Prólogo

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     Medo. Uma palavra paroxítona que tem quatro letras, duas consoantes, duas vogais e inúmeras variantes.

     Todo mundo tem medo de alguma coisa. Existem pessoas que temem baratas, cobras, palhaços e a lista só aumenta. Até as celebridades têm medo. Li um dia desses em um artigo na internet que Javier Bardem tem medo de dirigir, e que Megan Fox tem medo de avião desde os vinte anos, e sempre que entra em um, tenta relaxar ao som de Britney Spears. Minha mãe tem medo de cobras até quando olha uma na televisão, ela já sente uma agonia e se arrepia toda, é inexplicável.

     Vocês conseguem enxergar a conexão entre esses medos? Não? Eu vou lhes dizer qual é: todos eles estão ligados a morte. Todo medo está ligado de forma direta ou indireta com a morte. Aviões caem; acidentes com carros acontecem; veneno de cobra mata; palhaços lembram assassinos em série graças a Stephen King e a indústria de cinema de Hollywood.

     É exatamente nesse ponto que eu quero chegar: a Morte. Demorei quinze anos para entender que o meu medo de perder minha mãe, a vó, ou o medo de não poder mais tocar em ninguém, sentir o cheiro do pãozinho da padaria do Sr. Fernandez, o contato da água em meu corpo e simplesmente não viver mais estava conectado a uma força do universo. Pode parecer bobo ter medo de algo tão natural, mas, quando se é um adolescente vazio que se sente incompleto, que se recusa a esquecer do passado e lamenta por ele, que gostaria de fazer parte de algo maior, você começa a pensar a toda a sua vida. Passado, presente e futuro, antes de dormir ou quando está tomando banho ou fazendo o número 2 no banheiro. O pior desses devaneios é ver as pessoas que você tanto gosta partindo para sempre de sua vida, e percebendo que não vai sobrando ninguém para ficar do seu lado até que se enxerga sozinho.

     Morremos sozinhos.

     — Sebastian, conte logo sua história. — Olho para o homem a minha frente e dou de ombros.

     — Só estava aquecendo. — Esboço um sorriso cínico em meu rosto.

     Algumas pessoas preferem começar a contar histórias do início até o fim, outras apresentam o clímax para causar suspense nos leitores ou telespectadores e fazê-los acompanharem a narrativa. Eu, no entanto, prefiro começar pelo dia que minha vida mudou: o dia em que morri e ganhei uma nova chance. Para muitos, a morte é o fim dos problemas, o fim da vida, porém, para mim, ela representou um novo começo. Meu fim é o meu começo.

     E meu dia começa exatamente assim:

Coração DestruídoOnde histórias criam vida. Descubra agora