Dia 2 de outubro de 2015, uma sexta-feira ensolarada em Castle Hill, os passarinhos cantavam e voavam felizes de galho em galho, de cabo elétrico em cabo elétrico, animados com o dia que se seguiria. Por algum motivo, talvez pela minha morte, não consegui dormir nenhum pingo na madrugada, até fechei os olhos e cochilei algumas vezes, mas qualquer barulho, como o de um motor de um carro me acordava. Não sabia exatamente o que estava acontecendo com o meu corpo pós-morte, mas as feridas e as dores nele pareciam está se curando, como se eu tivesse desenvolvido uma regeneração igual a do Wolverine. Porém, eu sentia a minha esgotada, nem pensar direito mais ela estava, precisava de descanso, mas, como descansar sendo que não conseguia dormir?
No caminho para a escola, tinha um terreno abandonado que antes era ocupado por um posto de gasolina. As estruturas, por mais decrépitas que estivessem, ainda estavam lá e dava um excelente abrigo caso chovesse a noite. Foi o lugar que eu encontrei para descansar após a conversa com Connor, o Anjo da Morte, mas, como disse, não consegui descansar. Foi de manhã, com a luz quente do sol, o movimento de ida e vinda de carros e ônibus, os cochichos das pessoas e o cansaço mental que eu finalmente adormeci por longas horas.
Acredito que só acordei pelo fato da luz do sol está batendo em meu rosto e um cachorro de rua está cheirando meu rosto. Movimentei a mão pelo ar, espantando o animal, e me virei para o outro lado, protegendo o rosto do sol, mas o cão não estava disposto a me deixar em paz: o líquido quente escorreu pela minha costa e eu dei um salto para o lado, ficando de joelhos e encarando o demônio de quatro patas que tinha acabado de urinar em mim.
— Seu cachorro filho da puta, você tá me achando com cara de parede ou de mato? — berrei com ele, que inclinou o rosto para o lado e ficou me olhando, depois abaixou a cabeça, cheirando a urina e espirrou, se afastou um pouco e deitou onde eu estava deitado antes.
Revirei os olhos, me levantando do chão e limpando a calça.
— Agora estou fedendo a mijo de cachorro, inferno! — resmunguei enquanto tirava o blazer e jogava ao lado do cachorro. — Pode ficar, meu presente pra você.
Caminhei para fora do terreno abandonado e fui em direção a John Castle High, ninguém havia saído de lá ainda, a não ser que estivesse matando aula. No total, demorei quinze minutos até lá, os portões ainda estavam fechados, atravessei a rua e me escondi atrás de uma árvore, e fiquei observando de longe a escola.
Vou ser sincero, quando fui para escola, não sabia exatamente o que fui fazer lá. Olhar um lugar que eu frequentei praticamente uma década ou reencontrar meus amigos igual como reencontrei a vó. Entretanto, quando vi Paul Ramirez atravessando o portão para o lado de fora da escola, com sua gangue de idiotas e babacas, a mesma raiva que tomou de conta do meu corpo quando matei Robert, estava surgindo agora.
Paul Ramirez não participou diretamente das constantes transas que eu tinha com os outros, ele deixou claro que jamais comeria o meu "rabo seco e cheio de AIDS", o que era engraçado, pois os outros garotos nem sequer usavam camisinha e estavam saudáveis. Ainda sim, ele tinha culpa no cartório. Foi na segunda série que eu e Paul começamos a não nos dá bem, ele começou a andar com a turma de amigos do irmão mais velho dele e precisava mostrar que era um valentão, então, me escolheu para tirar sarro, e eu deixei, não tinha como competir com Paul. Além dele ser uns dois centímetros mais alto que eu, ele sabia lutar, e eu era apenas um garoto de casa. A partir da quarta série, quando Ben Dubson, o melhor amigo dele, começou a falar comigo e me defender dos outros garotos que implicavam comigo, Paul espalhou os boatos de que eu era gay, e logo fiquei mal falado na escola, perdendo todas as chances que tinha com a prima de Ben, Emília Clarke.
Ser espancado, apelidado, ter perdido todas as chances com o seu amor de infância e ser chamado de gay, talvez não fosse motivo para minha vontade de matar Paul, mas, talvez o outro motivo fosse. Como disse: O Paul nunca me estuprou, e agradeço por isso, me sentiria mais lixo do que já me sentia. Todavia, ele que conseguia as bebidas e drogas que as vezes me davam para eu não ter que hesitar tanto, ficava na espreita no banheiro para avisar quando alguém viesse e, por fim, foi ele quem gravou aquele vídeo no celular de Jase. Paul Ramirez estaria morto.
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Coração Destruído
Paranormal[CONCLUÍDO] Reboot da história Coração Destruído (2015). +16. Sebastian Pear é um adolescente que já se imaginou em um filme de ficção adolescente de Hollywood ou em uma série de televisão onde se vinga de todos que lhe fizeram mal. Entretanto, na...