21 de junho de 2011, 15h12
Adria sentiu o celular vibrar no bolso do jaleco. Era horário de descanso no plantão. Conferiu o visor que mostrava a foto do filho que naquele dia completava vinte e três anos. Anderson havia se tornando um homem belíssimo e de uma altivez invejável. Havia deixado o cabelo crescer até os ombros e tinha um apreço especial por sua barba. Estava no sétimo período do curso de Engenharia Civil e namorava há mais de um ano uma garota chamada Ana. Adria orgulhava-se imensamente do filho, mas sofria com as saudades todos os dias, embora soubesse que ele estava trilhando seu caminho com sabedoria.
– Oi, mãe. Tá ocupada?
– Não, meu amor. Tenho alguns minutinhos de descanso. Como você está?
– Me sinto velho. – Ele riu. Adria adorava ouvir essa risada. Gostaria de envolver o filho em um abraço interminável e beijar-lhe as bochechas. Sentia tanta falta do carinho de Anderson.
– Que todos os seus sonhos sejam realizados, meu filho. Que nada nesse mundo, nem ninguém, tire essa bondade que reside dentro de você. Você é meu tudo.
– Eu te amo, mãe. – Anderson falou. – Mas Ana está me esperando no shopping. Meu ônibus chegou. Vou correr aqui, está bem? Mais tarde nos falamos. Um beijo.
– Toma cuidado, Anderson. Me liga mesmo, viu? Vou estar esperando. Também te amo.
Adria voltou a guardar o celular no bolso. O horário de descanso estava quase acabando. Ela sorveu alguns goles de café gelado, lavou as mãos na pia do banheiro e se deteve na frente do espelho. A mulher percebeu que uma lágrima escorria furtivamente por suas bochechas. De súbito, um calafrio percorreu sua espinha, eriçando os pelos da nuca. Ela balançou a cabeça, abraçando o próprio corpo e dizendo a si mesma que apenas estava tendo um dia ruim. Estressante demais. Plantão cheio demais.
– Adria, há um paciente no consultório sete te esperando para retirar os pontos de uma sutura. – Avisou uma das enfermeiras do hospital em que Adria estava trabalhando nos últimos anos. Assim, ela desprezou o mal-estar.
No caminho para o consultório, ela sentiu novamente o celular vibrar. A foto era a do filho.
– Esqueceu alguma coisa, filho? Cadê a Ana?
– Senhora, aqui é o policial Borges que está falando. A senhora poderia me confirmar o parentesco com o senhor Anderson?
– Sou mãe dele. Onde está meu filho? – A coincidência dos nomes havia perturbado Adria. Sua voz se alterou. Sua pulsação ecoava em seus ouvidos. Ela sentiu a ameaça dos joelhos cederem ao chão e escorou-se na parede. – Onde está Anderson?
– Senhora, aconteceu um acidente com seu filho...
O corpo de Adria foi ao chão.
– O ônibus partiu antes que ele houvesse entrado completamente no veículo...
Zumbidos.
– Sinto muito, senhora. Ele não resistiu à queda.
Faltou-lhe o fôlego, um completo breu tomou seus olhos. Torpor.
– Anderson está morto.
O abismo nunca parade crescer.
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Amiúde
Short StoryFinal dos anos 80. Resistência. Adria possuía estrelas nos olhos e alma de poeta. Sonhava com a morada nos astros cintilantes que tanto observava no céu noturno, com a coragem para compreender o mundo e com o Amor. Quando faltou-lhe coragem e o Amo...