Capítulo 1 - Acaso

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PRIMEIRO ATO

A chuva fraca que caía, levantou uma pequena camada de poeira no beco estreito e deserto, em uma noite triste, no qual não se ouvia nada além das gotas batendo sobre a superfície metálica de uma velha lata de lixo à espreita, poças cobriam quase todo o chão, e mais à frente, passos não tão ligeiros levavam uma postura cansada até o outro lado do beco solitário. O caminho logo chegou ao fim, e a luz da Avenida Principal atingiu os olhos do rapaz em cheio.

Ele tinha altura mediana, moreno de pele clara e cabelos castanhos, lisos, no alcance dos olhos. Recuperando a visão, a chuva começou à ficar mais forte, e a ideia de procurar um abrigo, rapidamente preencheu a sua mente. Olhando atento de um lado à outro, ele avistou um estabelecimento aberto, à cerca de trinta metros dali.

Café Rose dizia o letreiro, "Bem, tem que servir", ele pensou com uma expressão serena ao adentrar pela porta que cedeu um pouco antes de abrir, caminhou um pouco, e sua atenção logo se voltou para uma das janelas de vidro, observando a chuva cair do lado de fora. Desde pequeno, Noah sempre teve um certo tipo de atração pela chuva, o som, a forma como as gotas refletiam o vislumbre das luzes, a sensação, era como se ele entrasse em um mundo só seu, um mundo no qual a solidão, o desprezo, a dor, eram lavados de seu corpo, mesmo que por um breve momento, ele se sentia realmente bem, esquecendo todo o mundo à sua volta. Sua atenção se dispersou quando uma pessoa passou de guarda-chuvas pela janela, entrando logo em seguida.

 Sua atenção se dispersou quando uma pessoa passou de guarda-chuvas pela janela, entrando logo em seguida

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─ Olá, eu sou Karen, em que posso ajudar?

Ele ouviu uma voz atrás de si, virando-se para verificar, era uma garota magra, pele clara e cabelos ruivos atrás do balcão, com um leve sorriso estampado, as pequenas sardas no seu rosto quase não eram notáveis. Ele hesitou um pouco antes de falar:

─ Ah, oi... café, eu quero um café, sem açúcar por favor. ─ ele tentou recobrar o foco para a moça, um pouco que atordoado.

Sentou-se em uma mesa próxima ao balcão, enxugando os braços com as mãos que ainda estavam ligeiramente molhados dos respingos da chuva, e, em um ato involuntário, ele olhou de relance para a direita e observou a pessoa que havia entrado antes de Karen o tirar a atenção, era uma garota, estava sentada à três mesas de distância, e que aparentemente não demonstrava nenhuma emoção sequer no rosto, seus cabelos ondulados tiravam o foco do que ela parecia segurar um livro.

─ Aqui está. ─ disse Karen ao encobrir totalmente sua visão. ─ Seria incômodo se eu sentasse aqui com você? ─ ela lançou um sorriso meio desajeitado.

─ Ah, não, pode sentar sim. ─ ele mais uma vez tentou recobrar a consciência ao falar com ela. ─ Quer dizer, se estiver tudo bem em você fazer isso no horário de trabalho.

XIII - Lágrimas na Chuva (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora