Capítulo 16 - Réu

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O ar estava frio e não se ouvia nenhum barulho fora dali, um lugar apertado, sufocante e amedrontador. Camie despertou ainda um pouco atordoado com uma goteira que despejava seu líquido na sua testa. Tentou recobrar a consciência aos poucos, mas ainda se sentia ligeiramente cansado. Sentiu uma corrente gelada de ar passar por suas narinas e sua visão ainda estava embaçada. Pôde apenas decifrar onde se encontrava (ou tentou), ele estava sentado em uma cadeira de cozinha e não conseguia mexer suas mãos. Uma câimbra fina e aguda percorria por todo os seus braços pois estavam atados por de trás da cadeira. Depois de tanta insistência, conseguiu recobrar o foco pouco a pouco,e à sua frente, pôde ver uma mesa de acácia já desgastada pelo tempo. Olhando para as paredes em volta, constou que não estava em uma sala qualquer, havia fortes infiltrações que brotavam das paredes de tijolos acinzentados e havia canos de metal enferrujado que se estendiam de um lado à outro no teto. À sua frente havia uma porta do mesmo material com uma fresta na altura dos olhos para visualizar quem estava ali do lado de dentro. Camie ainda um pouco fraco, tentou soltar as amarras de suas mãos mas foi totalmente em vão, tentou ainda por mais duas vezes quando ouviu uma voz reverberar do outro lado da porta.

─ Ele acordou!

Depois de uma curta pausa de tempo, a porta, com um barulho de metal arranhando metal, se abriu. Camie levantou a cabeça para encarar quem estava entrando lá.

─ Por que você está fazendo isso? ─ indagou Camie com a voz enfraquecida.

─ Eu disse, não disse?! Você não sairá daqui enquanto não me der respostas! ─ respondeu Noah ao empurrar a porta do lado de dentro para fechá-la.

─ Vocês estão loucos? Olha o que você está fazendo Ethan! Nós somos a única família verdadeira agora um para o outro! Vai esquecer tudo o que nós vivemos?

─ Chega! ─ bateu na mesa. ─ Chega Camie! Não tente fazer chantagem emocional! Eu já estou cheio de você tentando ocultar o óbvio. Abra a maldita boca e fale de uma vez!

Um rápido silêncio preencheu o momento. Eles se entreolharam como dois desconhecidos, ambos aguardando para quem daria o próximo comentário.

─ Eu devia ter estranhado ─ continuou Camie. ─ Você estava olhando demais para a minha xícara, colocaram algo na minha bebida, mas... Não era remédio, era alguma... Droga?

Noah não estava muito interessado em querer responder, mas satisfez a curiosidade de Camie.

─ Uma erva! Capaz de derrubar um elefante por algumas horas ─ comentou sério. ─ Acabei sabendo agora que o pai da Karen as cultiva no jardim, veio em boa hora! Então, como se sente? Ainda um pouco atordoado? ─ terminou com ironia.

─ Karen?! A garota que apareceu no Café? Ela não é sua namorada, não é? Vocês armaram para mim. Por que?

─ Você não está em posição de fazer perguntas Camie! Me responda de uma vez! Por que estava fugindo dela? Foi porque ela te viu no hospital? O que estava fazendo lá de tão interessante que ficou acuado com isso até agora?

─ Você está agindo irracionalmente. Por que está batendo tanto nesta tecla?

─ E porque não me responde?! Fugir do assunto só te torna mais culpado ainda!

─ Por que acha que eu sou realmente o culpado pelo o que aconteceu com o seu amigo?!

Noah cerrou os dentes, aquela foi a última gota, ele se aproximou da mesa rapidamente, agarrou Camie pela gola da camisa e armou a outra mão fechada contra ele, pronta para ir de encontro ao seu rosto, mas ele não fez. Depois de grunhir por um rápido momento, soltou a camisa de Camie o empurrando contra o lado contrário e o garoto quase despencou ao chão com a investida. Noah enfiou a mão no bolso esquerdo e tirou de lá um canivete. Posicionou-se atrás de Camie no mesmo instante.

XIII - Lágrimas na Chuva (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora