• TERCEIRO ATO •
Karen estava na cozinha terminando de bater uma massa rígida de trigo quando ouviu o sino da porta do Rose tilintar. Olhou para trás e não viu seu pai, supostamente estava ocupado com os pães no forno, e na área onde se encontrava, não era possível ouvir quem entrava no estabelecimento.
─ Deixa que eu atendo! ─ disse ela esperançosa de que Samuel tivesse ouvido.
Ao sair pela porta da cozinha, deparou-se com a postura de alguém conhecido sentando-se nos bancos do balcão.
─ Camie?! ─ disse surpresa. ─ Achei que tivesse ido embora depois de tudo aquilo.
Ele sorriu.
─ Eu vim ver você. Não podia ir sem antes ver esse rosto macio e delicado uma última vez.
─ Seu dinheiro é bem vindo aqui, não as suas cantadas cafonas e medíocres!
─ Hahah! Curta e grossa. É isso o que eu adoro em você! Tenta ser rude para esconder a delicadeza e fragilidade que existe em você.
Karen não disse nada, o encarava com um olhar de menosprezo que podia ser lido como, "Tá! E daí?! Quem liga para o que você fala?". Camie ficou um pouco mais sério, tentou falar as próximas frases com mais maturidade, com certa "preocupação".
─ Mas, eu também vim aqui atrás do Ethan. Não o vi desde aquela última vez em que saiu abalado porta afora.
─ Eu também não tive muito contato com ele... Quer dizer, não tive mais nenhum tipo de contato. ─ comentou pensativa. ─ Faz quanto tempo? Uma semana?
─ Um pouco mais que isso. ─ corrige. ─ E a escola? Você não o viu por lá? ─ perguntou preocupado.
─ Eu não tive muito tempo de ir à escola essa semana, meu pai teve muito trabalho, então tive que ajudar.
─ Que importuno.
─ Já foi na casa dele? Você sabe onde fica, não é?!
─ Tive alguns imprevistos... E só pude retornar hoje, então vim direto pra cá, acho que ele passa maior parte do tempo aqui do que na própria casa.
─ "Passava"!
Camie sacou um celular do bolso para ver a hora. Levantou-se de onde estava sentando em seguida.
─ Bom, nos vemos uma outra hora. ─ deu as costas.
─ Espera! Você vai na casa dele?
─ Sim.
─ Espera! ─ repetiu ao entrar correndo pela porta da cozinha novamente, e saiu de lá pouco tempo depois com as mãos lavadas e sem o avental que usava. ─ Vou com você.
...
Ambos entraram caminhando em um ritmo suave no beco estreito e vazio que levava à casa de Noah. Karen nunca tinha passado por ali, sabia que aquele era o caminho, mas nunca teve a curiosidade de entrar ali para descobrir sozinha onde a casa se localizava. O beco era estreito demais, uma sensação de falta de ar a deixava desconfortável, as paredes dos prédios altos e robustos que se estendiam por todo o caminho exalavam uma aura sombria, era como se um sentimento de solidão e amargura se desprendia dali e pairasse no ar em pequenas moléculas de poeira, essas mesmas concentravam-se na pele de Karen e a arrancava suspiros de agonia, sentia-se caminhando dentro das entranhas de um monstro gigante, sentia estar sendo devorada pelo tempo e espaço, ali naquele corredor, ela estava sendo esvaída pouco a pouco pela penumbra que se alojava em cada canto... Ali onde os raios de sol não conseguiam penetrar, pois o local já pertencia à escuridão. "É isso o que ele sente toda vez que passa por aqui?", pensa ela ao abraçar-se com os dois braços, não estava sentindo frio, estava tentando se proteger de algo, "Será que por sentir tanto isso... Ele já se acostumou com esse vazio?".
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XIII - Lágrimas na Chuva (Livro 1)
Ficção Adolescentegêneros: ficção adolescente/suspense/drama Vários acontecimentos bizarros acontecem próximo ao trio de amigos Karen, Ian e Noah, como o sequestro de um homem desconhecido no Café onde frequentam. Os três então resolvem embarcar em uma busca por resp...