21 de junho de 1988, às 15h37
– Capitão Borges? – O soldado bateu à porta, que estava entreaberta. O capitão, que estava imerso em uma pilha de papéis sobre sua mesa, ergueu os olhos, irritado por ter sido interrompido.
– Sim, Rocha?
– É sua mulher, senhor. – Ele esperou que Borges parecesse preocupado, mas o capitão da Polícia Militar não esboçou emoção alguma. – O bebê está nascendo.
Borges sentiu uma breve contração muscular no braço. A cabeça latejava, os olhos ardiam. Ele olhou pela janela da sala a chuva torrencial que caía, transformando a cidade em um mundo cinza.
– Obrigado pela informação, Rocha. Pode ir agora.
– O senhor não vai acompanhar o nascimento do seu filho, Capitão? – Indagou Rocha, mas se arrependeu logo depois. Borges fitou-o com um olhar furioso e o soldado sabia muito bem o que aquela pupila dilatada estava querendo dizer. Calou-se.
– Eu disse que pode ir agora, soldado Rocha. Sua presença não é mais necessária nessa sala e eu tenho muito trabalho a fazer.
Baltazar Borges voltou sua atenção novamente à papelada em sua mesa. Sequer desviou seu pensamento para Adria, que naquele momento urrava de dor, sozinha, em uma maternidade do outro lado da cidade. Estava dando a luz a um bebê. E era um menino.
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Amiúde
ContoFinal dos anos 80. Resistência. Adria possuía estrelas nos olhos e alma de poeta. Sonhava com a morada nos astros cintilantes que tanto observava no céu noturno, com a coragem para compreender o mundo e com o Amor. Quando faltou-lhe coragem e o Amo...