Relatos

Desconhecido Visitante

 Alguns anos atrás, junto com um grupo de amigos, costumava passar os feriados e finais de semana na casa de um outro amigo que vivia no interior. Os pais desse nosso amigo, chamado Jonas, viajavam com bastante frequência e, por vezes, enchíamos a casa dele levando o resto da turma, sempre que possível.

 Weber era um morador local que acabou por fazer amizade conosco e nos acompanhava nos constantes passeios pelo lugar. A maioria de meus amigos gostava dele mas eu, Fernaldo e Malaquias não conseguíamos simpatizar com esse rapaz. O achávamos um sujeito estranho. Parecia estar sempre pronto para fazer algo pra alguém assim que fosse possível. Tudo isso sem contar suas constantes tentativas de nos assustar, contando histórias de espíritos e fantasmas. E dizendo ser, ele próprio, capaz de ver uma aparição.

 No começo não demos importância às inconveniências de Weber mas, com o passar do tempo, sua influência nefasta começou se fazer evidente. Brigas e discussões começaram provocar separações em nosso grupo que, até então, era bastante unido. Malaquias, eu e Fernaldo acreditávamos ser tudo obra das maquinações desse cidadão. O que veio a se confirmar mais tarde.

 Numa noite estávamos todos assistindo a um filme na sala da casa de Jonas e, não me lembro porquê, discuti severamente com Fernaldo por algum motivo relacionado ao Weber. Dada a seriedade de nossa briga resolvi ficar sozinho para evitar que entrássemos em conflito físico e partíssemos para as vias de fato. Fui, então, para um dos quartos e tentei esfriar a cabeça na internet.

 Foi quando tudo aconteceu.

 Notei que havia uma sombra, parada na porta, olhando para mim. Pensei que fosse algum de meus amigos, até mesmo Fernaldo, vindo desculpar-se mas, quando me virei, contemplei um rapaz alto, de longos cabelos louros, aparentando ter entre vinte, vinte e cinco anos de idade. Antes que pudesse esboçar qualquer reação, o desconhecido veio em minha direção dizendo ter coisas muito importantes para me dizer. Assuntos que diziam respeito a minha família e amigos.

 Perguntei quem ele era, se tratava-se de algum tipo de brincadeira. Foi então que o sangue gelou nas minhas veias. Lembrei-me de que uma das histórias que Weber contava era de um espírito com o qual mantinha contato. E a descrição do tal espírito coincidia incrivelmente com a aparência do rapaz que estava na minha frente, naquele momento.

 E o estranho não parava. Continuava a falar coisas que nunca sequer havia comentado com ninguém. Assuntos de absoluto sigilo que levava comigo. Comecei a fazer um esforço sobre-humano para não me descontrolar e fugir de lá, gritando. Foi quando tomei uma decisão que, provavelmente, nunca mais repetirei na vida: Com um movimento rápido me virei na direção em que se encontrava e segurei num de seus braços. Ele ainda tentou evitar meu toque mas não teve tempo de desviar-se. Senti pele e carne quentes, como de uma pessoa normal. Soltei novamente e, mais uma vez, perguntei se era alguma brincadeira para me assustar.

 O rapaz insistia que precisava falar comigo de qualquer jeito. Dizia ter coisas de suma importância para me contar. Mas não quis saber de nada. Comecei expulsá-lo daquela casa usando a autoridade do Nome de Jesus! Ordenei que saísse de lá e não voltasse mais! Seja lá o que fosse aquela criatura não contava com minha fé em Deus Todo Poderoso.

 O desconhecido tentou argumentar mas não resistiu e deixou o quarto. Fui atrás dele, logo em seguida, mas, assim que saí no corredor, não o encontrei mais. O lugar estava vazio e aquele rapaz não teria tempo de chegar até a porta da sala. Se conseguisse alcançá-la, entretanto, seria notado pelo pessoal que estava lá. Parecia que havia sumido no ar.

 Fui até a sala e perguntei se alguém tinha visto alguma coisa. A resposta foi negativa. Cheguei, então, à conclusão de que aquela havia sido a gota d'água. Já havia suportado o suficiente. Retornei ao quarto e deitei para dormir. Assim que amanheceu fui embora daquele lugar. Nunca mais voltei.