Machadeiro

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 Séculos atrás a cidade de Sorocaba foi fundada pelo bandeirante Baltasar Fernandes. Este desbravou aquelas terras ao lado de um grupo de aventureiros e junto a eles fez nome e fama. Não somente na região que um dia se tornaria o estado de São Paulo mas por todo o país. Conta-se que entre seus muitos feitos estaria a descoberta de três cidades perdidas na floresta amazônica.

 O grupo de Baltasar era composto pelas diversas raças e profissões existentes na época: Um padre missionário, uma índia, um escravo que, com as riquezas obtidas nas expedições conseguiu comprar a própria liberdade, e outros indivíduos. Existia entre eles, contudo, um que era temido pelos demais, talvez até mesmo por seu líder bandeirante. Isso em função de sua notória maldade e caráter duvidoso. O Machadeiro.

 Sabe-se que ninguém simpatizava com ele e o próprio Baltasar só o mantinha no grupo por causa de suas duas grandes habilidades: O combate e a mineração. Machadeiro (Seu verdadeiro nome se perdeu no tempo e dizem que nem seus companheiros na época o conheciam.) conseguia derrubar dois ou três homens sozinho em batalha valendo-se da arma que habilmente manejava. O machado. Sua perícia em mineração era quase um faro para encontrar jazidas de metais e pedras preciosas. Esta última característica, inclusive, levou Baltasar e seu grupo de aventureiros a encontrar, rezam as lendas, uma jazida de esmeraldas.

 Aqui a história se torna assombrosa.

 Logo após a descoberta e partilha das pedras, Machadeiro resolveu deixar o grupo pois acreditava ter dinheiro suficiente para levar uma vida abastada longe de aventuras. Comprou uma fazenda nas imediações da vila que um dia se tornaria Sorocaba e ali construiu um casarão. Por um tempo permaneceu tranquilo e sem incomodar ninguém até que um de seus antigos companheiros de exploração, que não tivera tanta sorte e prudência quanto ele, decidiu roubar-lhe os tesouros.

 As histórias não contam quem foi o pobre-diabo que teve essa ousadia mas fato é que Machadeiro surpreendeu-o no ato e não pensou duas vezes em dar cabo de sua vida, esquartejando-o ainda vivo com seus machados. Dizem essas histórias que na mesma noite o assassino derrubou uma árvore, construiu um caixão com sua madeira e nele enterrou o ladrão. A partir de então fazia o mesmo com todos que tentavam invadir sua morada e roubar-lhe as posses. Esquartejava vivos os ladrões a machadadas, derrubava uma árvore e construía o caixão no qual sepultava o infeliz.

 Acabou que Machadeiro também morreu um dia, de velhice, sem revelar a ninguém o paradeiro de seus tesouros, ouro e joias escondidos. Os anos passaram e muito tempo depois o casarão de Machadeiro tornou-se a casa principal de uma fazenda construída por um barão do café na época e, mais recentemente, um condomínio fechado na região.

 Conta-se que um dos poucos a descobrir o paradeiro do ouro do Machadeiro foi o dono de uma serralheria que forneceu material para a construção das primeiras casas que foram erguidas nesse condomínio. O pobre homem desapareceu da noite para o dia depois de contar aos filhos que havia encontrado algo na escavação dos alicerces de uma das casas que ajudava construir. Os pedreiros, inclusive, relataram que, na noite seguinte ao desaparecimento do homem, ouviram durante a madrugada o som de um machado sendo usado nas árvores, ao longe.

 E até hoje os sorocabanos mais antigos sabem que se tiverem o infortúnio de encontrar o ouro do Machadeiro serão perseguidos e assassinados por seu espírito maligno que, depois de matá-lo, derrubará uma árvore para construir seu caixão e sepultá-lo num local onde seu corpo jamais será encontrado.

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