XIII - Lágrimas na Chuva (Livro 1)

Capítulo 10 - Acusação

O furgão vinha em alta velocidade ladeira abaixo, e desgovernou-se na última curva para o azar de Even e o trio K.I.N. O veículo teria pego em cheio Karen e Ian que estavam andando bem próximos na frente dos demais, teria sido mais grave para Karen quando abaixou para mexer no cadarço. O furgão acabaria passando por cima dela se não fosse pela ação rápida de Ian que a empurrou no momento exato para evitar que o carro se chocasse contra ela, mas isso teve um alto preço; com sua rápida investida, Ian não foi capaz de evitar que o mesmo o atingisse. O furgão atingiu o corpo de Ian em cheio e o arremessou a metros de distância, fazendo-o parar no muro de uma construção do outro lado. O furgão descontrolado entrou pela vidraça de um estabelecimento logo após a batida, por sorte não havia ninguém lá dentro. Noah e Even despencaram no chão com o susto do ocorrido. Noah com a visão completamente turva, olhou na direção de onde Ian havia caído e avistou um enorme borrão negro envolvendo sua cabeça, sangue se espalhava por todo o local.

─ Ian! ─ gritou Noah apavorado.

Sem respostas, Noah levantou-se e correu na direção de seu amigo. A vontade de pegá-lo nos braços e tentar ajudar era só o que vinha em sua mente. Karen ainda estava jogada no chão, abalada, chorando. Noah estava prestes a tocar no corpo, mas Even jogou-se em cima dele, e os dois caíram no chão ensanguentado.

─ Noah! Não! Você não pode mexer nele ou a situação pode se agravar. ─ disse ela tentando acalmá-lo.

─ Ian! Ian! ─ Noah continuava gritando por seu nome descontrolado. ─ Me solte Even!

Ela tentava com todas as forças segurá-lo pelo maior tempo que conseguisse, de fato, o estado de Ian parecia bem grave, e se Noah tocasse no corpo naquele estado talvez só se agravaria ainda mais, mas o desespero de querer ajudá-lo impedia a compreensão de Noah das palavras de Even.

…

Com o estrondo da batida e os gritos de Noah, não demorou para que alguns moradores preenchessem a aquela pequena rua. Alguns tentavam controlar Noah, outros acolheram Karen que estava em prantos.

Uma ambulância cruzou a rua pouco tempo depois, parando no local logo em seguida. Dois paramédicos desceram e foram até o corpo de Ian, o manusearam com toda a precisão necessária para colocá-lo na maca, e depois de alguns minutos, concluiram a ação e partiram rapidamente rumo ao hospital.

Uma viatura chegou no local um tempo depois da ambulância ter saído. Um policial desceu e foi até os três que, um pouco mais calmos, estavam sentados na sarjeta,  distantes do local onde tudo aconteceu. Karen estava sentada abraçando os joelhos. Seus olhos estavam tão vermelhos que pareciam querer explodir a qualquer momento. A camisa de Noah estava completamente suja de sangue, e em seus braços tinham pequenos arranhões da queda que levou quando foi derrubado, ele estava com as duas mãos sobre os olhos e tudo o que ele queria fazer era poder apagar a imagem que estava gravada na sua mente. Aquela cena passou a atormentá-lo naquele momento ao se repetir várias vezes em sua cabeça. Even estava sentada ao seu lado e passava de leve uma mão no seu ombro para tentar acalmá-lo. O policial parou diante deles.

─ Estão todos bem? ─ perguntou sem rodeios.

Um pouco relutantes, eles balançaram a cabeça suavemente. A última coisa que queriam naquele momento era alguém perguntando algo do tipo.

─ Preciso fazer algumas perguntas, certo? Respondam-me o que souberem.

Todos permaneceram em silêncio.