História de Caminhoneiro

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 Meu pai costumava contar histórias da época em que era caminhoneiro. Esta é uma delas, acontecida não com ele e sim com um amigo de trabalho.

 Esse homem estava numa longa e cansativa viagem, transportando carga de um estado para o outro, quando começou perceber sinais de cansaço e fadiga. Mais que depressa procurou um desses postos de beira de estrada para que pudesse encostar o caminhão num pátio, comer alguma coisa, deitar, dormir e no dia seguinte, seguir viagem logo cedo. A estrada pala qual viajava era deserta e erma, mas bem conhecida desse caminhoneiro. Alguns quilômetros a frente, como calculava, visualizou o posto de parada.

 O lugar se situava, literalmente, no meio do nada. Era circundado por uma mata densa e o único contato com a civilização se dava através da estrada pela qual o amigo de meu pai vinha. Salvo dois ou três caminhões estacionados, distantes uns dos outros, e alguns poucos clientes dentro do restaurante, aquele posto estaria deserto.

 O caminhoneiro estacionou numa das extremidades do pátio, que ficava mais próxima da floresta. Foi até o restaurante e conseguiu jantar e tomar um banho quente antes de voltar ao caminhão para dormir. O sono logo chegou.

 Algumas horas depois foi acordado pelos latidos insistentes de um cachorro a distância. Já era alta madrugada e, à exceção dos tais ganidos, tudo estava quieto. O rumor parecia vir de algum lugar dentro da mata adjacente e, aos poucos, foi chegando cada vez mais perto. O homem ouvia o cão latir num determinado ponto, silenciar por uns instantes, e voltar a latir em outro lugar mais próximo. E assim foi até que o animal estivesse latindo no pátio, ao lado do veículo.

 Incomodado com a algazarra o homem levantou-se e, ao olhar pela janela, viu não um cachorro, mas outro homem, em pé, próximo da porta do veículo, parado na escuridão. Antes que o amigo de meu pai pudesse fazer qualquer coisa, esse desconhecido começou investir violentamente contra o caminhão, esmurrando e chutando a lataria, tentando arrombar a porta. Tinha uma força incrível. Movia-se, também, com tamanha velocidade que o caminhoneiro mal podia divisar sua forma na penumbra. Assustado, o motorista não pensou duas vezes em pular para o banco da frente, ligar o veículo e partir de lá o mais depressa possível, tomando o rumo da estrada sem pensar em olhar pra trás.

 Nunca mais voltou para o tal posto e, segundo meu pai contava, dispensava de imediato trabalhos que o obrigassem a passar novamente por aquela estrada.

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