Epílogo

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— Me desculpa, minha senhora, me desculpa — suplicava Connor, de cabeça baixa e ajoelhado no primeiro degrau de subida para o trono de crânios da Morte.

     A Morte estava vestida bem diferente da última vez que Celeste Wood a visitou com o anjo Samuel, antes parecia uma viúva prestes a se casar, mas ainda de luto, porém, no momento de sentenciar Connor vestia algo mais prático, um macacão de couro manga e gola longa preto, e botas de salto da mesma cor, com as pernas cruzadas, segurando sua foice, e lançando olhar severo e enojado para o Ceifeiro a sua frente. O Anjo da Morte sempre foi seu braço direito em decisões para então, de uma hora para a outra, lhe dá uma surpresa com a tentativa de homicídio a Sebastian Pear, o seu sucessor. Foi nesse momento que a Senhora dos Mortos se deu conta do quão fracassado era seu ceifeiro, que sequer derrubou um adolescente amador, mas, por outro lado, ele serviu muito bem para o desenvolvimento do sucessor.

     — Celeste. Nós fizemos um acordo, ela disse que me dava a foice se eu prometesse matar Sebastian — informou Connor, com a voz desesperada, e o enorme medo da punição que teria.

     — Eu sou a Morte, não os seres vivos que você ceifa. Eu sei toda a verdade e estou aqui pensando no que fazer com você. — Ela se levantou do trono, dando passos lentos até o Ceifeiro, segurando a foice sem arrastá-la. Uma verdadeira dama. — Sua cobiça falou mais alto, mas, jamais escolheria você para ocupar meu lugar. Você é só um dos milhões de operários da colméia, incapaz de liderar.

     Connor levantou a cabeça a ponto de enxergar a Morte, mas de ninguém conseguir ver sua face coberta por um capuz lilás.

     — É assim que você me trata depois de milhões de anos trabalhando pra você? Eu fui fiel à você! — vociferou, se levantando do chão e ficando frente a frente com a temida. — Eu tentei matar Sebastian sim, queria te provar que eu era capaz de ocupar seu lugar, e se eu tivesse a chance de matar ele, tentaria de novo. E, de novo. E, de novo.

     A Morte alisou a lâmina de sua foice e balançou a cabeça negativamente.

     — Você me provou que é incompetente. — Bateu com a foice no chão delicadamente. — E, comigo, incompetentes não têm segunda chance. — Bateu novamente no chão com a foice.

     O ar começou a se partir no meio, rasgando-se em uma fenda que pareceu apavorar o Anjo da Morte.

     — Você vai se arrepender de fazer isso comigo, sua vadia — ameaçou o homem.

     — Eu nunca me arrependo — respondeu alto, esboçando um sorriso nos lábios, girando a foice e batendo no infeliz que voou longe. A Morte deu um salto, pousando majestosamente ao lado do serviçal, agarrou-o pela capa e começou a arrastá-lo até o portal, arremessando-o e a fenda se fechando por fim.

Celeste Wood estava sozinha em casa, sua companheira Josephine Pear havia saído para fazer compras no supermercado e a senhora por sentir um mal estar, preferiu ficar em casa e tomar seu costumeiro café amargo da tarde. Estava se observando no espelho, analisando suas rugas e a pele caída, cada uma contando uma história de sua vida e do sofrimento que viveu até hoje, quando sentiu a presença de sua velha amiga. Virou-se para vê-la.

     — Aceita café? — perguntou, segurando o pires e a xícara. 

     — Só vim avisar que Connor não é mais um problema para Sebastian e nem para nós — informou a mulher, se aproximando da senhora. — Nunca mais faça algo tão precipitado assim, irmã. Não sabe o perigo que colocou todos nós.

     — Eu sei, sim — sussurrou a mais velha, colocando a xícara de café em cima da estante.

     As duas irmãs se abraçaram e permitiram-se esquecer das mágoas naquele momento.

Coração DestruídoOnde histórias criam vida. Descubra agora