pétala, e deu em bem me quer.
— Bem como você disse. — afirmei.
— Agora que você já tem sua confirmação, permita-me. — Ele estava chegando mais perto de mim, e aproximando nossos rostos. — Se permita sentir, Dália.
— Eu permito. — assenti.
Nossos lábios estavam cada vez mais próximos, e a respiração ofegante. Meu coração batia forte, e bateu mais ainda quando nossos lábios se encostaram, selando um beijo. Meu corpo se aqueceu, e parecia não ter mais nada ao nosso redor, apenas nós dois. Desejei que aquele momento fosse eterno, mas, não foi.
**
Após lembrar disso, enfim voltei a realidade. Percebi que eu estava suada. Aquelas lembranças me tiraram o fôlego, e apertaram mais ainda meu coração. Mas foi necessário, para o bem de minha família, para o bem de Northmoss, e melhor, para o meu bem.
O que eu tive com Jack foi uma paixão forte e ardente. Um desejo insaciável, mas ao mesmo tempo irresponsável.
Quando eu me casei com Vince, eu não tinha consciência do quão errado era uma traição. E mesmo depois de ter cometido tamanho adultério, ele me amou, esteve do meu lado e me perdoou. Cuidou de Elena como se fosse sua filha, e se não fosse ele, ela teria sido morta pelos Snapes.
Eu devo tudo a Vince. E estou convicta de que não o desapontarei, nunca mais.
Saí do lugar onde eu estava, e me desloquei para o salão principal.
Vince estava confuso, cheguei perto dele.
— Coloquei uma pedra no meu passado. Eu não te decepcionarei. — afirmei, olhando em seus olhos verdes. — Eu te amo.
— Eu também te amo. — disse ele.
A maioria da minha família estava presente lá. Então aproveitei a oportunidade para anunciar a festa.
Subi os degraus da escada, e parei no último, onde todos seriam capazes de me ver.
— Iremos começar a organizar o baile de Northmoss hoje. Em celebração a paz. Sei que esse ano já teve um, mas esse será um extra, pois agora sim, está tudo realmente em paz. — falei. — Todas as famílias estão convidadas, incluindo os Snapes. Estou ansiosa para saber quem é o novo representante deles.
Depois de tanta morte, tanto sofrimento, tantas reviravoltas, eu finalmente senti o que é a verdadeira paz.
Elena nos trouxe isso. Sem ela, Northmoss continuaria sendo o que era antes. Ela iluminou novamente esse lugar, me trouxe alegria, um motivo pelo qual continuar lutando. Trouxe o filho de Adela de volta, uniu famílias.
Eu não me arrependo de nada do que fiz. E depois de tantas decepções, eu finalmente acredito que existe um destino. Elena é a peça que faltava no quebra cabeça, ela consertou tudo.
Elena é, e sempre será, a luz que ilumina este lugar.
A minha casa, o meu lar, Northmoss.
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Uma gota no oceano
Fantasy[Concluído] Desde muito nova, Elena se sentia deslocada em relação ao lugar onde vivia. As pessoas, os costumes, todos pareciam indiferentes ao seu ponto de vista. Porém, isso nunca afetou a sua vida de forma direta, ela fez amigos, e se divertiu en...