O Flautista dos Girassóis

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          Seguiram por duas horas depois de achar um caminho bom para os cavalos, o que não foi difícil. Sulcos haviam sido formados no chão devido à passagem de viajantes e mercadores ao longo de anos, formando assim uma trilha larga o bastante para uma carruagem, que descia o leve declive desde a borda da floresta escura até chegar ao vale.

          Quando finalmente chegaram, já se aproximava da hora do almoço e o sol estava alto no céu, apesar da manhã fresca. Eastar olhou para aquela luz branca e já ia reclamar da fome quando o som chegou a seus ouvidos.

          Todos se viraram na direção da melodia, um som agudo e ritmado. Sem perceber, o jovem estelar começou a sorrir, divertindo-se com o ritmo da música. Era alegre e rápida, descendo a tons mais graves como que dando intervalos entre rodopios.

          Ele já estava extasiado quando se virou para Sindar.

          — Isso é uma flauta, não é?

          — Sim, e quem está tocando faz isso muito bem.

          — Eu não esperava ver músicos por essas bandas nesses dias, ainda mais com tudo isso que está acontecendo. — Allyn, que estava mais atrás, franziu o cenho. — Algo está errado.

          — Ora, não seja tão negativa, querida. — Remus deu um sorriso gentil e pôs a mão no ombro dela. — Agradeça por termos música para o almoço.

          Sean e Drun se agitaram em seus cavalos, sorrindo um para o outro enquanto se animavam com a perspectiva de um músico viajante e pela possibilidade de conseguirem alguns doces para a sobremesa. Foi decepcionante quando o velho mercador que encontraram na floresta escura disse que não tinha nenhum.

          Todos incitaram os cavalos e seguiram pela trilha que rumava para perto da cachoeira, aos poucos foram percebendo girassóis no caminho, como se tivessem sido plantados ali em pequenas rodas a cada metro da trilha. Arbustos ladeavam o grupo, e algumas árvores de galhos finos tinham suas folhas dançando a medida que o vento as instigava.

          Quando fizeram uma curva e finalmente viram onde a trilha se encontrava com o rio, descobriram de onde vinha o som.

          Um velho com cabelos brancos, que iam até a sua cintura presos por um rabo de cavalo, dava pulinhos com uma flauta na boca, a cada vez que seus pés tocavam o chão, um pequeno grupo de girassóis brotava ao redor deles. Estava de costas para os recém-chegados.

          — Olá, amigo! Como vai? — Edwin levantou a voz e acenou com o braço para que o velho se virasse para eles.

          O velho desafinou e tropeçou, caiu para a frente com a flauta em uma das mãos que usou para aparar a queda e acabou por quebrá-la.

          — Ai, minha úlcera! — gritou.

          Ficou de joelhos e olhou para a flauta quebrada.

          — Mais uma que se vai... — dizia enquanto a colocava no chão e pegava uma das duas outras que levava presas à cintura.

          Enquanto ele tentava se levantar, Eastar se viu boquiaberto junto com mais da metade do grupo. O jovem não achava que poderia encontrar alguém tão desastrado quanto ele. Ao menos parecia ser precavido, ou era normal um flautista carregar três flautas o tempo todo?

          O flautista se levantou e esticou as costas. Parecia ter quase o mesmo tamanho que o garoto estelar e seu corpo era mais forte do que poderia se supor para um homem daquela idade.

A Crônica de EastarOnde histórias criam vida. Descubra agora