Capítulo III

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30 de dezembro de 1986, às 20h08

Os dois estavam deitados sobre a relva, o ombro esquerdo de Baltazar roçando no direito de Adria. Permaneciam em silêncio, observando o céu sem nuvens, salpicado de estrelas.

– Já pensei inúmeras vezes em morar em uma delas. – disse Adria, rompendo o silêncio. – Em uma estrela.

– Por que moraria em uma estrela?

– Estão distantes. – Ela respondeu, convicta. – A humanidade é cruel, Baltazar. O mundo caminha para um destino irremediável, em direção ao espetáculo final, em que machucaremos uns aos outros para alcançar uma salvação que não nos será concedida. Quero um lugar melhor para descansar meu peito, visto que a solidão me invade de modo arrebatador.

– Talvez você só precise partilhar essas aflições com alguém. – Baltazar segurou a mão de Adria e entrelaçou seus dedos nos dela com força, o que a fez olhar para o homem que estava ao seu lado.

Baltazar segurava um sorriso no canto da boca, o que provocou em Adria uma estranha, mas prazerosa, sensação. Ela o achava bonito, de fato. Seus olhos eram escuros como a noite, mas possuíam um brilho peculiar. Eram afiados, profundos... Hipnotizantes. Mas, naquele momento, ele não era apenas bonito, mas atraente. Adria sentia-se seduzida pelo Capitão da Polícia Militar, ela sabia disso, embora lutasse para esconder.

– Não há ninguém... – Adria disse, instintivamente. Arrependeu-se um segundo depois de ouvir as palavras saindo de sua boca, mas não quis se contradizer.

– Você está terrivelmente enganada, eu garanto. – Ele inclinou um pouco a cabeça, de modo que seu nariz tocasse no de Adria. Sentiu a respiração ofegante da garota e sorriu discretamente. Debruçou-se ainda mais sobre ela, ainda mantendo a mínima distância, não deixando que seus narizes parassem de se tocar.

A essa altura, Adria já havia fechado os olhos e deixado de controlar o desejo ardente que a envolvia. Sentiu o hálito quente de Baltazar e seus músculos se retesaram momentaneamente quando os lábios grossos do homem tocaram os seus com leveza. Ela envolveu a nuca do Capitão com os braços, puxando-o para perto, e mais perto, até que seus corpos se confundissem com um só. As bocas eram ávidas uma pela outra, procuravam-se com sede, com vontade, em uma interminável carícia, oscilante entre o fervor e a suavidade.

Adria beijou-lhe o queixo, as maçãs do rosto, o pescoço e as clavículas, mas se deteve um instante para observar novamente o olhar daquele homem que, ali rodeado por escuridão, aparentava possuir pequenos pontos cintilantes: estrelas. Foram essas palavras que ela pronunciou, o que o fez rir gostosamente.

– Quer fazer morada em minhas estrelas, Adria?

Extasiada, ela fechou os olhos e esperou que cintura fosse envolvida pelos braços musculosos de Baltazar. Ele entendeu, então, que o único significado que se encaixaria naquele momento era sim, é claro, eu quero, pois Adria respondia à sua pergunta com um beijo tão infindável quanto a extensão do universo.

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