Camila estava responsável por fechar a sorveteria naquela noite tempestuosa. Assim que sua colega de trabalho se despediu, ela se pôs a organizar as mesas e limpar o espaço do comércio. Alguns diziam que ela era maníaca por organização e limpeza.
Ela apagou as luzes da pequena cozinha onde os funcionários faziam seu lanchinho da tarde em dias muito movimentados quando a tempestade começou a cair. Por sorte, naquele dia a garota havia decidido ir de carro para o trabalho.
Ela colocou alguns utensílios da cozinha em seus devidos lugares e, ao fechar as vidraças para que a chuva não causasse estragos em seu local de trabalho, Camila ouviu um barulho muito alto vindo do quintal dos fundos da sorveteria.
Nos filmes de terror, barulhos daquele tipo em noites chuvosas como aquela, significavam que uma pessoa inocente estava prestes a morrer.
Mas aquela era a vida real.
Ela não ia morrer.
Camila acendeu as luzes da cozinha e abriu a porta dos fundos. Uma criatura pálida com uma massa densa de cabelos pretos no que devia ser a cabeça se arrastou em sua direção. A garota soltou um grito. A coisa gritou também.
Camz tombou a cabeça, analisando cuidadosamente do que se tratava aquele ser. Não era um cachorro possuído, muito menos um vampiro faminto... era algo muito parecido com um humano.
- Será que você pode me ajudar? - a coisa resmungou - Humanos.
Camila saiu da porta, abrindo passagem para a criatura que falava entrar na cozinha da sorveteria.
Sua boca ficou escancarada quando ela percebeu que se tratava de uma garota. Uma garota muito bonita por sinal.
- Não precisa se preocupar - a estranha disse, ao perceber que a anfitriã estava iniciando uma busca por toalhas para que ela pudesse se secar - Eu não fico resfriada. Não sou como você.
Camila pôs as mãos na cintura, começando a achar que ela era algum tipo de fugitiva do hospício.
- Só falta dizer que veio de Krypton e que solta lazers pelos olhos!
A estranha ergueu as sobrancelhas, como se nunca tivesse ouvido alguém falar sobre Krypton ou Superman.
- Toma - Camila jogou uma toalha seca para ela - Não é grande o suficiente para você se secar, mas dá pra dar um jeito nesse seu cabelo.
- Como ousa falar assim comigo? - a outra ficou de pé, em posição de ataque - Sabe com quem está falando?
Camila revirou os olhos.
- Ah, claro. Esqueci. Qual o seu nome?
A estranha se pôs a secar o cabelo encharcado pela tempestade apressadamente.
- Lauren. Meu nome é Lauren.
- Seus pais tiveram criatividade... nunca vi alguém com um nome tão chique em Patrocínio.
- Não fale da minha família - os olhos de Lauren marejaram - Você não tem esse direito.
A anfitriã levantou as mãos, rendendo-se às dores da possível fugitiva de um sanatório.
- Ok. Quer falar sobre outra coisa?
Lauren assentiu, como se a ideia lhe agradasse mais que tudo na vida.
- Quero saber como sair deste mundo.
***
Camila observou a desconhecida andar por sua casa como se nunca tivesse visto uma residência na vida.
Tadinha,ela pensou, Ela deve ser uma moradora de rua necessitada.
Camz se sentou no sofá e deu três tapinhas no espaço ao seu lado, indicando para que sua convidada confusa se sentasse ali.
Depois de ter sido obrigada a tomar um banho e vestir roupas limpas que Camila lhe emprestara, a desconhecida podia mostrar sua verdadeira face para ela. A garota tinha longos cabelos pretos e olhos claros, seus lábios não eram intensamente carnudos, nem finos demais. Ela poderia ser uma modelo se quisesse.
- Eu vou deixar você ficar aqui até encontrar outro lugar para morar – Camila explicou, tentando parecer calma por ter levado uma possível órfã para casa – Tem um quarto sobrando e eu não costumo receber visitas, então...
A desconhecida ergueu a mão, interrompendo-a.
- Eu não vou morar aqui – ela resmungou, arrogante – Minha casa fica lá em cima – ela apontou o indicador na direção do teto da sala de estar – Não posso viver com os mortais.
A anfitriã estava começando a ficar irritada com aquela maluquice de morar "lá em cima". Talvez a sua visitante tivesse batido a cabeça em algum lugar e, por isso, acreditava que viera de algum lugar especial.
- Você ainda não me disse mais sobre você – Camila observou, segurando as mãos da esquisitona de olhos bonitos.
A outra tombou a cabeça para o lado, rindo sarcasticamente.
- Meu nome é Lauren – ela murmurou – Dona da melhor pontaria com arco e flecha do Olimpo.
Camila fez uma careta. Olimpo? Será que ela não quis dizer Olimpíadas? Talvez ela fosse uma atleta do arco e flecha que ainda não havia participado de uma competição em si e, provavelmente, Camila acabasse ganhando uma recompensa por encontrá-la.
- Ok – ela suspirou, ponderando sobre como deveria agir para que não achassem que ela era uma sequestradora – Enquanto você não consegue voltar para... para... para "lá em cima", você fica aqui, está bem?
Lauren assentiu, ficando um pouco mais compreensiva com as ofertas de auxílio de sua anfitriã.
- Enquanto isso... vamos fingir que somos primas e que você veio me visitar por uns tempos.
A visitante assentiu outra vez. Aquela conversa estava começando a render bons frutos para Camz.
Camila se levantou do sofá e arrastou Lauren pela casa, até encontrar o quarto vago que nenhum de seus familiares chegaram a ocupar. Não era o tipo de hospedaria chiquérrima que todo atleta olímpico espera, mas devia ser suficiente por uns tempos, afinal de contas, logo ela recuperaria a consciência e o quarto estaria vago outra vez.
- Pode ficar aqui – ela avisou, sorridente, e antes que a hóspede se apossasse do quarto, comentou: - Não quebre nada, por favor. Metade deste lugar são meus presentes de casamento.
Lauren a encarou, completamente surpresa.
- Você se casou?
Camila olhou para os próprios pés, criando forças para não chorar na frente de uma estranha que acabara de conhecer.
- Não gosto de falar sobre isso, desculpe.
- Está tudo bem – a outra respondeu, para sua surpresa – Assuntos dos humanos não devem me interessar, seria contra a minha índole.
Camz revirou os olhos. Estava bom demais para ser verdade.
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Meu Cupido Deve Estar Louco
FanfictionApós um desastre catastrófico em pleno Dia dos Namorados, Afrodite decide castigar uma de suas filhas, Lauren, e a envia para o mundo dos mortais como punição. Será que tal divindade irá sobreviver bem à isso? #1 lugar no concurso Diamond Writters...