A estrada após o fim
Camie J. Sullivan
fardo
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Karen havia acabado de guardar suas últimas peças de roupa na mala quando Camie tinha entrado há um tempo no quarto dela para conversarem um pouco antes de se despedirem.
─ ...O Noah me pediu para fazer uma última coisa para ele. ─ ela abaixou a cabeça e seu rosto foi coberto pelo seu cabelo ruivo que agora estava cortado bem curto. ─ Ele me deu uma chave, e ela abria uma pequena gaveta no antigo quarto dele. Dentro dela havia quatro envelopes, e um deles era esse remetido à sua mãe. Isso deve explicar a ela melhor do que qualquer palavra que você possa dizer.
─ Compreendo. ─ balançou a cabeça levemente. ─ E enquanto aos outros três? Para quem eram?
─ Um para Lucy, outro para Even, e o último não tinha nome algum, apenas um endereço de caixa postal, ele era também o maior deles, possivelmente tinha alguma coisa em específico nele.
─ Você não abriu para ver o que era?
─ Por que eu faria isso? Seria um desrespeito ao seu último desejo.
─ Sim, entendo, desculpe!
─ E também, eu já o enviei para o destinatário! Entregarei o de Even e Lucy hoje.
Não tendo mais o que falar, Camie apenas concordou. Guardou o envelope e fez menção em sair do quarto, mas Karen chamou seu nome e se levantou, dando-o um forte abraço, ele retribuiu e ela por uma última vez, o agradeceu novamente.
─ Vou sentir saudades! ─ ela comentou.
─ É! Eu também vou. ─ soltou ela. ─ Mas, nós ainda nos vemos por aí.
Ela concordou com um sorriso. Camie então deu um beijo na sua testa, um tapinha no ombro, a desejou sorte e saiu do quarto. Ele já tinha se despedido de Lucy, então foi embora do estabelecimento, e a garota, apenas o observou da janela de seu quarto, com o caderno de rimas que pertencia a Noah em suas mãos. Abriu em uma página aleatória e leu a seguinte menção.
"Nem sempre há uma solução, e na maioria das vezes, o adeus é a única saída"
Com tais palavras gravadas no seu triste coração, Karen lamentava-se silenciosamente ao presenciar a postura de Camie desaparecer no horizonte da Avenida Principal. Sabia exatamente para onde ele estava indo em seguida, porém, a única coisa que ela não sabia era o que viria após isso, para onde iria, já que Camie não tinha sequer um lugar para ir.
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A edificação antiga daquela casa vermelha de acácia lhe era familiar. Camie estava a observando admirado, parado em frente a rua com uma mochila nas costas e um moletom bege de capuz.
A casa em questão pertencia à irmã de Annelise e foi para lá que ela tinha ido desde quando Noah se despediu dela após assassinar seu padrasto. Anne não indagou o motivo para seu filho ter dito que ela teria que sair da cidade imediatamente, apenas aceitou como justificativa o motivo de que ela estava em extremo perigo, e então abandonou a localidade mesmo não querendo saber mais a fundo do que se tratava, e desde então nunca mais falou com Noah, o que já havia deixado-a muito aflita por não ter conseguido mais contato com ele, porém, não tinha arranjado passagens ainda para retornar para a Cidade Invernal.
Camie estava tentando reunir forças e coragem para tocar a campainha. Suspirou fundo quando notou que a porta estava sendo aberta por dentro, e para sua surpresa, Anne deu as caras e o encontrou ali parado.
─ Nossa! Camie, é você?! ─ ela saiu em disparada em direção a ele e o deu um forte abraço. Ele retribuiu um pouco apático. ─ Que surpresa recebê-lo aqui! ─ soltou-o e fez contato visual. A expressão dela mudou quando presenciou que ele estava visivelmente triste. ─ Camie, o que houve? ─ olhou atentamente os arredores em busca de algo. ─ O Ethan não está com você?
As lágrimas começaram a escorrer do rosto do garoto quando ouviu o nome de seu primo. Ele então abaixou a cabeça e fechou os olhos.
─ Tia, err... Estou aqui justamente para isso. Preciso dar uma notícia para você ─ tentou se controlar emocionalmente.
Anne começou a ficar preocupada com a atitude dele, então seus olhos passaram a ficar lacrimejantes.
─ Camie? Me diga, o que está acontecendo? ─ já estava quase implorando.
─ Nós... Ele... ─ seus punhos cerrados começaram a tremer. ─ O Ethan não vai voltar para nós.
Abalada, Anne entendeu exatamente o que ele estava tentando dizer, mas se forçou a acreditar de que realmente era verdade.
─ Não... Não! O que você está dizendo?! ─ suas lágrimas despencaram.
─ Me perdoe tia, mas... O Ethan... Está morto.
Um silêncio avassalador tomou de conta do ambiente entre os olhos arregalados de Anne com a sua expressão de dor e os soluços de Camie. O vento soprou forte e espalhou folhas secas por toda a rua naquela tarde fria e acinzentada. Bastante trêmula, Annelise não conseguiu mais sustentar seu próprio corpo com suas pernas e então caiu de joelhos. Camie permaneceu imóvel, era o seu modo de lamentar a perda de alguém tão querido. As lágrimas que o garoto segurou por todo aquele tempo foram descarregadas involuntariamente.
...
De volta ao pequeno quarto do hotel rodoviário, Camie jogou a mochila em cima da cama dura e sentou-se na mesma, levando suas mãos à cabeça e os cotovelos apoiados nas coxas. Não tinha planejado nada do que faria em seguida depois de levar a notícia para a mãe de Noah, então se encontrava exatamente neste estado agora, além de estar longe de superar aquela perda.
Por um lado, Camie tinha a chance de tomar a vida que sempre sonhou, antes de ser recrutado pela CODE, e por ainda ser dado como morto pelos seus membros, a realização desta "vida" estaria bem mais viável no momento.
Enquanto tentava organizar seus pensamentos, uma frase que havia visto no caderno de Noah martelava em sua cabeça, e essa era a maior questão que ele tinha que lidar daqui em diante; "O que resta após o fim?".
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XIII - Lágrimas na Chuva (Livro 1)
Fiksi Remajagêneros: ficção adolescente/suspense/drama Vários acontecimentos bizarros acontecem próximo ao trio de amigos Karen, Ian e Noah, como o sequestro de um homem desconhecido no Café onde frequentam. Os três então resolvem embarcar em uma busca por resp...