O relógio já batia as 21:34. Onde estava eu? Eu continuava confortavelmente deitada no sofá negro do futebolista do Sporting. Francisco parecia cansado. O seu cabelo estava desajeito mas, por alguma razão, acabava por atrair-me ainda mais. Parecia tão concentrado no episódio que tínhamos começado à minutos. Já eu, parecia não conseguir concentrar-me tão bem já que havia algo que me impedia de o fazer.
Deixei que um suspiro de frustração escapasse pelos meus lábios já desprovidos de qualquer cor que tinha o meu batom de hoje. Talvez aquela manifestação tivesse sido demasiado alta pelo que o loiro rapidamente me tomou como objeto do seu olhar.
-Está tudo bem? - Fui logo questionada. Não, não está, e a culpa é toda tua. Assenti com a cabeça, enviando-lhe um sorriso ligeiro. Ele não parecia nada convencido.
Francisco levantou o seu tronco e fez um esforço para se mover no sofá de maneira a ficar mais perto de mim. A iluminação atual da sua sala parecia deixar o ambiente tão diferente. Os tons alaranjados da luz que os candeeiros grandes geravam combinava perfeitamente com uma ou outra fraca luminescência embutida na parede.
O jovem aproveitou a oportunidade para esticar uma manta qualquer sobre a sua fisioterapeuta. Ele sabia que talvez já estivesse mais que na hora de ela ir embora e que provavelmente ela iria pedir para que ele a acompanhasse. Mas ele não queria tocar no assunto. Talvez assim ambos se esquecessem e aquela noite se tornasse mais longa. Leonor, que estava demasiado perdida nos seus pensamentos, assim que se apercebeu da ação do amigo, retornou-lhe o olhar silencioso. Não estava nada agradada.
Tomando iniciativa própria, acabou também por se erguer ficando sentada ao lado dele. Tinha uma imagem em mente, só não sabia se iria resultar. Acabou por se encostar a ele e, depois de colocar a tal manta sobre os dois, deitou a sua cabeça no ombro do rapaz. Achava que assim estava muito melhor. E ele, não admitindo, também gostava mais daquela alternativa. Colocou o seu braço por cima do sofá de modo a que estivessem bem mais confortáveis e inesperadamente beijou a sua nuca. Quase como ato inato que não pôde parar.
O meu olhar subiu até ao do rapaz que à umas semanas pensei ser só meu paciente. Num abrir e fechar, tornara-se muito mais. Alguém em quem sabia que podia contar, um amigo que não pensei vir a ter antes da viagem que mudara a minha vida. Os seus olhos acastanhados observavam também os meus e nenhum de nós se pronunciava. Sabia que talvez isto fosse tudo muito tenro, mas a nossa amizade parecia já durar à anos, tantas eram as coisas que já sabíamos um sobre o outro. Observei cada detalhe facial a que tive direito. A sua língua humedeceu os seus lábios rosados e apressadamente, desviei o olhar antes que o meu inconsciente tomasse conta das minhas ações.
- Fica aqui esta noite. - A sua voz surgiu junto ao meu ouvido, num tom tão baixo que quase me foi inaudível. Teimava em não o encarar mesmo sabendo que ele o estava a fazer. Achei que seria o melhor dadas as circunstâncias. Assim que me preparei para lhe responder fui imediatamente interrompida. - Se quiseres, claro. Eu respeito qualquer que seja a tua decisão, só não quero que isto volte a forçar.
Assim que me pronunciei sobre a minha resposta positiva, vi-o sorrir ligeiramente e não contive o mesmo ato. Informou-me que, se quisesse, poderia ir ao seu quarto e trocar a minha roupa por alguma da dele que me deixasse mais confortável. E foi isso mesmo que decidi fazer.
O seu quarto era exatamente como eu imaginava na minha mente. Tal e qual a pessoa que o costumava ocupar. Tons neutros e tão organizado. Pelas gavetas e portas, lá encontrei uma t-shirt e umas sweatpants que não me ficariam tão grandes e apanhei o meu cabelo. Coloquei a minha roupa sobre o fundo da sua cama para que, amanhã, a pudesse vestir novamente e preparei-me mentalmente para regressar ao compartimento que compartilharíamos naquela noite.
Quando lá cheguei, Francisco já se tinha acomodado. Deitado sobre o seu largo sofá, optou por não trocar de roupa visto que, como era desportiva, era confortável. Analisei todas as opções que tinha sobre onde me deitar. Nada me parecia agradar tanto como uma. Sem que ele o esperasse, retirei a manta que tinha sobre o seu corpo e fiz sinal para que arranjasse espaço para mais uma pessoa. Já que hoje tinha deixado as minhas ações serem guiadas pela minha vontade, não tomaria esta oportunidade como exceção.
Os nossos corpos rapidamente se colaram e a manta voltou a ser colocada sobre nós. Parecia surpreendido e isso agradava-me. Voltei a colocar-me numa posição favorável para continuarmos o episódio que já não fazia qualquer sentido para nós. A sua respiração junto ao meu pescoço nu, causava-me arrepios. Não queria abandonar aquele sofá na manhã seguinte. Estava tão bem.
O rapaz de cabelo loiro escuro tinha a mesma vontade mas sabia que talvez não a pudessem concretizar. Tinha também tantas outras vontades mas receava partilhá-las sozinho. O seu braço rodeou a pequena cintura da sua amiga e os seus lábios foram esporadicamente pressionados contra a zona posterior do seu pescoço. Estavam ambos cansados e sabiam que já não iam aguentar muito mais tempo. Leonor rodou o seu corpo por uma última vez de maneira a encarar o jovem. Era vísivel a troca de olhares que ela fazia sobre duas características da face do homem que a tinha nos seus braços. E eram obvias quais seriam. Quebrando o momento, depositou um pequeno beijo numa zona especial da suas bochechas quentes e sorriu-lhe. "Dorme bem, Francisco." disse-lhe ela antes de voltar a virar-se contra ele. Como resposta, ele apenas a apertou carinhosamente nos seus braços. E foi assim que decidiram dar por fim a sua noite.
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therapeutic love,, sporting cp
ФанфикOnde Leonor concorre a uma vaga de trabalho no país que a viu nascer mas vê o seu destino ser atravessado por um grupo de rapazes que vão certamente mudar a sua vida.