04 (spin-off)

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Acampamento de Semideuses de MG, 2015

O Olimpo era, nada mais nada menos que um lugar sagrado totalmente desconhecido pelos humanos e semideuses, por isso, apenas quem fosse autorizado a entrar em tal fortaleza poderia fazê-lo sem ser barrado violentamente ou, até mesmo, sem ser morto.

Espalhados pela Terra, haviam diversos lugares escondidos entre florestas, rios e, muitas vezes em prédios, onde aqueles que haviam sido gerados de uma união entre um deus e um ser humano - semideuses - poderiam viver com seus iguais e serem treinados para usar os dons que, por ora, herdaram do lado divino de sua árvore genealógica. 

No Brasil, um destes pontos se encontrava numa área pouco habitada do estado de Minas Gerais, onde a paisagem original era formada por uma vegetação densa. O tutor - aquele que era responsável pelo local - se chamava Enrique Iglesias, um homem de origem hispânica, com ar autoritária e coração bondoso.

Era uma tarde nublada, os alunos usavam roupas de inverno e, segundo os descendentes de Zeus, iria chover após o pôr-do-sol.

Enrique estava sentado diante sua mesa de trabalho, lendo os pedidos de melhorias que os alunos haviam lhe passado, quando sua ampulheta de 6cm começou a funcionar de um segundo para o outro. A areia que antes estava branca, ficou vermelha e, em vez de descer, começou a subir para a parte que estava em cima do instrumento.

Não pode ser, ele pensou.

Ele viu as crianças passarem frente à sua janela como se estivessem indo para o recreio, algumas delas, pareciam estar com medo do que poderia ter atravessado a barreira.

O homem se levantou, mantendo a tranquilidade que lhe era necessária para conseguir manter aquele lugar em ordem sem arrancar a cabeça de qualquer um que fosse naquele lugar.

- Senhor! - ele ouviu um filho de Afrodite o chamar - Parece que teremos problemas desta vez.

Enrique pôs a mão sobre o ombro do jovem, acalmando-o. Mais uma vez ele precisava manter a calma e deixar as crianças mais calmas também.

- Vai ficar tudo bem - ele sorriu amigavelmente para aquele e mais alguns jovens que se aproximavam de onde estava - É só... mais um de vocês.

Ele respirou fundo e continuou caminhando em direção à barreira, desvencilhando-se de qualquer pensamento contrário à respeito da criança que a havia atravessado. Ele ou ela, o que fosse, não tinha a mínima culpa de ter nascido em um berço tão incomum.

A princípio, ele avistou um grupo de garotas suspirando em um volume escandaloso enquanto olhavam para o recém-chegado, mas, por outro lado, havia um grupo misto de crianças que pareciam temer chegar perto do mesmo.

Enrique se abaixou ao lado do rapaz e colocou a mão sobre seu ombro. Ali estava a sua habilidade especial, identificar corretamente à qual família cada uma daquelas crianças pertencia.

O homem se assustou com o que descobriu e, ao mesmo tempo, tentou entender como aquilo havia sido feito. Aquele rapaz era uma anomalia em relação aos outros semideuses que estavam ali. Ele seria julgado pelas outras crianças e, quem sabe, acabasse sumindo no mapa em poucos dias naquele lugar.

Ele estendeu a mão para ajudar o novato a ficar de pé. Ainda ponderando sobre como deveria contornar aquela situação. Para escolher um lado, ele deveria dar as costas ao outro. Mas qual deles escolher?

Ele conduziu o rapaz pelo campo verde e florido do Acampamento, e enquanto o fazia pensou em qual lado iria privilegiar numa situação tão embaraçosa.

Bom, ele pensou, é mais fácil contornar a fúria dela do que... a dele.

Assim que entraram em sua sala e Enrique fechou a porta para que eles tivessem um pouco mais de privacidade, o novato pousou a mão sobre seu ombro esquerdo.

- O que eles fariam se descobrissem o que eu sou?

Enrique ficou boquiaberto. Ele tinha dons que nunca tinham sido vistos em seus estudos sobre semideuses. Não havia um único pergaminho que exemplificasse a linha genética daquele jovem e o que seria capaz de fazer.

- Não vou deixar que descubram - Enrique fez sinal para que ele se sentasse em uma das cadeiras disponíveis para seus visitantes e correu para fechar todas as janelas possíveis daquela sala - Se descobrirem, o Grande "Z" irá vir para matá-lo.

- Não seria Ze...

- Não diga esse nome! - o homem ralhou - Dizê-lo poderá abrir uma brecha para que ele ouça a nossa conversa.

Enrique passou as mãos pelos cabelos, começando a ficar nervoso por não saber como agir naquela situação. Quanto mais ele pensava, quanto mais ele tentava escolher uma ponta para aquele rapaz segurar e sobreviver, parecia que tudo levaria ambos para a morte.

- Já sei o que vamos fazer - o tutor se jogou no chão e arrancou a gravata que estava usando.

O rapaz permaneceu em silêncio, seus olhos estavam fixos nos do tutor do Acampamento.

- Vou colocá-lo na cabana de Hades - Enrique mordeu o lábio inferior - A fúria dela não pode me atingir tanto quanto a dele, e você tem grandes habilidades herdadas pelo deus do tártaro.

- Sim, senhor - o novato murmurou, atento a cada palavra que o seu responsável dizia.

- Mas você precisa me prometer que não irá, em momento algum, usar as habilidades dela.

O jovem concordou com a cabeça, enquanto o outro se levantava do chão e começava a se recompor.

- Meu nome é Enrique, sou tutor do Acampamento de Semideuses de Minas Gerais, espero que possa ajudá-lo no que for necessário e que possamos ter uma boa convivência.

O rapaz se levantou da cadeira e trocou um aperto de mão com o tutor.

- Eu sou Shawn, filho de... - ele pensou sobre a promessa que havia feito para Enrique antes de responder -... Hades, e farei o possível para tornar o seu trabalho mais fácil.

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Meu Cupido Deve Estar LoucoOnde histórias criam vida. Descubra agora