Capítulo 19 - Cadáver

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A porta de ferro foi aberta produzindo um barulho fino e agudo, já não estava tão relutante em querer abrir depois de passarem a usar ela com mais frequência. A luz que vinha do lado de fora, preencheu o cômodo sorrateiramente e logo em seguida, a pessoa que havia entrado acendeu as luzes do cômodo. A lâmpada zumbiu e piscou algumas vezes antes de manter-se firme com seu feixe de luz. Camie levantou o rosto devagar, pois estava com os olhos meio cerrados e tentando adaptá-los a rápida mudança de luminosidade. Sua visão desembaraçou e ele pôde constar que Noah havia se aproximado mais, estava de calças escuras e uma camisa xadrez, carregando uma bolsa masculina. Camie então imaginou que ele supostamente iria para a escola depois dali.

─ Então? ─ começou Noah. ─ Já decidiu se vai me contar algo?

Camie não respondeu. Não esboçou reação em seu rosto. Apenas o observou por um instante e depois abaixou a cabeça novamente.

─ Bom, seja como você quiser! ─ completou Noah.

Camie continuou imóvel.

─ Com isso você está destruindo todas as lembranças boas que eu tenho de você! ─ falou de novo, dessa vez com mais raiva no tom de voz. ─ Destruindo aquela visão que eu tinha de você.

O silêncio de Camie permaneceu, foi nisso que Noah irou-se ainda mais com a decisão, remexeu dentro da sua bolsa e tirou de lá um velho caderno pequeno, arremessando-o na direção de Camie. O caderno bateu na parede próximo ao seu rosto, quase o atingiu e caiu aberto ao chão logo em seguida.

─ Você foi uma das minhas fontes de inspiração!

Noah deu as costas, irado. Desligou as luzes e saiu da sala ao dizer essa última frase. Karen fechava a porta novamente e Camie aproveitou o último facho de luz que abandonava o local para observar o caderno, ele acabou caindo na água que estava empossada no chão. As folhas se entrelaçaram e Camie só conseguiu ler uma frase das frases escritas ali antes que a porta se fechasse totalmente: “Nós mesmos criamos a nossa própria destruição”.

─ Acho que ele não vai dizer nada. ─ comentou Karen.

Caminhava pensativa ao lado de Noah. Seu corpo estava ali presente, mas seus pensamentos estavam longe, ela não conseguia compreender o porque da relutância de Camie em contar a verdade. Valeria mesmo a pena deixar que seu corpo sofresse em troca da ocultação do que ele sabia?

─ O que nós faremos se ele não quiser falar? ─ ela continuou. ─ Você vai deixar ele naquele estado mesmo? Com fome, cansado, com sede?

─ Não sei! Ele já deveria ter dito algo. Foram quatro dias, isso me preocupa.

─ E se… E se acontecer algo com ele? Adoecer, ou até mesmo…

─ Ter que fazer isso está doendo em mim de uma forma que você nem imagina, Karen.

Ela olhou para Noah com aflição.

─ Nunca quis levar isso à sério e o Camie sabe disso! Sabe que eu não vou suportar ver ele naquele estado e que irei acabar soltando ele. Ele sabe, e é por isso que ainda não disse nada! Está me usando através do seu próprio sofrimento.

Karen não disse nada. Noah tentou acalmar os ânimos, apesar de não ter se alterado.

─ Pensaremos uma outra hora no que vamos fazer caso ele continue com a mesma decisão, ok?

XIII - Lágrimas na Chuva (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora