Capítulo 1 - Escuridão

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     — Sebastian! Acorda, Sebastian! — mamãe me chamou, puxando o lençol de cima de mim.

     — Ainda não — resmunguei, puxando o lençol para mim.

     Mamãe abriu a janela, iluminando o quarto todo. Expirei pela boca, colocando a cabeça em baixo do travesseiro, mas ela acerta uma palmada na batata da minha perna, me despertando. Tirei o travesseiro de cima da cabeça e olho para ela, irritado.

     — Caramba, para com isso. Qual seu problema? — falei já um pouco estressado.

     — Eu estou te acordando para você ir a escola, e fala baixo — respondeu com a voz alta, me fuzilando com o olhar. Ela saiu do quarto e ouço seus passos indo em direção a cozinha.

     Suspirei, frustrado. Peguei o celular debaixo do travesseiro e olho a hora. 7h15. Estou atrasado, pensei comigo mesmo. Dei um salto da minha cama, peguei minha toalha verde do Ben 10 — ganhei ela da vizinha  no meu aniversário de dez anos —, sai do quarto e caminhei pelo corredor até a cozinha, onde estava mamãe lavando a louça suja do dia anterior, passei direto para o banheiro. Uns vinte minutos depois, voltei a cozinha para tomar meu café da manhã — Nescau e dois pães com queijo e presunto —, e assim que terminei, peguei minha mochila para ir a escola, encontrando minha vó sentada na cadeira de balanço de fibra marrom na varanda.

     — Tchau, vó. — Dei um beijo na testa dela e caminhei para a saída. — Tchau, mãe! — grito do portão.

     A distância da minha casa até minha escola é de mais ou menos quatro quilômetros, que se eu quisesse, poderia ir andando, mas, ir até o centro da cidade andando quando se está atrasado para a escola não é uma boa ideia. Antes de chegar ao meu destino de todos os dias, preciso fazer duas ou três paradas. 1) Tenho que encostar na casa de Luke Mitchell e gritá-lo pelo nome 2) Ir para a parada de ônibus com Luke e aguardar Tyler  Snyder, Isaac Turner e Claire Vennet chegarem para então pegarmos o ônibus e 3) Ir a Coffee & Candy com Claire para ela comprar o café expresso e sua fatia de torta de chocolate. Ela dificilmente toma café em casa e, às vezes, os meninos também comem lá com ela quando não estamos atrasados. Felizmente a casa de Luke ficava a cinco minutos da minha, cheguei em sua casa e o gritei, torcendo para que ele ainda estivesse lá. A Sra. Mitchell é quem atendeu a porta, informando que ele já tinha ido com Tyler e Isaac que vieram atrás dele, despedi-me dela e sai andando mais rápido ainda para a parada afim de encontrá-los.

     Também não estavam mais na parada. Esse era um problema constante que sofria com os garotos, quando eu me atrasava, ninguém esperava por mim, eles apenas seguiam em frente, enquanto eu, esperaria todos, especialmente Luke e Claire, caso atrasassem. Sentia como se eu fizesse tudo por eles, e eles não fizessem nada por mim. Sempre fui inseguro e paranóico quando se tratava de amizades, meu histórico com esse gesto não é nada agradável, mesmo assim tentava ignorar algumas coisas para continuar nossa amizade, sem eles não teria ninguém e eu gostava da companhia deles — quer dizer, ainda gosto.

     Enquanto o ônibus não vinha, ficava olhando de um lado para o outro tentando evitar olhar o relógio no meu pulso ou o relógio no pulso das pessoas ao meu lado. Parei para reparar o trio de três palmeiras que ficava do outro lado da avenida, dentro do antigo hospício que fora vendido para construir um novo supermercado. Desviei o olhar delas e observei Will McCoy vindo para parada, ele também estudava na mesma escola que eu, só que estava no segundo ano. Acenei para ele, mas este me ignorou e alguns metros longe de mim, estranhei a reação dele e pensei que não tivesse me visto, então caminhei até ele, cutucando-o no ombro.

     — Por que não acenou de volta? — perguntei com a sobrancelha levantada.

     — Ah... Eu nem sabia que você estava aí — respondeu, afastando-se um pouco de mim. Ele estava agindo estranho, até sua voz estava estranha.

Coração DestruídoOnde histórias criam vida. Descubra agora