22 de outubro de 1988, 13h15
O quarto é pequeno, mas aconchegante. Anderson acordou faminto, mas já voltou a dormir. Suas feições delicadas me proporcionam uma paz inexplicável, porém não posso deixar de notar certa semelhança com os traços do pai. Crescerá e se tornará um menino lindo, assim como era Baltazar, mas sua criação o fará um bom homem, qualidade que não posso atribuir ao Capitão.
Idália seguiu viagem. Gostaria muito de estar em contato com ela, mas não faço ideia de como. Temo que nunca mais a veja. Ela me deixou em uma pousada no centro da cidade que, por sorte, havia pendurado um aviso que estavam contratando camareiras. Os donos são um casal muito simpático, de cabelos já grisalhos, que me ofereceram o trabalho ao ver que eu trazia comigo apenas uma peça de roupa e algumas frutas. Entregaram-me a chave do quartinho dos fundos e disseram que amanhã mesmo eu poderia começar. O salário é pouco, mas terei uma cama onde descansar e algo para comer.
Estou animada. O rosto evidencia apenas cansaço,mas o coração está um tanto mais leve. Uma coisa apenas me incomoda, mas creioque seja algo de minha própria cabeça. Vivendo assustada e exposta a traumasnos últimos tempos, há um mecanismo de alerta agora dentro de mim que reconhecequalquer situação como perigo. O modo como o senhor Altamir, dono da pousada,olhou para mim assim que cheguei ia além da cordial receptividade. Talvez euesteja imaginando coisas, desconfiando de todos. Que Deus me proteja nessa novacidade.
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Amiúde
Short StoryFinal dos anos 80. Resistência. Adria possuía estrelas nos olhos e alma de poeta. Sonhava com a morada nos astros cintilantes que tanto observava no céu noturno, com a coragem para compreender o mundo e com o Amor. Quando faltou-lhe coragem e o Amo...