20:17
-Chegámos. - alertou o Eduardo desligando o motor do carro.
-Nota-se bem, este edifício chique está todo iluminado. - comentei.
-Tens a certeza que queres ir? - perguntou e a expressão facial mudou.
Toda a descontração que alguma vez existiu desapareceu. Raramente o Eduardo ficava assim, pude logo tirar conclusões de que algo estava errado.
-Estás com dúvidas de que?- perguntei à espera de uma resposta sensata.
Os olhos do Eduardo fixaram por uns segundo algo acima de mim do lado direito dele. Eu sabia que ele iria responder com sinceridade, aquele olhar nunca engana. Eduardo estava a arranjar maneira de me contar algo com lógica e verosímil, não estava a inventar uma desculpa ou algum facto na sua resposta.
-Eu omiti algumas coisas. - esperei que ele continuasse e não disse nada- O principal motivo que levou a minha irmã a pedir-me para te convidar não foi o facto de teres bons modos, mas sim de tu seres...
Ele não acabou a frase e baixou a cabeça alertando-me que estava com vergonha. Pôs os braços no volante continuando com a cabeça baixada.
-Eu percebi, mas tu sabes que eu não...
-Sim, eu sei. - encarou-me - A minha irmã foi pressionada pelo chefe e... Desculpa, nós podemos ir embora se quiseres. Ninguém vai te fazer nenhuma entrevista, no máximo só vais dar a tua opinião e só se quiseres. Não te quero obrigar a nada.
Senti a sinceridade e depois de acumular toda aquela informação tentei reagir o mais natural possível. De todas as perguntas possíveis que ele podia imaginar que eu ía perguntar esta não estava incluída.
-Tu quiseste fazer sexo comigo antes de vir para aqui porque qualquer hipótese que tinhas no fim desta noite iria desaparecer por me teres escondido o verdadeiro motivo?
-O quê? -senti-o atrapalhado com a pergunta que lhe fiz. - Não, não, não. - Fez um pausa e depois voltou a falar - Maria eu quando te vi esqueci-me de todas as minhas preocupações, deixei de pensar racionalmente, o desejo de te ter foi maior. Eu não planeei isso.
-Eduardo...
Pronunciei o nome dele ainda sem saber o que dizer, não sabia lidar com o tipo de coisa que ele disse. Não estava a mentir, pelo menos foi o que pareceu. Não podia duvidar do facto de cérebro dele ter esquecido todas as preocupações, pois, sei que isso às vezes acontece e comigo também já aconteceu.
Ele contou-me a verdade antes de eu apanhar um choque ao entrar naquele edifício e ser refém de uma entrevista ou lá o que seja. Apesar de me ter escondido este tempo todo ele corrigiu o seu erro na última oportunidade que teve. Não podia ficar chateado com ele por causa disso.-Podes não acreditar, até pode parecer uma desculpa esfarrapada, mas é verdade. Eu assim que entrei esqueci-me do que te andava a esconder e por isso toquei-te... - Eduardo explicou-se mais uma vez.
Ganhei coragem e falei - Obrigada por me teres contado, não estava à espera disto, mas pelo menos conseguiste contar-me antes que fosse tarde demais. - controlei a minha voz e continuei - Já que estamos aqui também não vamos embora. Certamente que se me tivesses contado para onde vínhamos eu teria dito que não. -pausa- Eu vou encarar isto como um desafio tentado ultrapassar aquilo que me aflige.
-Não precisas de o fazer, eu posso ligar o carro e vamos embora. - garantiu-me.
-Não quero. Vamos? Já viste as horas? Atrasamo-nos. - olhei para o relógio do carro.
Saímos do carro praticamente ao mesmo tempo, ele ainda meio em baixo aproximou-se de mim, deu um pequeno sorriso e depois, como um cavalheiro, abriu o braço para entrelaçar o meu e foi isso que eu fiz. Caminhamos em direção a uma passadeira vermelha e quando estávamos para passar a grande porta ele olhou para mim.
-Preparada? - acenei que sim com a cabeça respondendo-lhe.
De fundo ouvia-se música clássica, deixei-me levar pelo som do violino até uma senhora abordar-nos, o Eduardo mostrou os convites e informou-a que mais tarde doaria.
Percorremos um corredor entrando depois numa grande sala onde a música clássica tocava alto. Várias mesas estavam dispostas na sala, ele guiou-me até à mesa onde nos íamos sentar.-Olá Maria. -reconheci a voz da irmã do Eduardo ao cumprimentar-me ficando consciente de que aquilo não era um sonho.
-Olá Eduarda.- trocamos dois beijos. - Olá Carlos.
Cumprimentei também o marido dela, o Carlos, com dois beijos. Ao lado deles encontrava-se uma menina com uns olhos iguais aos do Eduardo, era a sobrinha dele. Ela sorriu para mim e eu devolvi-lhe o sorriso, baixei-me para ficar ao nível dela com intenção de lhe dar um abraço e alguns beijinhos.
- Olá Inês Eduarda, queres um abraçinho?- questionei.
Imediatamente a menina saiu de ao pé dos pais e abraçou-me. Adorava aquela criança, disse-lhe que tinha muitas saudades dela e que qualquer dia tínhamos que nos encontrar para um piquenique ou para brincar com barbies. Sentei-a no seu lugar, enquanto o Eduardo e a irmã iam falando. Identifiquei o meu papelinho na mesa, que estava ao lado do Eduardo e fiquei a observar outros três papelinhos das pessoas que ainda não tinham chegado. Após me sentar, voltei a ler o papel da pessoa que se ía sentar ao meu lado, mas do lado oposto ao Eduardo.
Sílvio León? Eu li bem?
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Relações ♥🖤🤍
Lãng mạnA base de todas as relações começa com uma amizade. E como se constrói uma amizade?