Capítulo 1

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Apaixonada?! Não. Não sou de me apaixonar, ainda mais por uma menina. Encantada? Talvez. Não tem como não se encantar por ela, mas muita coisa mudou desde a balada do amor e paz. A gente se aproximou, passou a conhecer gostos, a compartilhar ideias, risos e quando eu já estava me acostumando com a sua presença na minha vida, mais uma vez o meu querido pai resolve estraga-la, como sempre fez, permitindo que a louca da sua mulher tivesse plenos poderes em demitir os melhores professores que a Escola Grupo já teve. Pra mim foi a gota, não tinha mais forças para lutar contra algo que não tinha fim. E foi aí que nos afastamos. Eu as vezes, confesso, sou impulsiva, ágio e só me dou conta do que fiz depois. Por incrível que pareça nunca me arrependi. Detesto a sensação de arrependimento, de ficar com aquele "E se" na cabeça. Mas tudo tem a primeira vez e nesse quesito não foi diferente. Assim que pisei na Escola Cora Coralina, sabia que tinha feito a maior burrada, mas claro que jamais iria admitir. Se já estava ali, iria com força total. Mas essa força acabou virando contra mim, e acabei sofrendo bullying simplesmente por que tenho um pouco mais de grana que a maioria que estuda lá. E eu tenho culpa? Bom, conforme os dias foram passando, eu e ela nos afastamos, não sei porque, não sei qual lado se afastou mais, só sei que senti falta, e como senti. E conforme também os dias na escola pública foram passando, as agressões, que até então só estava sendo verbalmente, passou a ser física. E é nesse ponto que eu me encontro hoje. Presa em uma cama, com a minha perna direita engessada e alguns arranhões pelo os braços. Vocês devem estar se perguntando, mas e os seus amigos, Keyla, Bené, Tato, K1? Porque eles não te ajudaram? Quando você é encurralada dentro do banheiro por três garotas, sem que ninguém saiba que eu estava lá, a ajuda seria um pouco impossível. De qualquer forma elas não tiveram muito tempo comigo e acabei sendo salva pela a minha anja Josefina, que ouviu o barulho e com a sua chave mágica extra, entrou e me socorreu. Foi um corre corre dessas meninas, que no final acabaram mesmo assim levando detenção, e um corre corre para me levar ao hospital, contactar meus pais e amigos. Acabei ficando só dois dias nos hospital, mas tive que ouvir sermões de minha mãe depois que ela percebeu que eu estava "bem". Eu sofro agressão e a culpa ainda é minha? Meu pai até tentou estar presente mas sinceramente ele era a última pessoa que eu queria por perto. Minhas amigas, ficaram comigo o tempo todo no hospital quando foram avisadas, até a Bené que detesta hospitais. O pessoal do Grupo também esteve lá para me dar uma força, principalmente MB, Felipe, Jota, Clara, Guto que confesso, estava com saudades de todos. Mas ainda faltava alguém nessa minha bolha de amor, como falou a Keyla. Faltava ela. A dona dos meus pensamentos desde do momento que aquelas meninas fecharam a porta me prendendo a parede. Não sei o motivo, mas ela foi a única na qual em pensava no momento em que uma delas chutou minha perna me fazendo quase perder os sentidos de tanta dor. Ela não foi ao hospital mesmo o Guto, melhor amigo dela jurando que a avisou. Ela nem apareceu na minha casa, ou me ligou, ou mandou mensagem na semana seguinte em que eu estava de repouso. Exceto no dia de hoje. Dia que eu a olhava olhando para todo os cantos do meu quarto menos pra mim. Dia que eu a olhava e percebia o quanto ela me fazia falta, do seu jeito estiloso de se vestir, da sua boca, seu cheiro que de longe invadiu meu ser, mas principalmente da sua voz que até aquele momento eu não tinha ouvido ainda. Já se passava alguns minutos que estávamos naquela briga de olhares. Eu buscando o dela e ela fugindo de mim. Sem mais delongas, decidi que estava na hora de quebrar esse silêncio que já estava me deixando agoniada.

- Oi. - Nossa como a minha voz está rouca.

- Não quero atrapalhar. Sua mãe disse que você tem estado cansada ultimamente. - Olha pra mim Samantha. Eu só pensava.

- Você não atrapalha em nada. - E nunca vai atrapalhar. Tá bom né pensamentos. - Eu só fiquei alguns dias sonolenta demais por causa da medicação que o médico passou pra dor na perna.

Bingo. Nesse momento eu tive o prazer de rever os olhos que a muito tempo eu percebi não conseguir viver sem.

- Ainda dói? - Ela perguntou, ainda parada no pé da porta, sem se aproximar. Com medo de algo que eu gostaria muito de saber mas com a preocupação estampada neles o que me alegrou bastante.

- Um pouco. Mas só quando eu me movimento demais mas não o suficiente para precisar mais dos remédios. - Se aproxime eu mentalizei. Deu certo com o olhar, pode dar certo também com a aproximação.

E de novo o silêncio apareceu. Poxa Sam, ainda sou eu, a Lica. Eu tinha vontade de gritar. Como em menos de três semanas a gente se perdeu tanto desse jeito?

- Bom eu só passei aqui mesmo pra saber como você estava. Os meninos, principalmente o MB, já estavam me perturbando pelo o fato de que eu ainda não tinha vindo te ver. - Ela disse e por mais que tenha me doído saber que ela só estava ali porque foi "obrigada", eu sabia que a culpada disso tudo era eu mesma.

- Obrigada pela a visita. - Falei, agora eu que estava desviando o olhar para o meu colchão.

- Se cuida Lica. - E dizendo isso foi embora. Sem um tchau, nem um até logo.

Nossa. Meu coração, se eu tenho um, ficou apertado nessa hora. Ao voltar o meu olhar para a porta, me imaginei correndo atrás dela e pedindo, fica, me olha direito, me escuta. Mas essa droga de perna me impossibilitava de fazer isso. Mas porque que eu não fiz quando ela estava aqui agora a pouco? Porque a presença dela é tão forte, causa um efeito tão grande em mim, que eu perco a noção de tempo e espaço. E nesse momento eu me arrependi. Nesse momento pela a primeira vez eu senti arrependimento por ter saído do Grupo, por não ter escutado quando ela me disse que me ajudaria a lutar novamente contra as loucuras da Manu. Nesse momento eu percebi que não tinha sido a overdose o pior erro da minha vida. E sim não ter parado e a ouvido, ter virado as costas pra ela. Esse sim foi o meu pior erro. A pior coisa. E agora estava eu toda quebrada, sem escola, por enquanto, e sem ela. É Lica, você só faz merda. Mas tenho conserto, não tenho?

A Cura (Hiato)Onde histórias criam vida. Descubra agora